A revolução francesa (1789), tendo como suporte ideológico o pensamento dos filósofos Locke e Montesquieu, começou a tornar concreto o sonho de um Estado democrático. Hoje, todos os Estados modernos declaram-se democráticos: diferentes, porém, são as fórmulas. Democracia neoliberal: pouco Estado e muita iniciativa privada; democracia socialista: muito Estado e pouca iniciativa privada; democracia fascista, nazista, comunista: um partido e um ditador. É parlamentar, quando tem um primeiro-ministro, que governa com o apoio de partidos políticos; ou presidencial: quando um presidente executa um programa político, que o Congresso pontualmente aprova.

A Igreja aprecia e apoia o sistema democrático, por ser mais conforme à dignidade da pessoa humana e por  assegurar a participação de todos na vida da nação, garantindo a possibilidade de eleger, controlar e substituir, de modo pacífico, os próprios governantes; salienta, também, que uma democracia autêntica é chamada a dar uma atenção especial aos territórios mais distantes e atrasados e às categorias mais humildes e marginalizadas da população, pois “os governantes e os representantes políticos – segundo a Doutrina Social da Igreja – são a mão e a voz de Deus para o povo sofrido”.

A vida democrática, por ser rica e delicada, deve ser continuamente defendida e promovida. Como na agricultura, se deixarmos a natureza por conta própria, o inco acaba por tomar conta de tudo, assim, na vida democrática: ela definha se não for coibido o que prejudica o bem comum. O caminho, para promover uma sociedade justa e solidária, não é obra de um dia: é um processo contínuo de aprendizagem, pois requer a conversão dos corações, um diálogo constante e uma grande abertura de espírito, para valorizar a riqueza da diversidade, na unidade, afirmando o princípio: o que pertence a todos deve ser discutido e aprovado por todos, mediante “referendum”.

Missão específica da Igreja é ajudar os seus membros a adquirir uma consciência cívica para uma participação, consciente, ativa e responsável na vida da nação, insistindo na dimensão ética da vida política e no dever de todos em promover uma sociedade democrática, digna deste nome: “A importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica, antes a reforça” – diz o Concílio Vaticano 2º (GS 21). Inegavelmente a Igreja no Brasil é a instituição que, especialmente a partir de 1964, se tornou a consciência crítica da nação, apresentando uma folha de serviços continuados pelas causas da democracia.

A paz social é fruto do diálogo em todos os níveis: no interior das empresas, sindicados, movimentos sociais, universidades, partidos políticos e Igrejas e em cuidar para que não haja tirania de grupos minoritários que, manipulando a coletividade com votações apressadas e induzidas, impõem aos demais as próprias decisões sob a aparência de processo democrático: “O Estado democrático, ao promover uma justa distribuição de bens, faz surgir uma terra de irmãos” (Dom Luciano Mendes de Almeida). A Constituição democrática de 1988, aprovada em um plebiscito, fez crescer o povo brasileiro em dignidade, em sinal eficaz de paz e no sonho de um mundo livre e fraterno.

 

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: Arquivo / TC Digital

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