A diversidade é um dos bens mais preciosos da nossa sociedade democrática: o respeito ao próximo está a seu fundamento. O racismo anda na contramão dos direitos humanos e é totalmente contrário ao Evangelho. O Concílio Vaticano Segundo declara a escravidão uma das “coisas mais infames”, que a história registrou e vê a sua origem no “distanciamento do homem de Deus” (GS 27-29).

Todos os homens e as mulheres são iguais, porque filhos do mesmo Pai Celeste e os preconceitos raciais, as situações conflituosas, as discriminações e emarginações de inteiros povos e categorias sociais são contrárias à sua vontade, pois “Vocês são todos irmãos” (Mt 23,8).

O dia 20 de novembro é dedicado à “consciência negra”: iniciativa oportuna, pois visa estimular e fortalecer a consciência da autoestima dos negros no Brasil pela sua raça e cultura, pois, aproximadamente, a metade da população brasileira se sente possuidora de componentes ligados à negritude.

Este dia pretende, sobretudo, combater preconceitos – longamente implantados ao longo da história – pois entraram a fazer parte da cultura brasileira que, apoiando-se na organização econômica e social, traduziu o preconceito em medidas de opressão e de exclusão social, econômica e cultural da população negra.

A dificuldade em remover a carga de preconceitos, que ainda pesam sobre a população negra no Brasil –   consequência do regime colonial de escravidão –  justifica as políticas públicas, que visam acelerar o processo de equiparação entre todos os cidadãos brasileiros, independente da raça ou da cor.

Entre estas políticas está “o sistema de quotas”, que busca garantir uma crescente participação de negros em cursos universitários, pois é na universidade que a participação dos negros é flagrantemente desproporcional.

O Movimento Negro não celebra o dia 13 de maio, em que foi assinada a “Lei Áurea” pela princesa Isabel, que marcou o fim da escravatura no Brasil – o último país a proibir a escravidão – pois o fim da escravidão não melhorou a vida das populações negras, como o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à previdência social, apesar dos negros terem dado uma contribuição relevante para o desenvolvimento do Brasil.

Em todas as regiões brasileiras e em todos os campos foi significativa a contribuição deles, como o Aleijadinho (1730-1814), escultor de nível mundial e Machado de Assis (1839-1908), o maior nome da literatura brasileira. O negro foi generoso também com a fé cristã: não se entende o Catolicismo brasileiro sem a alma africana.

A origem do Dia da Consciência Negra deve-se à morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares (1655-1695), que morreu em defesa da libertação do povo negro da escravidão. Resistiu às várias investidas do exército colonial: no fim capitulou. Seu sacrifício, porém, não foi em vão: cerca 193 anos depois de sua morte, com a “Lei Áurea”, a escravidão foi abolida no Brasil.

Um precioso testemunho o Brasil é chamado a dar ao mundo:  uma sociedade igualitária, em perfeita convivência de raças e culturas diferentes que, prescindindo sempre mais do amparo legal, sejam capazes de se relacionar no respeito mútuo e no diálogo fraterno.

 

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: TC Digital/ Arquivo

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