BEATRIZ VILANOVA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ser mãe de primeira viagem já é difícil, e, em confinamento, mulheres são testadas até o limite para conseguirem cuidar de seus filhos enquanto trabalham, cuidam da casa e mantém a sanidade mental. A pandemia do novo coronavírus sem dúvidas pegou todos de surpresa, e dificultou a vida de quem precisa cuidar da sua saúde e de seus bebês.

Foi o que aconteceu com a barista Jessica Storti, 30, que tem um filho de seis meses e tem se virado nas últimas semanas apenas com a ajuda do marido, Lucas, 25, pai de seu filho. Para ela, não poder ter a ajuda de amigos ou familiares neste período de crescimento do bebê, Noah, tem sido a sua maior dificuldade.

“Meu marido ajuda a cuidar do bebê quando não está trabalhando, e, aos finais de semana, um de nós cuida dele enquanto o outro limpa a casa ou cozinha”, conta. “É desafiador, mas eu aprendi a fazer muitas coisas com um braço, enquanto com o outro seguro o bebê.”

Quem não teve tempo de adaptação à rotina de mãe antes da quarentena foi a administradora Evelinne Lopes, 34, que teve a pequena Catarina em meio à pandemia, em 17 de abril. “A gente jamais esperava essa situação no nascimento dela. Tínhamos feito lembrancinhas de maternidade, falei para todos nos visitarem. É a primeira neta da minha mãe, e ela estava muito ansiosa para ficar com ela o tempo todo”, diz Lopes, ao lembrar que as avós puderam ver a criança apenas através da janela do carro.

Esperando pelos dias mais difíceis, Lopes foi surpreendida pela família, que preparou um presente à distância para receber o bebê. No dia em que ela voltou para a casa, dois dias após o parto natural, sua mãe reuniu familiares para fazer uma homenagem ao bebê na rua do prédio em que a filha mora, no 3º andar -cada um com sua máscara, álcool em gel e evitando o contato, claro.

Mesmo com os três andares e através de uma varanda envidraçada, os familiares chamaram a pequena Catarina com gritos e puderam vê-la pela primeira vez, recebendo-a com uma faixa que dizia: Bem-vinda Catarina / Você é sinal de amor, alegria e esperança para nós.

“Foi super emocionante, pois chegamos tristes de não poder ter a família perto”, lembra a mãe. Desde então, nenhum familiar viu a criança de perto, e a mãe conta com a ajuda do marido, o advogado Francisco Fonseca, 35, que tirou férias para ajudar nestas primeiras semanas, além de usar serviços de delivery e refeições deixadas na portaria de seu prédio pelas avós da filha.

A administradora conta que teve um pós-parto tranquilo, mas percebeu em muitos grupos de mães nas redes sociais que a depressão pós-parto aflinge muitas mulheres, especialmente por causa deste período de isolamento. A analista comercial Edna Reis, 29, tinha medo de entrar para essa estatística, uma vez que passou por este período de depressão com seu primeiro filho, Murilo, 7, e acabou descobrindo uma gravidez não planejada que deu à luz Heloísa, no dia 29 de março.

“Pra mim, a imagem da gravidez era aquilo. Eu tinha medo de engravidar novamente e ser igual ou pior. Sempre falei que não tinha estrutura emocional para passar por tudo aquilo novamente”, conta. “Mas nós aceitamos e nos adequamos. Acabei optando pela cesárea, porque estava muito preocupada com a pandemia. A cada dia que se passava os números aumentavam, e eu precisaria ficar em um hospital, o ambiente menos adequado para ficar neste momento. Fiquei com muito medo”.

Com a ajuda do marido, Alex, 32, ela tem descoberto a importância da parceria entre casais, e essa “nova experiência”, completamente diferente de sua primeira gravidez. “Tenho curtido mais, apesar da quarentena, que deixa um vazio, porque a gente quer contato com a família. Mas é pelo bem, e vai passar”, diz.

DIA DAS MÃES VIRTUAL

Com a família distante, o Dia das Mães neste domingo (10) será diferente para a maioria delas -em parte, por agora serem oficialmente mães, mas também porque não celebrarão com as tradicionais reuniões familiares. As novas mamães farão uma comemoração reduzida, mas especial, com seus respectivos maridos e bebês. “Apesar de nesta quarentena termos que ficar em isolamento, nós temos motivos para comemorar. Não podemos passar em branco”, diz Edna Reis.

Para driblar as saudades da família e conseguir aproximá-la do novo integrante, a saída é fazer videoconferências por aplicativos como Zoom, Hangouts e Skype. Jessica Storti afirma que todos os dias manda fotos ou faz chamadas de vídeo com os avós de Noah, para que eles acompanhem o crescimento do bebê, mesmo que de longe.

Evelinne Lopes usa do mesmo artifício, e criou até um perfil no Instagram apenas para publicar fotos do dia a dia de Catarina, com registros da troca de fralda, banho etc. “Ainda bem que temos hoje esses recursos, que ajudam bastante”, diz ela. Reis aproveita as facilidades da tecnologia até para fazer consultas com um pediatra, garantindo um bom desenvolvimento do bebê, sem ter que expô-lo ao mundo exterior.

Quando o isolamento acabar, a maioria delas já sabe o que fará: “Desacelerar na vida. Antes da quarentena, eu estava sempre tentando ter uma agenda cheia e sair muito. Estive aproveitando esse tempo em casa sem planos, apenas aproveitando o tempo em que estou com meu bebê”, diz Storti. “A primeira coisa que vamos fazer é abraçar todo mundo e ficar perto o máximo possível”, acrescenta Lopes.

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