RENATO CARVALHO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa começou o dia em alta nesta quinta-feira (23), mas logo na segunda hora de pregão reverteu a tendência. Perto do meio-dia, o principal índice de ações do Brasil perdeu o patamar dos 100 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2022.

A manutenção já era esperada pelo mercado, mas o comunicado divulgado pela autoridade monetária mostrou uma postura dura, que agradou os economistas, mas que também provoca uma revisão de expectativas, já que se esperava uma abertura para eventual corte nas próximas reuniões, algo que agora, é considerado improvável.

Às 11h45 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em baixa de 0,60%, a 99.612 pontos. O dólar comercial à vista tinha alta de 0,84%, a R$ 5,280.

No mercado de juros, as taxas estão em alta,. No vencimento para janeiro de 2024, a taxa avançava de 13,02% no fechamento desta quarta-feira (22) para 13,21. Para janeiro de 2025, a taxa subia de 12,05% para 12,24%. No vencimento em janeiro de 2027, os juros passavam de 12,31% para 12,47%.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não cedeu à pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para redução dos juros e manteve nesta quarta-feira (22) a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.

Sem adotar um tom mais brando, como esperavam alguns analistas, a autoridade monetária não deu sinais de que pretende antecipar o corte da taxa —mantendo inclusive a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevá-la caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

“Na minha visão, o BC foi na contramão das expectativas de agentes de mercado mais otimistas, que esperavam um tom mais leve e até mesmo uma eventual antecipação de corte de juros para o curto prazo”, afirma Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), criticou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa de juros no patamar atual de 13,75% ao ano e disse considerar “muito preocupante” o tom do comunicado do Banco Central.

Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, o BC sinaliza que manterá a sua política enquanto a inflação estiver em patamares acima da meta.

Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

“Por ora, mantemos nossa projeção de estabilidade da Selic em 13,75% até o final do ano. Reconhecemos, entretanto, a possibilidade de cortes mais cedo, a depender da evolução dos choques financeiros e da evolução da economia brasileira”, afirma a economista da Rico.

Raone Costa, economista-chefe da Alphatree, afirma que os modelos do BC mostram que a inflação deve se manter acima da meta até o terceiro trimestre de 2024.

“A única chance de corte de juros seria uma deterioração da economia global, por conta da crise do sistema financeiro. No momento, não é o cenário mais provável. O comunicado do BC aumenta inclusive a chance de novas altas nos juros”, diz Costa.

Para a equipe de análise da Levante Investimentos, a falta de uma perspectiva clara para a inflação é um ponto de atenção para o BC.

“Ao tratar das projeções do mercado para os preços, o BC trocou ‘se distanciando da meta’ por ‘desancoradas em relação às metas’. Ou seja, o BC admitiu que o mercado perdeu clareza na formação futura de preços. Isso torna mais difícil fazer com que a inflação convirja em direção à meta”, diz a Levante.

Nicola Tingas, economista chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito Financiamento e Investimento) tem uma visão diferente sobre o futuro da trajetória da Selic.

“Meu cenário básico é de queda dos juros na reunião de maio ou na de junho. O BC admite que pode revisar e fazer ajustes na política monetária se houver mudanças no ambiente. Estamos vendo uma inadimplência crescente no crédito, e as empresas não conseguem ter acesso ao mercado de capitais. O BC deve estar atento a isso”, diz Tingas.

Nesta quinta-feira, foi divulgado um dado importante no âmbito fiscal. A arrecadação federal de impostos cresceu 1,28% em termos reais em fevereiro sobre o mesmo mês do ano passado, somando R$ 158,9 bilhões, informou a Receita Federal nesta quinta-feira.

No primeiro bimestre de 2023, a arrecadação totalizou R$ 410,7 bilhões, uma alta de 1,19% sobre os dois primeiros meses de 2022, já descontada a variação da inflação.
Em Nova York, os índices de ações estão em alta, recuperando parte das perdas registradas nesta quarta-feira, após as declarações de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Destaque para as empresas de tecnologia, com o índice Nasdaq subindo 1,32% às 10h50 (horário de Brasília). Dow Jones e S&P 500 avançavam 0,67% e 0,84%, respectivamente.

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