Devemos à ação profética do Papa João XXIII a redescoberta do valor dos “sinais dos tempos”, para a vida da Igreja e do mundo. Várias vezes, Jesus exorta a ver, também, nos fenômenos meteorológicos a Vontade de Deus, como acontece na vida humana: “Ao entardecer, dizeis: Haverá tempo bom, pois o céu está avermelhado; e, de manhã cedo, dizeis: Hoje há tempestade, porque o céu está coberto. Sabeis discernir o aspecto do céu, será que não sois capazes de discernir os sinais dos tempos?”. O Deus invisível fala aos homens, que “Ele ama”, por sinais, a fim deles crescerem na amizade e intimidade com Ele. Duas são as modalidades desta sua comunicação: os “sinais dos tempos” e a “Divina Revelação”.

Ao convocar o Concílio Vaticano II (1961), Papa João disse: “Apropriando-nos da recomendação de Jesus, de saber distinguir os sinais dos tempos em meio a tantas trevas, numerosos sinais nos infundem esperanças sobre os destinos da Igreja e da humanidade”. E, no discurso de abertura do Concílio (11 de outubro, de 1962), o Papa condenou os “profetas de desventuras”, sempre prontos a profetizar eventos funestos, como se o fim do mundo e da Igreja estivessem prestes para acontecer. O otimismo evangélico deve caracterizar a vida cristã, pois Cristo venceu a morte, o maior de todos os males, e prometeu a sua constante presença e de seu Espírito, na vida da Igreja e do mundo.

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“Os sinais dos tempos” foram a “marca registrada” do Concílio Vaticano II: vários de seus documentos falam deles, de modo especial, a “Gaudium et Spes”. Analisando a situação contemporânea, o Concílio descobre as “pegadas” de Deus no mundo de hoje. Desde então, se afirmou a tendência de decifrar a vontade de Deus na vida e nos fatos de nossa vida. O discernimento da Vontade de Deus deve ser feito à luz dos sinais dos tempos, como, também, tendo em devida consideração o ensinamento bíblico e o magistério da Igreja, a quem Cristo partilhou o carisma do discernimento.

Entre os sinais, que mostram a ação de Deus em nossa história: o crescente progresso científico; os povos, que buscam a unidade; a liberdade humana, encaminhada para a maioridade; as injustiças sociais, a discriminação racial, sexual ou religiosa, as guerras, denunciadas; direitos humanos e democracia promovidas; globalização dos problemas sociais; colaboração entre as religiões. O maior “sinal dos tempos” é, porém, a luta por um mundo mais justo e fraterno, tanto no plano nacional, como internacional. A missão do cristão consiste em dar a estas lutas o espírito, a força e a luz do Evangelho.

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“Os sinais dos tempos” são, porém, ambivalentes: o progresso científico, por ex., ao lado de seu imenso avanço, faz crescer o consumismo, a massificação e a despersonalização. A ciência produziu a bomba atômica, ao mesmo tempo, a falta de consciência ética, no coração humano, conduz a desencadear uma guerra relâmpago, que leva à destruição total da humanidade. Percebemos, assim, a grande responsabilidade dos cristãos e das Igrejas, nas graves questões, que atormentam a humanidade de hoje.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: TC Digital

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