RENATO ONOFRE E RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em reação às revelações feitas à Folha de S.Paulo pelo empresário Paulo Marinho, ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), senadores e deputados cobraram neste domingo (17) investigação para apurar se o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi informado antes pela Polícia Federal sobre operação contra ele e então integrantes de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.

O empresário e suplente de Flávio no Senado afirmou que um delegado da Polícia Federal antecipou em outubro de 2018 para o filho do presidente que a Operação Furna da Onça seria realizada.

A operação, segundo Marinho, teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa do segundo turno da eleição. Os desdobramentos da Furna da Onça revelaram um suposto esquema de “rachadinha” na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio) e atingiu Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações do empresário como “gravíssimas” e afirmou que elas revelam “a interferência de Bolsonaro e de sua família na Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo”.

Líder da minoria no Senado, ele disse que vai pedir que Paulo Marinho seja ouvido no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar as suspeitas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

“A nação não suporta em meio à uma pandemia, o presidente da República criando crises políticas e se envolvendo em todos os tipos de crimes. É urgente superarmos Jair Bolsonaro. O impeachment é urgente. Só assim reconduziremos o país a um caminho seguro”, escreveu o senador em rede social.

Randolfe afirmou ainda que vai protocolar na segunda (18) uma representação no Conselho de Ética do Senado contra Flávio Bolsonaro pedindo a apuração dos fatos. Se aceito, o pedido pode levar a abertura de um processo de cassação do senador.

Assim como Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro estuda pedir o depoimento de Paulo Marinho no inquérito que investiga a suposta interferência do presidente na Polícia Federal.

A avaliação é a de que o ex-aliado do presidente pode reforçar a narrativa de Moro. O ex-ministro disse à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação. Os advogados do ex-juiz da Lava-Jato irão esperar ate terça (19) uma manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República) sobre as declarações do empresário.

Também neste domingo, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro usou uma rede social para desqualificar as declarações do empresário. “Paulo Marinho, coordenador de campanha de Bolsonaro… . QG em sua residência…. …. Bolsonaro tratava mal os empregados… . Tudo é tão verdadeiro quanto a declaração de seu filho dizendo que foi ele que traduziu a conversa de Trump com o Bolsonaro.” ​

O empresário Paulo Marinho, 68, foi um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de “capitão”, como foi candidato a suplente na chapa do filho dele, Flávio Bolsonaro, que concorria ao Senado.

Os dois foram eleitos. Hoje o empresário está filiado ao PSDB, do governador João Doria (SP), e é pré-candidato a prefeito do Rio.
De acordo com ele, em dezembro daquele ano, Flávio o procurou “absolutamente transtornado” em busca de uma indicação de um advogado criminal. Marinho afirmou que o filho do presidente disse que soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz, seria deflagrada.

Foi avisado da existência dela entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro. Mais: os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, prejudicando assim a candidatura de Bolsonaro.

O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Fabrício Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília. Os dois, de fato, foram exonerados naquele período -mais precisamente, no dia 15 de outubro de 2018.

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