A vida cristã é dom, conquista e missão. Deus, além de nos dar o dom da existência e nos chamar a fazer parte de sua família trinitária, nos convoca para integrar a Igreja de seu Filho, Jesus Cristo, fundada por Ele para dar continuidade à sua missão no mundo. As Escrituras revelam que todo chamamento de Deus é prova de que Ele confia em nós e conta conosco para um serviço generoso a favor do nosso próximo: o duplo “faça-se” de Cristo e de Maria, de fato, se converteram em missão a favor dos outros. A todos os discípulos Jesus dirige o apelo: “Vão para o mundo inteiro e anunciem a Boa Nova do Reino: façam de todos os povos meus discípulos”.

No ano 380 dC., o imperador romano, Teodósio, impressionado pela riqueza e beleza da fé cristã, declarou o cristianismo religião de Estado, proibindo os cultos pagãos: parecia um dia radioso para o cristianismo, foi, ao invés, um grande retrocesso – como atesta a história – pois a Igreja perdeu a sua liberdade e credibilidade. Nasceu, assim, a cristandade – o Estado confessional – onde a fé é transmitida por tradição e não por conversão. Cume deste regime de cristandade foi o período colonial, em que o padroado (1456-1889) substituiu a Igreja na evangelização das terras descobertas.

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Com a revolução francesa (1789), o Estado se separou da Igreja. Por força das circunstâncias, ela se identificou com a hierarquia. A missão de evangelizar, porém, Cristo a confiou a todo o povo cristão: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judeia, na Samaria e até os confins mais distantes da terra”. O Concílio Vaticano IIº (1962-1965), no Decreto “Apostólicam Actuositatem”, e o Sínodo dos Bispos de 1987, na Exortação Apostólica “Christifideles Laici”, devolveram aos cristãos-leigos e leigas a sua missão específica, que abrange o vasto campo social: edificar uma sociedade livre, humana e solidária, pelo testemunho de suas vidas e por uma atuação competente.

E fundamento desta missão são os três sacramentos da iniciação cristã: o batismo, pelo qual é nos doada a graça da fé e a elevação à dignidade de filhos de Deus; o Crisma, que nos consagra a templos do Espírito Santo e nos são partilhados os sete santos dons; a Eucaristia, força e alimento em nossa caminhada de fé. O apostolado, portanto, é um direito e um dever de todo cristão e não uma “concessão” benévola da hierarquia. Tertuliano, já no século IIIº, testemunhava dos primeiros cristãos: “Perante seus perseguidores, admiravelmente, confessavam sua fé, enfrentando o martírio, com serenidade e alegria”.

A Igreja, no Brasil –durante séculos, recebeu a generosa ajuda de missionários, vindos do exterior– é chamada, hoje, a retribuir a dádiva recebida, partilhando o Evangelho com outros povos, que ainda não conhecem a Cristo e são privados da graça de sua redenção. O grande desafio da Igreja, hoje, é passar de uma Igreja-cristandade, para uma Igreja-testemunhal-confessante –como nas comunidades cristãs do início do cristianismo– e a fazer suas as palavras do apóstolo Paulo: “Ai de mim se não evangelizar”, pois a fé cresce, doando-a.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

Foto do destaque: TC Digital

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