Os nascidos como eu nos anos 1960 (geração “X”) temos certa dificuldade em nos adaptarmos por completo aos novos tempos diante da expansão exponencial das tecnologias disponíveis na atualidade e da precariedade que se estabeleceu em relação à existência humana na esteira do pós-2ªGM e, especialmente, da queda do Muro de Berlim (1989). Fatos históricos esses que redundaram no que se convencionou denominar “crise da pós-modernidade”, cujos processos e fenômenos representados pela globalização e pelo domínio do capital encerram o fracasso da humanidade sob o ponto de vista moral e ético e oferecem cenários pouco animadores aos que acreditam na construção da igualdade social.

A geração seguinte (“Y”) ao representar os nascidos no início dos anos 1980 até o início dos anos 1990 é marcada por avanços tecnológicos inimagináveis e de comodidades em termos de qualidade de vida. Por sua vez, a geração “Z”, aquela dos nascidos entre o início dos anos 1990 e 2010, é a que foi responsável por incorporar essa expansão tecnológica como um todo e os novos meios de comunicação em particular (produção, armazenamento e distribuição de conteúdos). Sem dúvida, ambos alteraram sobremaneira nosso modo de vida e nossa relação com o mundo (família, trabalho, consumo, meio ambiente etc.). Daí a razão de utilizarmos um termo do jargão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para nominar de maneira sui generis o texto, referindo-nos ao armazenamento e à proteção de dados e informações de nosso acervo pessoal (fotos, documentos, mensagens etc.) em um local alheio aos nossos computadores ou celulares.

Por um lado, se esse aparato tecnológico capaz de diminuir distâncias e economizar tempo naturalizou-se mais facilmente entre os nativos das novas gerações pela conectividade que proporciona; por outro, tem-se verificado a intensificação nessas gerações de uma cultura que reduz o uso da comunicação verbal e dificulta a fluência da interação social (face to face) de outrora. No passado anotávamos em uma caderneta as compras efetuadas na padaria ou mercearia e as relações comerciais se davam por meio da confiança mútua – afinal tratávamos direto com o “dono” do negócio para resolver nossas demandas e satisfazer nossas necessidades, sem a mediação de terceiros ou de máquinas/algoritmos baseados na A.I. ([artificial intelligence] inteligência artificial); ciência que se ocupa em desenvolver dispositivos tecnológicos para simular o raciocínio humano.

Nos planos da comunicação e do mercado chegamos ao ponto de um simples compartilhamento de mensagens no ambiente de um restaurante, por exemplo, reflete quem nós somos, o que pensamos e fazemos (nossos hábitos, preferências, ideologias, forma de consumir etc.). Isso significa dizer que dados e informações sobre locais frequentados, a forma como nos deslocamos, pagamento de impostos e movimentações financeiras ou aquilo que consumimos interessam a empresas e aos entes governamentais na formulação de estratégias organizacionais que atendam seus objetivos.

E é nesse cenário que se desenrolam os conflitos presentes na dimensão das relações sociais (familiar, laboral etc.) da atualidade e nas transformações do modo de vida das pessoas no âmbito da sociedade moderna que de certa forma modificaram também nosso ethos social (conjunto de valores e crenças coletivos) enquanto filosofia que nos move e nos conforma. Alguém poderia antever há 10 ou 15 anos a forma [digital] como iríamos consumir e utilizar serviços ao encomendar uma pizza ou ao solicitar algum meio de transporte? Diante de toda ordem de pesquisas realizadas no momento no campo das ciências, uma gama muito grande de novidades/invenções ainda está por vir – apesar dos retrocessos no que se refere ao esgotamento do projeto humano de vida e à falência de narrativas ou esquemas que expliquem melhor nossas realidade e existência. É esperar para ver!

(*Johnny Cardoso é jornalista formado pela Unisinos e cientista social pela Ufes, com mestrado em Comunicação Social pela Umesp)

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