A Igreja sempre ensinou a virgindade perpétua da Mãe do Messias (Concílio de Latrão, ano 649). “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui conosco?” – palavras, que manifestam o sarcasmo dos nazaretanos a respeito de Jesus e de sua Mãe, que, aos olhos deles, eram pessoas comuns. O Messias, que eles sonhavam, de fato, devia ser um superdotado, que, com poderes extraordinários, libertaria o povo de Israel da opressão dos Romanos.

A interpretação fundamentalista da Bíblia – rejeitada, com veemência, por todos os Padres da Igreja, por ser a Bíblia um livro profético – leva a interpretar as palavras dos nazaretanos, como se Maria, além de Jesus, tivesse tido outros filhos. Alguns admitem a virgindade dela, até, porém, o nascimento de Jesus, por ser Ele o próprio Filho de Deus, mas, depois, ela teve outros filhos. É significativo o que revela o evangelista João: antes de morrer, Jesus deixou a João, o discípulo predileto, o cuidado de sua mãe, e não a um de seus irmãos, pois Ele não os tinha.

As línguas bíblicas, por serem antigas, não conseguem, como as modernas, determinar com exatidão a variedade de consanguinidade, entre as pessoas da mesma família. A expressão “irmãos”, na língua aramaica, tem um sentido amplo: significa filhos dos mesmos pais, mas, também, parentes mais próximos, pessoas com ascendência comum, em particular, os primos. Os 4 irmãos, de que fala Marcos, não são filhos de Maria de José, mas, de Maria de Cleofas – conforme atestam os Evangelhos. Impressiona o início da carta de São Judas Tadeu (um dos 4 irmãos), em que ele se declara servo e não irmão de sangue de Jesus: “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”.

Já Santo Agostinho (354-430) respondeu a esta interpelação, escrevendo: “Lot é chamado de irmão de Abraão, embora fosse filho do irmão dele. Abraão era tio paterno de Lot e, no entanto, as Escrituras os chamam “os dois irmãos”. Da mesma maneira, Jacó tinha um tio chamado Labão, que era irmão de Rebeca, mãe de Jacó, esposa de Isaac: o tio e o sobrinho são chamados de irmãos. Todos os parentes de Maria, portanto, eram irmãos do Senhor”.

A virgindade é um dom precioso do Espírito, dado a alguns, em vista do bem comum. Deus ama a humanidade – atestam as Escrituras – com amor apaixonado, como o esposo ama a sua esposa. Maria é a “amostra grátis”, o “ensaio” do Reino, a sociedade alternativa, que Cristo veio inaugurar com sua Ressurreição: “imagem perfeitíssima do que cada um de nós deseja e espera de ser” (Concílio).

Ela – “a nova Eva”, a “Kekaritomene” (a cheia de graça), a “Panáguia” (toda santa), a “toda pulchra”, (Imaculada), a “Odigitria” (aquela que mostra o caminho) – foi aclamada, desde sempre, pelo povo cristão a “Aeiparthenos” (a sempre Virgem) Maria. Sua virgindade profetiza a origem divina de seu Filho, como, seu celibato consagrado e o de seus discípulos, antecipação daquele mundo futuro, que haverá nos últimos tempos.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)

 

Foto do destaque: TC Digital/Arquivo

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