SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na polêmica entrevista que a secretária especial de Cultura, Regina Duarte, deu à CNN na noite desta quinta (7), dois quadros chamavam atenção, posicionados entre a atriz e o jornalista Daniel Adjuto.

São xilogravuras do artista baiano Rubem Valentim, morto em 1991. Ele ficou conhecido por reorganizar símbolos de religiões afro-brasileiras –em especial do candomblé e da umbanda– segundo uma geometria rigorosa, formada por linhas verticais e horizontais, triângulos, círculos e quadrados.

Nesse processo, transformou linguagens de origem europeia, como a a abstração geométrica, o construtivismo e o concretismo, dominantes de boa parte da produção artística mundial nos anos 1950 e 1960, submetendo-as a referências africanas.

Segundo uma nota disponível no site da Secretaria Especial de Cultura, as obras fazem parte de uma doação ao gabinete do órgão depois da sua reforma, ocorrida entre 2004 e 2006 –as datas são detalhadas no site do escritório de arquitetura responsável pelo projeto, de Fabricio Pedroza. Na época, o órgão estava sob o comando de Gilberto Gil.

Além de quatro obras de Valentim, o gabinete ainda recebeu um painel original de azulejo de Portinari, um painel com exemplos das pinturas corporais dos índios Wajãpi, e um trabalho de Bené Fonteles, entre outros.

Do lado esquerdo do quadro da entrevista da CNN, atrás do jornalista Daniel Adjuto, vê-se ainda um pilar metálico usado na construção da Esplanada dos Ministérios e restaurado pelo artista Carlos Meigue, de origem indígena.

São obras pouco alinhadas à ideologia do governo de Jair Bolsonaro, marcado pelo acirramento das tensões com comunidades indígenas. O primeiro ano de sua gestão também viu uma proliferação de relatos de ataques às religiões afro-brasileiras, assunto caro à Valentim.

No início de sua gestão, Regina Duarte demonstrou pouca proximidade com as artes plásticas. No final de março, ela confundiu o nome de Ivens Machado, considerado uma referência na escultura brasileira e pioneiro da videoarte e da performance no país, ao postar uma obra sua nas redes sociais. Creditou-a a uma “Inês Machado”.

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