Com a volta das aulas presenciais, em sala de aula, o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, aponta que o exame de vista deveria ser obrigatório. Isso porque, segundo ele, o baixo rendimento escolar está associado à falta de óculos para 51% das crianças.
É o que indica pesquisa feita com 36 mil alunos matriculados nas escolas municipais de Campinas, São Paulo, conforme detalha a assessoria do Instituto. “O levantamento foi realizado durante programa social realizado sob a direção do oftalmologista pelo braço social do hospital em parceria com a Secretaria de Educação daquele município”, explica.
Na iniciativa as crianças receberam óculos doados por empresas do setor óptico após triagem visual e exame médico. “O estudo é resultado da avaliação dos pais e professores após um ano de uso dos óculos”, afirma Queiroz Neto.
Para o médico, o resultado explica porque o relatório do Pnud (programa das Nações Unidas para o desenvolvimento) revela que 1 em cada 4 crianças brasileiras abandonam a escola no ensino básico.
AUMENTO DA MIOPIA
Recentes pesquisas desenvolvidas na América Latina e China mostram que a miopia, dificuldade de enxergar à distância, aumentou entre crianças durante a pandemia. Os pesquisadores atribuem este crescimento à falta de exposição ao Sol no isolamento. Isso porque a radiação solar estimula a produção de um hormônio, a dopamina, que monitora o crescimento do olho, maior nos míopes.
Queiroz Neto afirma que as aulas online também contribuem. Isso porque, um levantamento realizado pelo médico com 360 crianças que permaneciam conectadas seis horas/dia encontrou miopia em 21% contra a prevalência de 12% apontada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte. “Isso acontece porque os músculos do olho sofrem um espasmo causado pelo excesso de esforço visual para perto”, explica.
Maioria nunca foi ao oftalmologista
São Paulo – O especialista diz que 7 em cada 10 crianças que participaram do programa realizado no hospital nunca tinham passado por consulta oftalmológica. A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) é de que na infância 20% precisam corrigir a refração.
“Na pandemia as crianças deixaram de usar a visão à distância e muitas não percebem que estão míopes. No hospital tem sido recorrente crianças que nunca usaram óculos chegarem à primeira consulta com dificuldade de enxergar. O problema de refração mais comum tem sido a miopia que está se tornando uma verdadeira epidemia global” – aponta o médico.
Outros problemas comuns na infância são a dificuldade de enxergar de perto ou hipermetropia, e visão desfocada para perto longe, o astigmatismo. Na infância o exame oftalmológico é essencial porque o olho está em desenvolvimento até a idade de 8 anos. “A falta de tratamento adequado neste período pode se transformar em deficiência visual grave e até levar à perda da visão”, alerta.
SINAIS
As dicas de Queiroz Neto para descobrir se a criança tem algum problema de visão que requer consulta imediata são:
Até dois anos
. Não reage a estímulos luminosos
. Lacrimejamento excessivo.
. Falta de interesse pelo ambiente à sua volta.
. Olhos desviados para o nariz ou para fora.
. Reflexo luminoso na pupila.
. Pupila muito grande, de cor acinzentada ou opaca.
Dos três aos cinco anos
. Desvio dos olhos.
. Quedas frequentes.
. Se aproxima muito da TV
. Inclina a cabeça para um dos lados ou para um ombro
. Vira um dos olhos para fora quando está distraída
. Fecha um dos olhos em locais ensolarados.
. Coça os olhos, especialmente quando manipula o celular ou assiste TV
. Queixa-se de visão dupla ou embaralhada
No início da alfabetização
. Faz careta ou franze a testa para enxergar.
. Cansaço nos olhos e dor de cabeça.
. Olhos vermelhos quando esforça a visão
. Dificuldade para enxergar o que está escrito na lousa.
. Aproxima o rosto do caderno, livro ou celular.
. Baixo rendimento escolar.
. Desinteresse na sala de aula.
. Não participa de atividades esportivas.
. Tem dificuldade em distinguir ou combinar cores.
Foto do destaque: Instituto Penido Burnier/Divulgação