THIAGO BETHÔNICO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O caso da aluna de medicina da USP acusada de desviar quase R$ 1 milhão do fundo da festa de graduação da sua turma, além de alertar sobre a importância de proteger o dinheiro da formatura, também serve como “antiexemplo” na hora de fazer investimentos.

Alicia Dudy Muller Veiga, 25, está sendo investigada após suspeita de ter se apropriado de R$ 920 mil reservados para a festa. Em depoimento, ela disse que não estava contente com os rendimentos do fundo junto à empresa contratada para a formatura e, por isso, decidiu tirar o valor e aplicar por conta própria.

Com conhecimento sobre finanças limitado a “pesquisas na internet”, como a aluna admitiu à polícia, os investimentos começaram a dar prejuízo, e ela passou a jogar na loteria para tentar recuperar o montante, segundo a investigação.

De acordo com Guilherme Azevedo, delegado-assistente do 16º DP, a estudante fez aplicações sem o menor conhecimento técnico. Extratos apresentados pela defesa apontam para investimentos em produtos como CDBs e ações.

Após perder cerca de R$ 50 mil, Alicia partiu para os jogos em lotéricas, gastando ao menos R$ 397.290 em apostas numa mesma casa, de acordo com a investigação.
Para Marcia Dessen, planejadora financeira certificada, a essência do erro cometido pela aluna ao investir foi assumir riscos com um dinheiro que não permitia esse tipo de vulnerabilidade.

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“As pessoas não podem decidir o investimento que vão fazer olhando apenas para o seu perfil. É preciso entender qual o perfil de risco do capital que está sendo investido”, afirma.
Segundo ela, o dinheiro que vai para aplicações dessa natureza –seja criptomoedas, derivativos ou Bolsa de Valores– tem que ser apartado dos demais compromissos pessoais e familiares.

Dessen destaca que o principal risco assumido pela aluna da USP foi com o mercado financeiro, visto que aplicações como CDB são seguras. Ainda assim, ela diz que apenas uma escolha muito errada explica tamanha perda.
A planejadora lembra que, na Bolsa de Valores, o investidor só tem prejuízo de fato quando vende a ação mais barato do que comprou.

“Se alguém comprou uma ação por R$ 10 e hoje ela está valendo R$ 8, essa pessoa não perdeu. Ela sofreu uma desvalorização no capital que colocou. Não é uma perda até que se tome a decisão de vender “, afirma. “O investimento de risco tem que ter horizonte de tempo longo. Não se pode colocar um capital que tem data para ser utilizado.”

Dessen ainda indica que investidores desconfiem de promessas fáceis, lembrando que não existe milagre no setor financeiro. “Se é bom demais para ser verdade, é porque não é verdade.”

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É o que também pensa a planejadora financeira Eliane Tiburski.Para ela, afora a discussão sobre desonestidade, o caso da aluna da USP ilustra alguns erros comuns que as pessoas cometem na hora de tomar decisões de investimentos.

A pressa em querer ganhar dinheiro rápido, por exemplo, pode gerar um aumento da autoconfiança do investidor, levando-o a fazer escolhas rápidas e, muitas vezes, equivocadas.

“Oportunidade imperdível é uma expressão mortal em finanças”, diz. “Na hora de tomar decisões de investimento, o melhor a fazer é respirar, esperar e cuidar racionalmente disso”, acrescenta.

Sobre a estudante ter admitido que aprendeu sobre finanças em conteúdos na internet, Tiburski pondera sobre a importância de sempre buscar uma segunda opinião.
Segundo ela, há conteúdos confiáveis sobre investimentos na internet, mas é fundamental confirmar as informações em sites oficiais, como os do Banco Central, da B3 e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que possuem materiais educativos.
“Toda vez que um influencer te mostrar oportunidades, procure saber sobre os riscos em outro lugar.”

Ela ainda destaca que, embora existam modalidades de investimento mais simples, o mundo das finanças é algo complexo. “O mercado de investimentos brasileiro, o cenário macroeconômico, não é para amadores. Não é possível alguém sozinho, em curto espaço de tempo, ter toda a capacidade de tomar decisões de risco.”

COMO EVITAR RISCOS NO MERCADO FINANCEIRO

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Tiburski lembra que uma das melhores estratégias para não se arriscar demais na Bolsa de Valores é diversificar os investimentos. Uma forma de fazer isso é buscar por fundos de ações, que englobam papéis de várias companhias.
Dessen também destaca esse ponto. A planejadora sugere dar preferência a índices que acompanhem determinada carteira, do Ibovespa, por exemplo. “Na média, você tem um risco diluído.”

Segundo ela, é possível ser arriscado sem ser inconsequente. Para isso, é fundamental colocar em risco uma pequena fatia do capital disponível para investir.
Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira) e da DSOP Educação Financeira, diz que aplicar no máximo 10% no mercado financeiro é uma boa fórmula.

“Nunca vá para a Bolsa com dinheiro que você pode depender dele a qualquer momento.”
Segundo ele, um investidor precisa ter em mente alguns pontos para saber se está fazendo a escolha correta. O primeiro é a finalidade, isto é, o motivo pelo qual ele está acumulando recursos. O segundo aspecto é o tempo de acumulação, que está diretamente relacionado ao risco.

“Esse foi o pecado capital [da aluna da USP]. Não se aplica em Bolsa de valores se não houver a certeza de que perder o dinheiro não vai fazer falta.”

Foto do destaque: José Cruz/Agência Brasil

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