A história é uma lenta e laboriosa descoberta da fraternidade universal: este ideal – aspiração mais ardente da humanidade – é acalentado por todos os povos sem distinção de raça e nação. A Bíblia já mostrava, na narração da obra da criação, a complementariedade do masculino e do feminino: foi ao casal, sem discriminação, que Deus confiou a tarefa da reprodução e da conquista do mundo. Mesmo na segunda narrativa da criação – a mulher é criada depois do homem e como ajuda dele – observa-se que a dependência da mulher em relação ao homem é uma das consequências da arrogância do homem, que quebrou a harmonia da criação.

Mesmo quando as mulheres, pelo contexto sociológico foram submetidas ao domínio do homem, aparecem extraordinárias figuras femininas, que mostram a importância delas na história humana. Em Israel, aparece Maria, a irmã de Moisés, diretora do canto das mulheres: a ela Deus falava de forma privilegiada. Débora – profetisa, poetisa e guerreira – é protagonista invicta contra os inimigos de seu povo. Hulda, é consultada pelos ministros do rei, numa grande reforma religiosa. Judite e Ester, enfim, demonstram que a fragilidade feminina vence os poderosos, que baseavam sua força na soberba e na prepotência.

É necessário esperar o Novo Testamento para encontrar o modelo de mulher perfeita no âmbito humano e espiritual: Maria, a mãe do Messias. Ela uniu em si o duplo ideal feminino: virgindade e maternidade. Sua virgindade expressa, em um grau máximo, a beleza e a riqueza de uma vida totalmente doada a Deus e às suas causas. Sua maternidade é o ponto culminante de todas as esperanças do povo de Israel e da humanidade: a vinda do Messias. Embora a atividade terrena de Maria não foi relevante, no campo sociopolítico pelas limitações da época, sua missão, contudo, na história humana foi de incalculável valor e de alcance universal.

Em nossos países do Terceiro Mundo, é lastimável a situação da mulher: vítimas da praga da ignorância, do analfabetismo, do trabalho opressivo e da servidão ao marido, são exploradas e desprezadas por sua própria condição feminina. O cristianismo, desde a sua origem lutou pela libertação da mulher, hoje é chamado a somar forças com outros movimentos e associações de promoção humana e libertação, para superar este empasse, do qual depende o futuro da humanidade e a felicidade das próximas gerações.

A mulher – justamente pelo dom de sua riqueza feminina de intuir as necessidades dos outros – é chamada a dar um novo impulso à nossa sociedade, para torná-la mais humana e fraterna. Sensíveis, mais do que todos, aos problemas humanos, elas são chamadas a resolver com criatividade o que aflige o mundo de hoje e a enriquecê-lo com seu carisma feminino: justa distribuição dos bens, meio ambiente, atenção especial aos pobres e excluídos, educação dos jovens, saúde, emprego, políticas sociais, salário igual ao dos homens, estatuto da família, defesa do regime democrático, superação do antifeminismo, racismo e nacionalismo. No seio da humanidade está nascendo um novo tipo de mulher, consciente, ativa e engajada, para realizar plenamente o seu ser feminino.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

Foto do destaque: TC Digital

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