Vinte e duas entidades representando diversos setores produtivos do norte do Espírito Santo assinaram nesta semana uma nota de repúdio “aos recentes e recorrentes atos de incêndios florestais criminosos na região”. Na nota as entidades registram que os incêndios “vêm causando uma devastação sem precedentes, resultando em danos ao ecossistema local, à economia e sociedade como um todo”.
De acordo com as entidades, entre os dias 10 e 12 de novembro foram registrados aproximadamente 150 focos de incêndios, que elas acreditam terem sido provocados intencionalmente, “consumindo cerca de 350 hectares de florestas plantadas e nativas, das quais aproximadamente 80 hectares de áreas de preservação permanente”.
Além das questões ambientais, as entidades discorrem ainda sobre os prejuízos econômicos e sociais cobrando uma resposta das autoridades.
“Os prejuízos econômicos e sociais foram extremamente alarmantes, com aproximadamente 9.000 metros cúbicos de madeira já colhidas queimadas, afetando diretamente a economia, o meio ambiente e o desenvolvimento local. De igual preocupação estamos com as áreas naturais protegidas, com registros de incêndios destruindo importantes habitats de espécies da fauna ameaçadas de extinção e prejudicando a qualidade ambiental de um bem de uso comum da sociedade que mantém nossas nascentes e reservatórios hídricos de grande importância para o período de extrema seca projetado para esse ano” – frisa a nota.
ENTIDADES QUE ASSINAM A NOTA
Associação Agricultura Forte;
Associação de Agricultores Familiares do Córrego do Sertão;
Associação de Lenhadores Córrego da Estiva;
Associação de Lenhadores de Santana;
Associação de Lenhadores do Braço do Rio-Asbrario;
Associação de Lenhadores do Córrego Santana;
Associação de Moradores de Itaúnas-AMI;
Associação de Pequenos Agricultores e Produtores Rurais e Descendentes de Quilombolas e Sape do Norte da Comunidade São Jorge;
Associação de Pontas e Galhos de Sayonara;
Associação de Pescadores Marisqueiros e Catadores de Caranguejo de Conceição da Barra –APMCC;
Associação de Turismo de Conceição da Barra – Atur;
Associação Empresarial do Litoral Norte – Assenor;
Associação Movimento Empresarial de Aracruz e Região-Ame;
Associação para o Desenvolvimento de Linhares – Adel;
CDL Conceição da Barra;
Centro de Desenvolvimento do Agronegócio- CEDAGRO;
Espirito Santo em Ação – ES em Ação;
Federação da Agricultura e Pecuária do Espirito Santo -FAES;
Sindicato Rural de Linhares;
Sindicato Rural de Pedro Canário;
Sindicato Rural de Montanha;
Sindicato Rural de São Mateus.
“Muita fumaça e fogo”
Morador de Sayonara, zona rural de Conceição da Barra, Rudivaldo dos Santos Gonzaga vivenciou momentos que ele classificou como “de sufoco” há pouco menos de um mês. O trabalhador autônomo, membro da Associação Pontas e Galhos de Sayonara, disse que conhece bem a região onde a empresa Suzano faz plantio de eucalipto. No entanto, isso não impediu que ele passasse por momentos de aflição por causa de um incêndio.
Rudivaldo relata que voltava para casa em uma área onde as árvores já haviam sido cortadas e estavam empilhadas aguardando remoção quando observou a fumaça. Mas decidiu seguir por acreditar que o incêndio era pequeno.
“Muita fumaça e fogo, não tinha como voltar e o jeito foi seguir. Passeio um sufoco danado” – afirma.
“Graças a Deus não me machuquei. Os incêndios na área estão fora do comum. Quase todo dia tem fumaça na região” – detalha. Rudivaldo afirma que, apesar do tempo seco, que facilita os incêndios naturais, ele entende que alguns focos devem ser criminosos. “Não tem condições, é muito foco”, reforça.
Ele detalha que o incidente aconteceu com ele por volta das 15h e que uma equipe da empresa já estava no local combatendo o incêndio.
Suzano usa IA para identificar foco de incêndio
A Suzano monitora os focos de incêndios em suas áreas com um sistema que funciona com inteligência artificial e drones. O coordenador de prevenção e combate a incêndios da empresa, Luiz Bueno, detalha que a ferramenta é capaz de identificar a fumaça e emitir alertas. Ele afirma que a empresa conta ainda com monitoramento via satélite que identifica os focos por meio do calor.
Luiz Bueno ressalta que neste mês de novembro, até esta sexta-feira (17), o monitoramento identificou aproximadamente 850 focos de incêndios nas florestas no Espírito Santo, uma média de 50 por dia. “Após identificado, a gente envia uma equipe ao local para fazer o combate”. Ele acrescenta que é feito um registro internamente dentro de uma plataforma e também é feita a comunicação às autoridades.
“Nós identificamos que 90% dessas ocorrências são ocasionadas por pessoas e provavelmente de origem criminosa” – destaca o coordenador.
Ele explica que é possível perceber que os incêndios são criminosos por causa das características nas unidades produtivas. “São focos espalhados dentro da unidade com o objetivo de propagar e dificultar o combate. Geralmente coloca a favor do vento. Com estamos no El Niño, com aumento de temperaturas e o tempo seco, a propagação é intensa. O nosso time tem trabalhando para proteger as florestas, mas não tem sido dias fáceis nesse cenário seco e com altas temperaturas” – enfatiza.
De acordo com Luiz Bueno, as áreas são muito grandes, o que dificulta identificar os possíveis incendiários. “A gente tem suspeitos, isso corre em sigilo e as investigações estão acontecendo, mas ainda não é possível apontar uma pessoa específica” – afirma.
PREJUÍZOS
Luiz Bueno ressalta que, muitas vezes, quem provoca um incêndio não tem a amplitude de tudo que está afetando. “O incêndio florestal tem um impacto numa cadeia completa. Florestas nativas, árvores centenárias, prejuízo para nascentes, fauna e flora. Impacto financeiro para o município, porque isso impacta em questões de impostos e uma série de coisas” – salienta.
Ele aponta também os prejuízos com a saúde das pessoas, que são prejudicadas com o ar contaminado, em especial aquelas que têm doenças respiratórias.
DENÚNCIAS
O coordenador enfatiza o papel que a sociedade tem na prevenção de incêndios. Ele lembra que, apesar da maioria dos casos serem registrados como criminosos, alguns cuidados podem ser tomados como evitar a queima de lixo ou dispensar bituca de cigarro às margens de rodovias.
“É importante todos estarem cientes disso e se engajarem para proteger as nossas florestas. Não só a Suzano, mas sim o nosso Planeta”. Ele enfatiza que a empresa mantém canal de comunicação aberto 24 horas para atender denúncias de incêndios.
Para denunciar, a pessoa por ligar gratuitamente para a Central de Operações Integradas pelo número 0800 771 1418 ou por mensagem para o telefone (27) 9.8854.0355.
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