ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O futebol é o mesmo em todos os lugares. O gramado é verde, a bola é redonda, as dimensões das traves são imutáveis.
É um conselho que o coordenador de goleiros das categorias de base do River Plate costuma dar aos garotos. Ubaldo Fillol, 69, campeão do mundo em 1978 e funcionário do clube argentino, afirma a eles que sempre colocou esse pensamento em prática. Não era influenciado pela torcida ou tamanho do jogo.
Havia uma exceção.
“Entrar em campo com o Maracanã lotado foi uma das maiores emoções que tive na carreira. E foi o Flamengo que me proporcionou isso. Não há como esquecer”, diz o ex-goleiro, um dos mais importantes do futebol sul-americano.
No sábado (23), Flamengo e River Plate decidem, em Lima, a Libertadores. E ele esteve nos dois lados dos finalistas.
Fillol era referência e ídolo do clube de Buenos Aires, onde passou dez anos da carreira (entre 1973 e 1983). Até que brigou com a diretoria e foi para o Argentinos Juniors. Ficou poucos meses no clube. Surgiu proposta do Flamengo.
“Eu estava no vestiário quando o presidente do Flamengo apareceu com a camisa para fazer fotos”, lembra.
Conhecido por “Pato”, Fillol ficou no Rio de Janeiro entre 1984 e 1985, quando foi vendido ao Atlético de Madri por R$ 500 mil em valores atuais. Sua passagem pelo Brasil teve como único título a Taça Guanabara de 1984.
Contratado para substituir Raul Plassman, Fillol foi a três Copas (1974, 1978 e 1982) e foi campeão em 1978. Poderia ter sido bi em 1986, mas após disputar toda a campanha das eliminatórias para o Mundial do México, não entrou na lista de Carlos Bilardo. “Sobre isso não quero falar. Já passou.”
O motivo principal para sua contratação pelo Flamengo foi a Libertadores de 1984, quando a equipe sonhava conquistar o título pela segunda vez. A eliminação foi na semifinal, diante do Grêmio.
Os filhos aprenderam português, sua mulher, Olga, adorou morar no Rio de Janeiro.
“Joguei com Zico, um jogador bárbaro. Um craque.”
Mas o Flamengo não ocupou o lugar que o River Plate tem no coração do goleiro. No Monumental de Nuñez, ele conquistou sete títulos.
No último minuto da final da Copa de 1978, defendeu chute de Rensenbrink que evitou a virada da Holanda e levou a partida para a prorrogação. A Argentina venceu por 3 a 1.
“O jogo mais difícil foi contra o Brasil [0 a 0]. Foi um dos momentos mais tensos da minha carreira. Se perdêssemos, seríamos eliminados. Além da rivalidade, sempre houve também respeito mútuo. A Argentina é uma das raras seleções que o brasileiro respeita.”
Além da história, por trabalhar no clube e pela projeção que lhe deu, Fillol terá mais um motivo para querer a vitória do River: Marcelo Gallardo.
“Guardiola falou que Marcelo é um dos melhores do mundo e tem razão. Olhe o que ele fez pelo River. É um treinador muito especial, alguém em quem os jogadores e a torcida confiam cegamente.”
Com a camisa do Flamengo, Fillol fez 71 jogos –40 vitórias, 20 empates e 11 derrotas.
Quando saiu para Madri, a relação dele com a diretoria já não era das melhores. Havia ido a Buenos Aires e se recusado a voltar porque o clube negara seu pedido para treinar com a seleção. Foi quando surgiu a proposta do Atlético.
Fillol guarda boas recordações do Rio de Janeiro. Mesmo que a memória o traia. Cita como um momento inesquecível a estreia no “Maracanã lotado” contra o Palmeiras, pelo Brasileiro de 1984. Dirigido por Claudio Garcia, o time venceu por 1 a 0. O público foi de 34.649 pagantes –a capacidade total na época era para mais de 100 mil.
UBALDO MATILDO FILLOL
Fillol, 69, é considerado um dos maiores goleiros da história da Argentina. Foi campeão do mundo com a seleção em 1978 e conquistou sete Campeonatos Nacionais pelo River Plate. Revelado pelo Quilmes, passou por Racing, onde ganhou uma Supercopa, Atlético de Madrid, onde conquistou uma Supercopa da Espanha, e defendeu também Argentinos Juniors, Flamengo e Vélez Sarsfield.
