O Evangelho reivindica o valor da mulher contra tudo o que atenta à sua dignidade de pessoa humana: grande foi o papel, que elas exerceram, ao longo dos tempos, a favor do povo de Israel e da humanidade. Deus –diz a Bíblia– criou o homem e a mulher: a ambos confiou, sem discriminação alguma, a tarefa da reprodução e da conquista do mundo. Mulheres extraordinárias marcaram a história do povo hebreu: Maria, irmã de Moisés, diretora do coral das mulheres, comunicava com Deus de forma privilegiada; Débora:  importante foi seu papel na posse da Terra Prometida; Hulda: contribuiu grandemente na reforma religiosa de Josias. Sara, Rebeca, Raquel, Judite, Ester, Jael, Débora, Tamar, Raab, Rute, Betsabé: nelas, Deus fez-se presente e operante.

Todos os homens do Antigo Testamento anunciam Jesus e todas as mulheres prefiguram Maria. A solenidade da Imaculada Conceição celebra um dos privilégios marianos mais bonitos. Todos nós recebemos a graça salvadora de Cristo –remissão da mancha original, filiação divina e efusão do Espírito Santo–, pelo sacramento do batismo. À Virgem Maria, ao invés, foi dada a plenitude de todos os dons messiânicos, em vista de sua missão especial: revestir da carne humana o Verbo Eterno do Pai.

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O episódio evangélico da Anunciação traz implícito o concebimento imaculado de Maria. O anjo a saúda com um nome novo e exclusivo: “cheia de graça”.  O povo cristão, desde sempre a venerou com este título: “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós”. Papa Pio IX, em 1854, usando de suas prerrogativas petrinas, declarou a Imaculada Conceição de Maria dogma de fé. O grande teólogo inglês, Duns Scoto, com três verbos, demostrou a verdade deste privilegio da Mãe do Messias: “Potuit, decuit, ergo, fecit” (Deus podia; era conveniente; então, Ele fez). Santa devia serdesde a sua concepção – aquela que daria o seu DNA ao Verbo Encarnado.

Precisamos descobrir, hoje, a importância da presença e missão de Maria em nossa vida cristã, na Igreja e na história do mundo. A primeira e a mais perfeita discípula do Senhor nos ensina a “crer”: sua fé não é a alienada, nem passiva, mas, livre, ativa e responsável, de abertura para com Deus e de solidariedade para com o próximo, sobretudo, pelas categorias mais carentes e excluídas, como ela cantou no “Magnificat”. Conheceu a fuga, o exílio, a pobreza, a dor, o trabalho, a oração, o louvor carismático e a denúncia profética, mostrando audácia e criatividade de uma mulher de fé, que viveu em cheio a espiritualidade do Reinado de Deus, que seu Filho fundou.

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No seu “sim” incondicional e na sua entrega total ao projeto salvífico de Deus, Maria mostra-nos que a fé é dinâmica:  pode crescer e se aperfeiçoar, como se enfraquecer e desaparecer, se não a cultivarmos. Uma autêntica devoção mariana consiste em seguir seu exemplo: imitar sua fé engajada; servir ao próximo, prevenindo-o em suas necessidades; glorificar a Deus, por sua infinita misericórdia e, sobretudo, esforçar-se em ter constantemente os olhos fixos em Jesus, nosso único Senhor e Salvador.

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(Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: TC Digital

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