A purificação do Templo foi um evento tão extraordinário, que foi narrado pelos quatro evangelistas. Aconteceu pouco antes da festa da Páscoa, a maior festa judaica: não é crônica, mas, profecia. Suscitou um grande impacto nos peregrinos, nas autoridades do Templo e nos próprios discípulos. Os guardas do Templo nada fizeram para defenderem os cambistas e vendedores de animais –  estavam exercendo seu comércio legalmente, junto ao átrio do Templo – deste ato, aparentemente descabido de Jesus, pois o interpretaram como um gesto, à maneira dos antigos profetas, que  denunciava os abusos das lideranças religiosas, mediante gestos simbólicos.

         Enquanto os evangelistas sinóticos colocam este evento, no final da vida pública de Jesus, João, ao invés, o coloca bem no início – logo após o milagre, operado por Jesus, em Caná da Galileia, da água mudada em vinho – para revelar que Jesus é o novo e verdadeiro Templo de Deus: “Este foi o primeiro sinal, que Jesus fez; manifestou a sua Glória e os discípulos creram nele”. Desde o início, Jesus é apresentado, pelo evangelista, como o novo e definitivo “Templo de Deus”, no qual reside a plenitude da divindade: “E o Verbo se fez carne; Ele veio habitar no meio de nós. Nós vimos a sua Glória, a Glória de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.

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       O templo de Salomão era apenas uma figura do verdadeiro Templo de Deus, a humanidade de Cristo: “Ele falava do templo do seu corpo” – sublinha João; como, também, os sacerdotes do Templo, prefiguravam o Novo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo, que, na oferta de si mesmo, celebrava o novo culto de adoração “em espírito e verdade” ao Pai e de intercessão a favor de todos os homens, sobre o novo altar, a cruz. Cristo com sua obediência, qual nova vítima, de fato, reparou a  desobediência de Adão, causa da nossa perdição.

Ao expulsar os comerciantes de animais e os cambistas do Templo, Jesus pretendeu, assim, denunciar o domínio do dinheiro sobre o culto a Deus; o interesse econômico, no lugar do serviço  aos pobres; a “Casa de Deus”,  reduzida “em casa de negociantes” e anunciar que o culto a Deus não estava mais limitado a um espaço sagrado, mas, que qualquer ação humana, vivida, para amar e servir ao próximo, sobretudo, se carente ou marginalizado, era uma forma de culto espiritual, agradável a Deus.

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Neste novo Templo, Jesus, morto e ressuscitado – o único Sacerdote, que conduz ao Pai – participa seu poder sacerdotal à sua Igreja e a cada um de seus membros, chamados a oferecer suas vidas a Deus, fazendo de sua existência um dom de amor ao próximo. Cristo Jesus – nosso modelo de adoração  ao Pai e de intercessão a favor de todos os homens – com sua paixão e morte, salva os homens do pecado e da morte. Ele, novo Templo, novo Sacerdote, nova vítima e novo altar, oferece a Deus o novo e único sacrifício, a Ele agradável, e aos homens a alegria da “fraternidade e amizade social”, pois somos “todos irmãos e irmãs”.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES)

Foto do destaque: TC Digital/Arquivo

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