EDUARDO SODRÉ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O resultado não poderia ser outro. Com fábricas fechadas ao longo do mês devido à pandemia do novo coronavírus, a produção de veículos em abril caiu 99,4% em relação ao mesmo mês de 2019 e 99% na comparação com março. No acumulado do ano, a queda é de 39,1%.

Apenas 1.800 unidades foram produzidas no país no mês passado. “Não é uma surpresa para nós, mas é impactante quando olhamos os números. É o pior resultado da série histórica da indústria desde 1957”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Ou seja, é o pior resultado desde que a indústria automotiva nacional foi estabelecida oficialmente, no governo Juscelino Kubitschek.

Em 1957, primeiro ano completo de produção dos veículos nacionais, 30,5 mil unidades saíram das fábricas, média de 2.542 unidades por mês. Os incentivos fiscais foram concedidos pelo Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística).

As medidas beneficiaram empresas estrangeiras que já importavam veículos no sistema CKD: os automóveis chegavam em partes e eram montados sem componentes feitos no Brasil.

O Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek não privilegiava iniciativas 100% brasileiras, o que explica a inexistência de marcas plenamente nacionais com grande capacidade de produção.

Os dados foram divulgados nesta sexta (8) pela Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no Brasil. Os dados incluem carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.

Com a queda nas vendas e a incerteza quanto à retomada, o estoque disponível hoje é suficiente para atender a demanda por quatro meses. Ainda há 237,3 mil veículos produzidos em 2019 e 2020 que aguardam um comprador.

De acordo com a Anfavea, os licenciamentos caíram 76% na comparação entre os meses de abril de 2020 e de 2019. Aproximadamente 55 mil veículos foram emplacados no último mês. É a maior queda na história para o mês.

Em São Paulo, com o Detran fechado, o emplacamento de carros novos teve queda de 99% em relação a abril de 2019.

O nível de emprego nas montadoras se mantém estabilizado, segundo a associação das fabricantes. As montadoras usaram os regimes de flexibilização disponíveis agora. As fabricantes de automóveis empregam 125,3 mil trabalhadores no Brasil.

As exportações caíram 79,3% em relação a abril de 2019. A base já era baixa e, devido ao avanço da pandemia na América Latina, não há expectativa de melhora. Os 7.200 veículos enviados para o exterior no último mês representam o pior resultado dos últimos 23 anos, segundo a Anfavea.

Após diversas revisões, as datas previstas para o retorno à produção se estendem até o fim de junho. Há 55 fábricas paradas no país -apenas 10 voltaram a produzir peças e maquinário agrícola e rodoviário.

As montadoras preparam normas rígidas para evitar o contágio em suas dependências. As ações já estão sendo implementadas nas atividades de apoio ao combate contra a pandemia -há empresas fazendo manutenção de respiradores, entre outras iniciativas.

Na Volkswagen, que pretende retomar as atividades fabris no dia 18, a temperatura dos funcionários será medida na portaria e haverá mais ônibus disponíveis para o transporte dos trabalhadores, para evitar aglomerações.

O presidente da Anfavea diz que as experiências trazidas de outros países onde as montadoras atuam estão sendo aprimoradas no Brasil para aumentar a segurança sanitária nas linhas de produção. As medidas foram apresentadas aos governos dos estados em que há fábricas de veículos e maquinário.

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