Nada é mais contrário à fé cristã do que uma concepção pessimista e derrotista da cruz: a nossa cultura moderna, secular e hedonista, considera a cruz “escândalo” e “loucura”. O lenho da cruz, porém, é sinal de esperança e de vida. Canta a Igreja: “Salve, ó cruz, nossa única esperança”. Foi prefigurada pela árvore do Paraíso terrestre; pela arca de Noé; pela vara de Moisés; pelo báculo de Aarão; pela arca da aliança; pela haste, erguida no deserto; pelo carro de fogo de Elias e pelo tau, sobre a fronte dos fiéis de Javé. Na perspectiva joanina, a cruz, não é o suplício de um condenado, mas o trono real, sobre o qual o Messias exerce a sua realeza, revelando a imensidão do amor do Pai e seu, pelo homem.

A cruz é a característica exclusiva do cristianismo: ela é o símbolo da vitória de Cristo sobre a desobediência de Adão, que gerou a morte. ”Era preciso que o Messias sofresse” – disse o Ressuscitado aos peregrinos de Emaús. Se Jesus foi suspenso à árvore, como um maldito, foi para nos remir da maldição. Na cruz, o sangue de Jesus substitui o sangue dos animais: Ele é o verdadeiro e definitivo Cordeiro pascal. O homem condena a si mesmo, quando, recusando Cristo, recusa sua oferta de amor, desprezando o Único, que quer e o pode salvar.

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Canta o poeta cristão, Venâncio Fortunato: “Fulget crucis misterium” (resplandece o mistério da cruz). “Contemplarão Aquele que trespassaram” – anota João. “Não foram os guardas do templo – diz Santo Agostinho –  que entregaram Jesus aos Sumos Sacerdotes; não foram os Sumos Sacerdotes, que entregaram Jesus a Pilatos; não foi Pilatos que entregou Jesus aos algozes; não foram os algozes, que entregaram Jesus à morte, mas, foi o Pai celeste”. Centro de gravidade da vida de Cristo é sua cruz gloriosa: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos”;quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”;

Buscai Jesus de Nazaré, o crucificado? Ele não está aqui ressuscitou!” – disse o anjo às mulheres. Ele, agora, se encontra nos crucificados da vida: desempregados, menores abandonados, doentes, idosos, negros, índios e nas vítimas da exclusão social; quando praticamos “a fraternidade e a amizade social”;   todas as vezes que seguimos os ditames  da nossa reta consciência; quando, recusando o que é mais fácil e vantajoso,  escolhemos  o que é certo.

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O mundo nunca poderá entender a cruz, pois ela contraria à lógica do egoísmo, da posse desenfreada dos bens terrenos, do espírito de dominação e vangloria. A cruz é uma força libertadora, que constrói o homem novo e a nova sociedade: o povo de Israel sonhava com a restauração do Reinado de Davi, Jesus, ao invés, com a conversão do coração a Deus e ao próximo. “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”: Cristo, a quem O segue, ensina a se comprometer com a reconciliação, a partilha com os empobrecidos e “a fraternidade e a amizade social”.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES)

 

Foto do destaque: Arquivo/TC Digital

 

 

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