SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos notificaram a ONU (Organização das Nações Unidos) na segunda-feira (4) de que vão sair do Acordo de Paris, a principal iniciativa global para frear as mudanças climáticas.
Assinado em 2015 na capital francesa por cerca de 200 países, o tratado criou o compromisso de reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa e esquentam o planeta. Na época, Síria e Nicarágua haviam ficado de fora, mas depois entraram.
A notificação marca o primeiro passo formal de um processo que levará um ano. Assim, os EUA devem deixar oficialmente o acordo em 4 de novembro de 2020, um dia após a eleição presidencial.
A saída já havia sido anunciada pelo presidente americano Donald Trump em junho de 2017. Na época, Trump alegou defender os interesses do país, uma “reafirmação da soberania americana”. “”Fui eleito para representar os eleitores de Pittsburgh [cidade industrial no Estado da Pensilvânia], não de Paris”, disse.
Em comunicado, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que o acordo representaria “um fardo econômico injusto imposto aos trabalhadores, empresas e contribuintes americanos”.
Ele ainda declarou que o país faz sua parte na luta contra as emissões de gases-estufa e prometeu que Washington proporia um modelo realista e pragmático nas discussões internacionais sobre o clima.
Sob a presidência de Barack Obama, um dos grandes fiadores do Acordo de Paris, os EUA tinham se comprometido a reduzir as emissões dos gases-estufa de 26% para 28% até 2025, em comparação com 2005.
Trump já revogou as regulamentações da era Obama destinadas a conter gases de efeito estufa de usinas de energia, poços de petróleo e gás e escapamentos de automóveis. Também emitiu regras que facilitam a operação de usinas a carvão antigas por mais tempo e a entrada em operação de novas usinas.
Agora, a saída formal dos EUA do acordo deve mudar a forma como outros governos, sobretudo os de países em desenvolvimento, como China e Índia, tratam o compromisso. Durante as negociações, esses países evocaram o “direito de poluir” por mais tempo, já que sua industrialização e sua consequente ação poluidora é mais tardia.
Sob as regras das Nações Unidas, China e Índia não são obrigados a reduzir as emissões. Eles concordaram em fazê-lo em grande parte porque os EUA também concordaram. Com os EUA fora, outras nações industrializadas terão que pressionar essas potências emergentes.
“A União Europeia é a linha de frente aqui, isso é óbvio “, disse o presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, em entrevista recente. “A questão é: os outros vão ouvir a Europa?”
Até o momento, das 197 partes do tratado, 187 ratificaram o tratado. A ratificação significa que o documento assinado passa a ter valor legal.
Mas, sem a superpotência do mundo, será muito mais difícil manter a pressão para os tipos de mudanças econômicas necessárias a fim de evitar os piores efeitos do aquecimento global.
“Estamos nos preparando para um plano B”, diz Laurence Tubiana, embaixadora da França durante as negociações do Acordo de Paris, em 2015, e uma das principais arquitetas do tratado.
Nos EUA, ambientalistas estão pressionando os estados, cidades e empresas a reduzir as emissões e migrar para fontes de energia renovável, como a solar e a eólica. Centenas de governos e empresas locais fizeram promessas de cortar emissões em um movimento chamado We Are Still In (“ainda estamos dentro”), que espera mostrar que os americanos estão comprometidos com o Acordo de Paris, mesmo que o governo não esteja.
Tais esforços estão se expandindo internacionalmente. Enquanto o Acordo de Paris se concentrava nos governos nacionais, Tubiana disse que as ações dos estados, províncias, empresas e outros estão conduzindo algumas das mudanças mais concretas. O desafio seria criar maneiras de transformar todas essas promessas em um sistema capaz de reduzir as emissões globais.
“Não importa o que aconteça nos EUA, mesmo que um candidato democrata seja eleito. Temos que nos preparar.”
Quase todos os candidatos presidenciais democratas prometeram reingressar no Acordo de Paris, caso eleitos, mas analistas apontam que, mesmo que os EUA elejam um democrata em 2020, a reentrada não será tranquila.
O Acordo de Paris é o segundo pacto global sobre mudança climática ao qual os EUA aderiram sob um democrata e que depois foi abandonado sob um republicano. George W. Bush retirou os EUA do Protocolo de Kyoto de 1997.
Jonathan Pershing, que trabalhou no governo Obama como enviado especial do Departamento de Estado para as mudanças climáticas, disse que os outros países temeriam que o pêndulo de apoio à ação climática pudesse recuar em outro ciclo eleitoral.
“Os EUA terão que conviver com essa desconfiança.”

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