Com atuação em todas as eleições diretas no período da redemocratização do Brasil, o aposentado Alfredo Moreira Júnior está distante apenas das atividades profissionais. Aos 89 anos, tem disposição de sobra para trabalhar como voluntário e ainda presidir seção nas eleições deste ano, função que realiza, segundo ele, com espírito cívico.

“Sempre trabalhei como mesário, desde a época em que a votação era no papel, não tinha a urna eletrônica. Participava tanto na coleta dos votos [nas seções eleitorais] quanto na apuração. Pretendo sempre colaborar com o Tribunal Eleitoral e trabalhar para o bem da sociedade em geral” – detalhou em entrevista à Rede TC de Comunicações.

Moreira, como é conhecido, é o voluntário mais velho do Espírito Santo, único da faixa etária de 85 a 89 anos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele completa 90 anos em janeiro de 2023 e também integra uma seleta lista de mesários mais velhos do Brasil. Ao todo, são 17 pessoas das faixas etárias acima dos 85 anos. São 11 com idade entre 85 e 89 anos, dois de 90 a 94 anos, três com idade entre 95 e 99 anos, e tem até um registro de mesário com idade acima dos 100 anos.

URNAS ELETRÔNICAS
Ao citar as urnas eletrônicas, Moreira ressalta que “melhorou da água para o vinho”, após a adoção do equipamento pela Justiça Eleitoral brasileira. De acordo com ele, antes da tecnologia ser implantada, a tarefa dos mesários era muito árdua. “Verificar se os votos eram válidos, anular os inválidos, entre outras coisas. Era muito trabalhoso”. As apurações, inclusive, demoravam dias ou até semanas.

Ele explica que os votos eram considerados nulos quando não era possível ler o que o eleitor havia escrito na cédula. Neste caso, elas eram carimbadas com a palavra NULO e separadas dos votos válidos. Na época, lembra que as apurações eram feitas em quadras de esporte ou em escolas, sempre com a presença de candidatos, delegados de partidos e outras autoridades.

Lembra ainda que chegou a atuar nas eleições na região do antigo contestado, na cidade mineira de Mantena, onde eram contados, inclusive, os votos da porção capixaba, de Barra de São Francisco. “As apurações [das eleições no Espírito Santo] eram feitas todas em Mantena [Minas Gerais] e era onde eu trabalhava. Havia muita impugnação de urnas e o juiz só confiava em mim para apurar aquelas urnas impugnadas” – frisa.

Foto de divulgação

HISTÓRIA MARCANTE
Na época em que os votos eram feitos em cédulas, antes das urnas eletrônicas, Moreira conta que passou por um episódio marcante. Relata que em uma determinada eleição, um vizinho dele, que era candidato, não gostava do apelido que tinha e, portanto, não registrou a opção na Justiça Eleitoral.

No dia da apuração, conta que o referido candidato, que acompanhava a contagem dos votos, percebeu que ele carimbava como NULO os votos que continha o apelido.

“Ele brigava se chamassem ele pelo tal do apelido. Estavam votando no apelido e não no nome de batismo dele. Na hora da apuração, fui carimbando e anulando os votos quando ele percebeu e reclamou comigo. Ficou doidinho. Deixei claro: a sua obrigação era ter registrado o apelido”, detalha.

Foto de divulgação

“Não gosto de política”

Apesar dos anos dedicados ao trabalho voluntário à Justiça Eleitoral, Moreira afirma não se interessar pelas discussões políticas. “Não gosto de política, nem discuto. Nunca me filiei em partido algum. Fundei sindicato em cidades que morei, já tentaram me colocar como candidato, mas nunca quis. Não gosto de política, mas gosto da eleição” – reforça.

Moreira detalha que, em São Mateus, atua desde as eleições municipais de 1990. No município criou e educou os filhos Cristina, Agnes e Marco Antônio, sempre ao lado da esposa Dores Belo Cruz Moreira.

Cristina, filha mais velha, é advogada e seguiu os passos do pai no serviço voluntário à Justiça Eleitoral. Nesta eleição, assim como o pai, atuará como presidente de seção. As dicas para a filha são as mesmas que Moreira garante passar para a equipe que divide a sala com ele no dia da votação.

“Sempre faço uma ressalva. Explico que é para trabalhar com seriedade, imparcialidade, não tomar partido. Respeito em primeiro lugar. Eu recebo os eleitores com alegria. Quando chega uma anciã ou uma pessoa com alguma dificuldade, procuro facilitar ao máximo para ela votar”.

O mesário destaca ainda que os voluntários, na seção que ele preside, não ficam todo o tempo exercendo a mesma função. “Distribuo as tarefas e vou fazendo rodízio para que todos possam conhecer todas as funções”.

Apesar de ficar atento à organização, diz que o que mais gosta é o contato com o eleitor. “Recebo todos eles, cumprimento para tirar aquela tensão, abraço, brinco. Toda eleição é pegada. Não me impressiona ou me causa medo. Tenho facilidade de resolver qualquer atrito. Até mesmo pela experiência em todos esses anos, sei que os problemas surgem e são resolvidos com facilidade” – complementa.

 

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