THIAGO BETHÔNICO E LEONARDO VIECELI
BELO HORIZONTE, MG, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O MPF (Ministério Público Federal) questiona a ausência de perguntas que identifiquem a população LGBTQIA+ no Censo 2022. O órgão instaurou um procedimento para analisar o assunto.

No despacho, ao qual a reportagem teve acesso, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Lucas Costa Almeida Dias, solicita a verificação da não inclusão dos campos referentes à identidade de gênero e à orientação sexual nos questionários básico e amostral do estudo.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelo Censo, esses pontos nunca constaram nos questionários, e o tema já foi objeto de análise da Justiça.
O MPF atendeu a uma representação feita pelo CAV (Centro de Atendimento à Vítima) do Ministério Público do Acre.

Na representação enviada ao MPF, a procuradora Patrícia de Amorim Rêgo, coordenadora geral do CAV, argumenta que a ausência de informações na metodologia coloca as pessoas LGBTQIA+ na escuridão das políticas, planos, programas e projetos promovidos pelo Estado.

“Caso o Censo 2022 não considere essas pessoas na pesquisa de domicílio dos municípios brasileiros, mais uma vez as pessoas que não se identificam no binário feminino-masculino ficarão invisibilizadas e dificilmente as políticas públicas voltadas aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros alcançarão essas pessoas”, diz.

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“Nenhum grupo de população pode ficar excluída da amostra, sob pena de demonstrar um retrato incompleto da realidade”, acrescenta.
Em nota, o IBGE afirmou que o questionário do Censo demográfico foi finalizado em 2019 e dele nunca constaram perguntas sobre a orientação sexual ou o gênero dos moradores.

Segundo o instituto, o tema já foi objeto de análise da Justiça em 2018, em ação que pedia a inclusão de pergunta visando a contagem da população transexual.
Na época, o IBGE afirmou que questões de identificação, que exigem o próprio como respondente, não são compatíveis com uma operação censitária.

“A investigação de gênero é considerada como quesito sensível, ou seja, quesito que pode ser considerado invasivo e pessoal pelo respondente, podendo impactar na coleta de todas as demais informações.”

Os argumentos do IBGE foram acolhidos e a ação civil pública foi julgada improcedente.
Segundo o IBGE, a definição dos quesitos que constam na pesquisa é um processo complexo e que envolve o atendimento à necessidade de informação da sociedade. Além disso, deve considerar fatores como a necessidade de manter a série histórica de dados, a avaliação de novas necessidades de informação, e as alternativas disponíveis de obtenção dos dados.

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O Censo é considerado o trabalho mais detalhado sobre as características demográficas e socioeconômicas dos brasileiros.
Na prática, os dados apurados pelo IBGE funcionam como base para uma série de políticas públicas, além de decisões de investimento de empresas.
O levantamento costuma ser feito de dez em dez anos. A edição mais recente ocorreu em 2010.

Inicialmente, a nova pesquisa estava prevista para 2020. Contudo, a pandemia acabou impedindo o trabalho do instituto nas ruas do país no ano passado.
Em 2021, o Censo amargou novo adiamento. Desta vez, o motivo foi o corte de recursos destinados à pesquisa.

Segundo cálculos do IBGE, a produção do levantamento exige a quantia de R$ 2,29 bilhões.
As informações do Censo balizam, por exemplo, os repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), fonte de recursos para as prefeituras.
Desde o começo de novembro, as 27 unidades da federação estão recebendo uma rodada de testes para a pesquisa do próximo ano.

Um dos objetivos é verificar sistemas e equipamentos de coleta de informações. Para a realização do trabalho, o IBGE selecionou bairros, comunidades, distritos e municípios em todos os estados e no Distrito Federal.

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Os testes devem ocorrer ao longo do mês de novembro e em parte de dezembro, com uma equipe de 250 recenseadores.
No estado de São Paulo, o local escolhido para receber os preparativos é o bairro Prosperidade, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

 

Foto do destaque: Ricardo Benichio/folhapress

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