Produtora rural em Boa Esperança, Ivone Gaigher Milanese encontrou dez ovos de pata em um ninho na propriedade dela. Segundo a produtora, ao recolher os ovos, por volta das 15h do dia 14 de fevereiro, observou que eles estavam extremamente quentes e, para surpresa dela, no dia seguinte, ao abrir os ovos, percebeu que estavam com aspecto de cozimento.

À Reportagem, ela relatou que estava pescando na companhia da mãe Helena Gaigher, de 75 anos, e avistou uma pata no alto de um morro, percebendo que ali poderia haver um ninho.

Ivone Gaigher Milanese (foto) relata que a mãe dela, Helena Gaigher, aos 75 anos de idade, nunca tinha visto nada parecido.
Foto: Divulgação

“Comentei com mamãe: acho que ela está chocando lá em cima. Mas não tinha nenhuma sombra e estava um calor insuportável. Quando cheguei, vi que tinha dez ovos no ninho, no Sol quente de rachar. Peguei e coloquei na minha blusa. Estavam muito quentes. Até brinquei com a mamãe que poderíamos descascar e comer ali mesmo” – detalha.

Naquele 14 de fevereiro, a estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) localizada em Boa Esperança –nas proximidades da rodovia ES-315, de acesso a São Mateus–, registrou temperatura máxima de 35°C, mas, conforme relatos da produtora rural, a sensação térmica pode ter se aproximado dos 40ºC. A estação, inclusive, fica nas proximidades da Fazenda Pindorama, que pertence à família de Ivone.

“Nós não abrimos os ovos no mesmo dia. No outro dia, pela manhã, o Lorenzo [filho de Ivone] pediu para fazer ovos mexidos e a mamãe se prontificou para abrir porque estávamos achando que a pata já tinha chocado eles e poderia ter um olhinho de sangue, algo assim. Ao abrir o primeiro, foi surpresa. O ovo estava bem durinho e foi aquela graça. Os dez ovos estavam do mesmo jeito. Mamãe falou que com 75 anos nunca tinha visto uma coisa daquela” – complementa.

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Ivone relata que os ovos foram descartados. Ela acredita que o calor intenso daquele dia tenha provocado o cozimento dos ovos. “O ninho estava sob o Sol, sem sombra. Quando está preparado para chocar, é bem redondinho e a pata começa a soltar penas, e não tinha nada disso. Ela não estava preparada para chocar. Tanto que no dia seguinte tinha mais um ovo no mesmo ninho. Não tem outra explicação, foi o calor mesmo. Nesse dia estava muito quente. Até as plantas estavam sapecadas na minha horta” – frisa.

 

Especialista explica

A Reportagem procurou o zootecnista, especialista em animais de pena e não ruminantes, Julien Chiquieri, para entender as possíveis causas do relato da produtora rural de Boa Esperança. Ele disse que atua na área há mais de vinte e disse nunca ter tido contato com relatos do tipo.

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Professor de Produção de Não Ruminantes, Nutrição Animal e Anatomia e Fisiologia Animal no Ceunes, Julien acredita que a causa tenha sido de fato a temperatura elevada. “Não é comum. O que pode ter acontecido é que, nesse calor, os ovos ficando no Sol o dia inteiro, tenha começado um processo de coagulação, como se estivesse cozinhando. Pelo jeito foi um calor bem forte porque começou a cozinhar até a gema que precisa de uma temperatura até um pouquinho alta, entre 60°C e 65°C” – explica.

Ele explica que, embaixo de Sol, o ovo pode iniciar o processo de cozimento. “De repente, por isso a pata não estava chocando. Com o calor ela não iria aguentar ficar ali direto sob o Sol”.

Zootecnista e professor no Ceunes, Julien Chiquieri afirma que a situação não é comum e que também nunca havia tido contato com relato parecido.
Foto: Divulgação

O professor detalha também que pode ser um animal jovem que não tenha ainda experiência. “Tanto é que ela relata que ao pegar os ovos a pata não estava chocando e estavam muito quentes. Isso não é comum. Até hoje não ouvi relatos disso. É a primeira vez” – complementa.

Julien esclarece ainda que o primeiro cozimento é o da clara, que é a parte transparente do ovo. Depois, já com a temperatura mais alta, a gema, a parte amarela, também alcança o cozimento.

O professor ressalta que a decisão de Ivone em descartar os ovos foi o correto. “Não é bom consumir porque não tem a certeza de quanto tempo os ovos ficaram nessa situação. Não tem como saber as questões de higiene, se está contaminado e, com esse calor todo, pode até começar a estragar. O ideal é não consumir” – enfatiza.

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Caso semelhante em Teresina

 

Em Teresina, no Piauí, uma das cidades com temperaturas mais elevadas do País, uma cartela de ovos cozinhou após ficar oito horas dentro de um veículo exposto ao Sol. O caso foi relatado em setembro do ano passado. Conforme apresentado pela imprensa local, a proprietária de uma hamburgueria fez compras pela manhã e ao retornar para casa deixou o carro no estacionamento, sem cobertura, esquecendo a cartela. Só lembrou oito horas depois, por volta das 17h, e quando abriu um dos ovos para consumir percebeu que ele estava cozido. Toda a cartela estava em igual situação.

Na época, o professor João Aguiar, líder do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Renováveis e Tecnologias Sociais, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), explicou que a situação é um exemplo de efeito estufa, fenômeno em que a energia solar fica retida em um ambiente e não se dissemina pelo espaço.

De acordo com o professor, o Sol vem com raios ultravioletas e incide no vidro do carro. Dentro do veículo, a frequência da luz muda e os raios se tornam infravermelhos. Esses raios não conseguem voltar e ficam isolados dentro do carro, como uma câmara de aquecimento. Talvez, em um período curto, os ovos não cozinhassem, mas em um período de oito horas, é totalmente possível, segundo o professor.

 

Foto do destaque: Divulgação

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