GUSTAVO URIBE E DANIEL CARVALHO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A escolha do cardiologista Marcelo Queiroga para o comando do Ministério da Saúde não foi bem recebida por integrantes da base aliada de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

As sugestões feitas pelo bloco do centrão foram ignoradas por Bolsonaro em detrimento da indicação de um nome do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito do presidente.

Sob pressão do centrão, Bolsonaro anunciou na segunda-feira (15) a saída do general Eduardo Pazuello, enquanto partidos da base aliada apoiaram dois nomes para o lugar do militar, que é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

O primeiro foi o deputado federal Luiz Antonio Teixeira (PP-RJ), conhecido pelo apelido de Dr. Luizinho. A indicação da cúpula do PP, no entanto, foi refutada pelo presidente, que queria um nome técnico para o posto e que não tivesse vinculação política.

A alternativa encontrada foi a sugestão do nome da cardiologista Ludhmilla Hajjar, que contou com a chancela pública do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Nos encontros que tiveram, contudo, Bolsonaro e Ludhmilla se desentenderam, o que inviabilizou uma indicação.

Com a recusa, deputados do centrão ainda tentaram indicar outro nome, mas Bolsonaro se antecipou e escolheu Queiroga, indicado pelo seu filho mais velho. Segundo assessores palacianos, o novo ministro é amigo da família da mulher do senador.

Prevendo um mal-estar com o bloco, Bolsonaro convidou, horas depois de ter escolhido Queiroga, o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), para um encontro no Palácio do Planalto.

Na conversa, segundo assessores palacianos, o presidente comunicou a decisão e explicou ao senador que optou por Queiroga pelo seu perfil técnico. Ele observou que foi uma escolha de caráter pessoal.

Ainda na noite da segunda-feira, no entanto, dirigentes do centrão já reclamavam da escolha do presidente e ressaltavam que Bolsonaro deveria ter levado em conta o apoio do bloco no Congresso.

“Não adianta trocar o ministro se o presidente continuar sabotando a implementação das práticas de combate ao coronavírus que são adotadas pelo mundo inteiro”, afirmou à Folha o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP).

A avaliação de dirigentes do centrão é a de que, diante da necessidade de aprovação das reformas administrativa e tributária, era o momento de Bolsonaro acenar à base aliada, e não fazer uma escolha de caráter pessoal.

Eles ressaltam que a abertura de mais espaço para o grupo partidário na Esplanada dos Ministérios também ajudaria a manter na base aliada o bloco do centrão após a decisão que tornou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elegível para 2022.

Mesmo antes da vitória de Lira, em fevereiro, deputados do centrão já tinham a expectativa de assumir a Saúde com a saída de Pazuello. O nome favorito era o do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), alternativa que chegou a ser discutida na Casa Civil.

O nome de Barros perdeu força com o passar do tempo. Deputados disseram que, quando Barros foi ministro da Saúde no governo Michel Temer (MDB), ele não ficou conhecido por atender demandas de parlamentares.

A escolha de Queiroga gerou frustração entre aliados de Lira, para os quais Bolsonaro não reconheceu o apoio que o deputado federal tem dado à sua gestão.

Integrantes de partidos como PP e Republicanos viram na decisão de Bolsonaro um recado ao centrão: não adianta pressionar pela demissão de um ministro achando que tem garantida a indicação do sucessor.

Como os dois nomes rejeitados por Bolsonaro tinham chancela de Lira, parlamentares também disseram que a escolha acaba enfraquecendo o presidente da Câmara.

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