SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em uma reunião virtual marcada pela fricção entre as partes e uma transmissão fragmentada, Brasil e Argentina se enfrentaram nesta quinta-feira (8) e deixaram claras suas diferenças a respeito da redução da TEC (Tarifa Externa Comum) e da flexibilização do Mercosul.

O Brasil, assim como Uruguai, defende uma redução radical da tarifa, enquanto a Argentina prefere uma redução gradual e menor, evitando aplicá-la ao setor industrial, pelo menos até janeiro. O Brasil insiste que o bloco deixe de ser guiado por “questões ideológicas”.
O Brasil assume agora a presidência pro-tempore do bloco. Nos últimos seis meses o cargo estava com a Argentina.

Em seu discurso, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que no mandato argentino “não se avançou na modernização” do Mercosul, e que não seria possível deixar que o bloco “continue sendo sinônimo de ineficiência”.
“Precisamos superar essa imagem negativa”, afirmou. Também defendeu a eliminação de tarifas.

“Queremos e conseguiremos uma economia mais integrada ao mundo, não podemos patinar na consecução desses objetivos, precisamos dar entregas à população, eliminar entraves e entregar produtos mais baratos”.
Para o mandatário brasileiro, a persistência de impasses e a necessidade de consenso para mudanças nas regras do Mercosul são um problema, especialmente quando países associados têm o que chamou de “visões arcaicas” sobre a natureza do bloco e sobre o protecionismo.

“Isso alimenta sentimentos de ceticismo no mercado internacional”, disse.
Ele criticou mais uma vez a argentina, dizendo que “o semestre que se encerrou não apresentou resultados concretos”.

Bolsonaro ainda cometeu uma gafe no início de sua fala. Ao referir-se à “presidência brasileira” do bloco, disse “pandemia brasileira”.
O encontro virtual teve como anfitriã a Argentina. O presidente do país, Alberto Fernández, abriu o encontro com uma transmissão a partir da Casa Rosada lembrando os 30 anos do bloco, celebrados neste ano, e evocando as suas “regras fundacionais”.

“São regras, e abandonar o consenso entre os países para negociar por fora significa descumprir as regras”, disse. Ele se referia à decisão manifestada pelo governo uruguaio, nesta quarta-feira (8), de buscar acordos fora do Mercosul, embora sem abandonar o bloco.

“A globalização em que acreditamos é uma globalização mais regionalizada, que fortaleça as cadeias regionais de produção, e queremos mais cadeias regionais, e não menos”, disse o argentino.

Ele ainda reiterou que a redução da TEC tem de partir de um consenso. “Esse é o DNA do bloco, não podemos esquecer essa lei fundacional principalmente num contexto global de incertezas”.

Em sua tela, Fernández olhava para baixo, com expressão de irritação e cansaço.
Com relação a flexibilizações, foi bastante enfático: “A lei do Mercosul afirma que negociações devem iniciar-se e concluir-se em matéria conjunta. Nós seguiremos apoiados nessa lei”. E terminou afirmando: “Ninguém se salva sozinho”.

Os países optaram por não mostrarem uma transmissão conjunta da reunião-cada governo divulgou por meio de seus canais oficiais apenas a fala de seu mandatário.
Além disso, o paraguaio Mario Abdo optou por não divulgar sua intervenção na totalidade. A assessoria de imprensa da presidência do Paraguai afirmou que, depois da reunião, seria enviado um comunicado sobre a participação do país.

Já o Uruguai tentou transmitir a fala de seu presidente, mas por problemas conexão apresentou apenas a imagem do mandatário Luis Lacalle Pou, sem seu áudio.
O fato de a reunião do Mercosul ter ocorrido de modo não transparente, e com cada presidente divulgado sua parte à sua maneira, é um sinal da crise do bloco.

Bolsonaro também afirmou que deseja que a próxima reunião, no fim do ano, se realize de modo presencial, no Brasil.

 

Foto do destaque: Casa Rosada/Divulgação

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