JOÃO GABRIEL

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após seis meses da operação do governo Lula (PT) na Terra Indígena Yanomami, associações de lideranças da região afirmam que houve o retorno de garimpeiros e que a fiscalização não conseguiu alcançar algumas áreas. Além disso, apontam aumento de casos de malária.

As conclusões constam de um relatório, publicado nesta quarta-feira (2), com base em relatos de lideranças. O documento foi elaborado pelas associações Hutukara, Wanasseduume Ye’kwana e Urihi.

“No mês de junho, a Hutukara recebeu denúncias sobre a movimentação de garimpeiros nos rios Apiaú e Couto Magalhaẽs”, diz o documento.
No primeiro local, por exemplo, indígenas disseram não ter visto operações contra a exploração ilegal de ouro. No segundo, onde inclusive já houve conflito entre agentes e garimpeiros, a atividade voltou a ser registrada.

Segundo o relatório, a assistência humanitária falhou na logística de distribuição de cestas básicas e, por isso, a situação da desnutrição ainda é grave na região.
Outro ponto abordado na área de saúde é a precarização da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) causada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o documento, esse quadro ainda não foi revertido, o que faz com que doenças como a malária não só persistam, mas avancem na região.

Em entrevista à Folha de S.Paulo em julho, seis meses após ter sido decretado o estado de emergência sanitária na terra indígena, o chefe da Sesai, Weibe Tapeba, disse que ainda falta avançar neste aspecto.
“Temos um cenário melhor do começo do ano para agora, uma diminuição [da malária e da desnutrição], mas é algo gradual e infelizmente ainda não conseguimos contornar a situação, vamos precisar de mais alguns meses.”

O relatório das associações indígenas aponta, como também admitiu Tapeba, que a infraestrutura das equipes de saúde na região segue precária, apesar de polos de saúde que haviam sido fechados devido à insegurança já terem sido reabertos.

O documento ressalta ainda que a situação de insegurança, gerada pela violência associada ao garimpo, ainda atrapalha a atuação, e diz ser necessário que se distribua melhor as forças de saúde pelo território yanomami para o atendimento a diversas comunidades, sem necessidade de deslocamento até as bases principais.

São listadas seis áreas classificadas como de maior sensibilidade pelas lideranças: parafuri, xitei, haxiu, homoxi, parima e kayanau.
Em cinco delas, os relatos dão conta de que o garimpo persiste; em todas é dito que as visitas de equipes de saúde às malocas não acontecem ou são raras; em quatro delas os casos de malária persistem; e em seis são citados conflitos na região.

As associações também dizem que o governo demorou para fechar completamente o espaço aéreo sobre a região. Com o avançar da operação de repressão ao garimpo por terra, os aviões se tornaram a forma que os garimpeiros encontraram para manter o fluxo de suprimento ativo para dentro do território.

Ainda, o relatório aponta que a instalação de duas bases de controle nos principais rios do território, Mucajaí e Uraricoera, por mais que tenha surtido efeitos, pode ter causado um efeito colateral.

“Essa concentração corre o risco de produzir o efeito de ‘vazamento’ para outras calhas, como as dos rios Catrimani, Apiaú e Uraricaá, e, portanto, seria fundamental que fossem pensadas estruturas para o monitoramento e fiscalização dessas zonas”, afirmam as associações.

Foto do destaque: Fernando Frazão/Divulgação

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here