FÁBIO ZANINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Surgido como uma promessa de renovação na política, o Novo vive um racha de fazer inveja a partidos com décadas de existência.
O motivo principal é a atitude frente ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), com uma ala abertamente oposicionista e outra mais palatável ao presidente se digladiando. Nos últimos dias, essa divisão começou a dar sinais de que vai se intensificar até a campanha eleitoral do ano que vem.
Além da troca de ofensas de alguns de seus integrantes em praça pública, no melhor estilo PT dos anos 80, surgiram anúncios de afastamento e desfiliações. O curioso é que esse movimento ocorre simultaneamente nas duas metades da legenda, o que mostra um mal estar generalizado.
Um dos gatilhos para a crise mais recente foi a votação do projeto do voto impresso na Câmara dos Deputados, em que a proposta foi derrotada.
Fundador do partido, o empresário João Amoêdo foi a público reclamar dos 5 deputados federais, da bancada de 8, que votaram a favor da medida, apesar de orientação contrária do diretório nacional.
“Hoje, mais uma vez, assistiremos deputados que foram eleitos pelo Novo se posicionando contra o que defende a instituição”, escreveu ele, que lembrou episódios anteriores de descompasso entre a direção partidária e a bancada federal, como a defesa do impeachment de Bolsonaro e a definição de candidatura própria a presidente em 2022 (no caso, do próprio Amoêdo).
Ex-secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar reagiu. Embora não fosse formalmente filiado ao partido, sempre foi um de seus maiores apoiadores no empresariado. “Vocês [deputados] estão sendo convidados a se retirar do partido e espero mesmo que o façam e com a cabeça erguida”, afirmou, anunciando seu afastamento da legenda.
Foi seguido pelo anúncio de desfiliação de Hélio Beltrão, presidente do Instituto Mises Brasil, outro que torce o nariz para o impeachment de Bolsonaro.
“Eu já vinha amadurecendo essa decisão. Estou vendo que está tendo uma pressão muito grande da direção, que quer pautar os seus parlamentares. Eu discordo, acho que os parlamentares têm de ter direito de fazer política”, afirmou Beltrão.
Filiado ao partido há seis anos, ele critica o que vê como personalismo de Amoêdo, o que pode acabar impedindo o crescimento da legenda.
“Não é mais o partido que eu gostaria de ver como uma alternativa liberal. Ao contrário, hoje é um partido que persegue os liberais”, afirma.
Para ele, o Novo precisa decidir o espaço que quer ocupar na política. “O Novo tem que tomar uma decisão, se quer ser pequeno, ou se quer crescer como partido liberal. Hoje está parecendo que o Novo quer ser um partidinho”, diz.
Curiosamente, o sentimento é parecido na trincheira oposta, a dos críticos do presidente. Um dos representantes desta ala, o deputado estadual Heni Ozi Cukier (SP), deu sinais fortes de que deixará o partido.
Ele anunciou sua desistência do processo seletivo interno para ser o nome do partido ao Senado por São Paulo no ano que vem, mas não da candidatura em si. Em outras palavras, vai dar sequência ao projeto em outra legenda, embora não tenha dito isso com todas as letras.
“Continuo querendo e buscando ser candidato, para ser o senador mais jovem da história de São Paulo. Apenas saí do processo de seleção do Novo”, afirma Cukier, 44.
O problema maior, diz o deputado, é a falta de coerência interna da legenda, com divisões que acabam enviando mensagens contraditórias para o eleitorado.
“O Novo tem pessoas muito boas e uma ideia muito moderna, de olhar para a frente, fazer a política de outro jeito. Mas o Novo ainda não sabe lidar com o ato de fazer política. Fica nas margens, à distância, quando diz ‘não me misturo, não faço isso ou aquilo'”, afirma.
Um dos pontos mais criticados internamente é o fato de a direção partidária ser totalmente autônoma com relação aos políticos com mandato.
O modelo, inspirado em métodos de gestão empresarial para evitar conflitos de interesses, acaba gerando insatisfação quando filiados com voto têm de se submeter a dirigentes anônimos da legenda.
Por enquanto, a desfiliação de pessoas que foram eleitas é contida pela ameaça de perda de mandato, regra prevista pela Justiça (embora raramente cumprida). É provável que os casos se avolumem quando chegar a chamada janela partidária, em março. É quase certo, por exemplo, que parte dos deputados federais deixa o partido.
Surgido em 2015 como uma das grandes novidades da política em anos, o Novo não vai desaparecer, até porque atende ao desejo de uma parcela expressiva da sociedade, que acredita em princípios liberais. Mas precisará fazer uma bela “DR” se não quiser se tornar insignificante.

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