Por
Wellington Prado
Repórter
Diante dos desafios postos pela pandemia do novo coronavírus, o empreendedorismo é o instrumento que moradores de São Mateus usam para garantir o sustento da família. Quem perdeu o emprego criou o próprio negócio. Informais se regularizaram. Estes e até mesmo quem já estava no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) utilizaram a criatividade e inovação para ampliar a renda.
De acordo com a Junta Comercial do Espírito Santo, São Mateus teve um aumento de 8,5% na abertura de novas microempresas de 2019 para 2020, ano de início da pandemia. Em 2019, 248 microempresas foram abertas no Município. Já em 2020, mesmo em período pandêmico, 269 microempresas nasceram em São Mateus. Neste ano, até o momento, 189 microempresas foram criadas.
Entre os novos negócios está o de Franco Barbosa Flores, 30 anos. Técnico em eletrotécnica e estudante universitário de Ciências da Computação, ele começou a prestar serviço informal de manutenção de telefone celular e notebook no início de 2020. Um ano depois se formalizou e já ganha frutos com o CNPJ ativo.
Casado e pai de duas crianças, uma de 8 anos e outra de 2, Franco começou com três ou quatro atendimentos por dia. Entretanto, após três meses, veio a pandemia e ele teve que ficar praticamente parado.
Desânimo? Nada disso! Franco usou a criatividade e implementou o serviço de busca e entrega dos aparelhos na casa do cliente. Desta forma, mesmo com as limitações impostas pelo distanciamento social, ele conseguia realizar novamente de dois a três atendimentos diários, o que ainda era abaixo do necessário para sustentar a família, já que a única fonte certa de renda era o auxílio emergencial.
CNPJ e emissão de nota fiscal eletrônica fortalecem novos negócios
O microempreendedor Franco Barbosa Flores destaca que os negócios deram uma guinada após ele procurar a Sala do Empreendedor, espeço oferecido pela Prefeitura de São Mateus em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Aliás, orgulha-se de ter sido o primeiro atendido no local, inaugurado em janeiro deste ano.
Franco detalha que uma agente capacitada pelo Sebrae, que atua na Sala do Empreendedor, explicou os benefícios de ter um CNPJ. Se formalizou e passou a emitir a nota fiscal, conseguindo assim melhores fornecedores e obtendo peças de melhor qualidade para dar sequência no negócio.
O mateense também saiu da Sala do Empreendedor com um crédito do Programa Nosso Crédito, do Governo do Estado, que tem agente no local. Com o recurso, obtido com juros abaixo do mercado, foi ele comprou equipamentos mais modernos, incluindo um microscópio.
Para alavancar ainda mais o trabalho de Franco, a Prefeitura de São Mateus passou a oportunizar em maio a emissão de nota fiscal eletrônica de serviços.
Com isso, o mateense passou a prestar serviços de assistência técnica de telefones celulares e notebooks para empresas, mais que dobrando os atendimentos diários. Atualmente, chega a atender 10 clientes por dia e já precisou contratar um funcionário com carteira assinada.
“Meu projeto agora é focar na prestação de serviço para grandes empresas”, adianta Franco, que evoluiu de desempregado a patrão em plena pandemia.
Empreendedora aumenta a renda em 30%
Profissional de alongamento artificial de unhas, Nádia Valfré ampliou a renda em 30% neste ano, mesmo em meio à pandemia. Ela procurou a Sala do Empreendedor e conseguiu crédito do Programa Nosso Crédito, o que possibilitou mudar o atendimento, que era feito na própria residência, para um espaço mais amplo.
Nádia decidiu empreender na própria casa no ramo da estética de unhas há cinco anos após trabalhar como professora. Microempreendedora individual (MEI), a mateense ganhou clientela, mas se deparou com a pandemia do coronavírus no início de 2020.
Depois de um mês parada, retomou o negócio adotando protocolos para atrair novamente a clientela. Nádia ampliou o horário de agendamento de 1 hora e 20 minutos para duas horas a cada cliente, criando um intervalo entre os atendimentos. Esse espaço na agenda permite a higienização e evita o contato entre os clientes. Ela ainda manteve tapetes de higienização na entrada da residência e estabeleceu o uso irrestrito de máscaras.
Os protocolos fizeram reduzir a quantidade de atendimentos. Sendo assim, a empreendedora resolveu inovar mais uma vez. Com crédito conquistado no início de 2021 na Sala do Empreendedor, buscou um espaço maior no centro da Cidade e investiu na estrutura. Com um estúdio mais amplo, Nádia disponibilizou salas para mais sete novos empreendedores, que prestam outros serviços estéticos, como massagem, aplicação de cílios e cabelo.
Com a locação das salas, ela viu ampliar a rotatividade de clientes e aumentou a renda em 30%, além de possibilitar que outras pessoas possam garantir o sustento nesta pandemia.
Mais de R$ 700 mil em crédito
Secretário Municipal de Planejamento, Captação de Recursos e Desenvolvimento Econômico, Hassan Rezende destaca que o Município tem executado políticas públicas direcionadas às micro e pequenas empresas.
Conforme disse, um dos pontos foi a adesão ao Programa Cidade Empreendedora, parceria da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Dentro deste projeto, a Prefeitura inaugurou, em janeiro, a Sala do Empreendedor. No mesmo local, os interessados em empreender recebem orientações sobre os procedimentos para ser um MEI, capacitações sobre negócios e créditos e até mesmo na obtenção do crédito dentro do programa Nosso Crédito. “Neste ano, até o momento, já foram aportados R$ 720 mil em créditos”, detalha.
NFe permite mais competitividade
A Prefeitura de São Mateus passou a possibilitar a emissão de nota fiscal eletrônica de serviço para os microempreendedores individuais. A lei foi sancionada pelo prefeito Daniel Santana em maio. Até então, a emissão da nota fiscal era feita por meio de blocos de preenchimento manual.
O secretário Hassan frisa que, dessa forma, alguns microempreendedores acabavam criando o CNPJ em outros municípios, embora continuassem prestando o serviço em São Mateus. Inclusive dando prejuízos ao Município, já que os impostos gerados em São Mateus eram recolhidos por outra prefeitura.
Com a mudança, o secretário ressalta que os microempreendedores podem, agora, prestar serviços para grandes empresas e administrações públicas que exigem a nota fiscal eletrônica.
Hassan acrescenta que os beneficiados também poderão gerir melhor o tempo, ter mais competitividade no mercado e até economizar, já que os empreendedores também tinham custo ao retirar os blocos de notas na Prefeitura. Segundo ele, a cada 50 blocos retirados, os donos de negócios gastavam R$ 100. O serviço eletrônico é gratuito.
O secretário salienta ainda que é preciso emitir nota fiscal eletrônica para a venda de produtos. Quando isso ocorrer, entende que haverá ainda mais avanços para os microempreendedores.
A Secretaria Estadual da Fazenda confirma que no momento não existe a possibilidade do microempreendedor individual (MEI) emitir notas fiscais cujos fatos geradores estejam no campo do ICMS.
Foto do destaque: Divulgação
