Professor aposentado de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Arlindo Villaschi Filho entende que a evolução cientifica é socialmente construída. Sendo assim, observa que os frutos das mudanças tecnológicas, inclusive financeiros, devem sim ser distribuídos socialmente, também para os trabalhadores e para micros, pequenas e médias empresas.

Nesse Dia do Trabalhador, comemorado em 1º de maio, o professor relata que “estamos diante de uma possibilidade de, não só na Inteligência Artificial, mas de todo o processo de mecanização, que libera a mão de obra”.

“Então, cada vez mais precisamos de menos mão de obra para fazer as mesmas coisas. Este ganho de produtividade é fruto de quê? É fruto de mudanças tecnológicas que são possíveis a partir da evolução da ciência. E evolução da ciência deve ser socialmente construída. Se ela é socialmente construída, a outra ponta, lá de baixo, que é o aumento da produtividade, nós temos que também distribui-la socialmente” – avalia.

O professor Arlindo Villaschi argumenta que existe uma falsa ideia, “e ela é falsa mesmo”, de que a ciência, as tecnologias, tudo isso é fruto de dispêndios de empresas. “Consequentemente essas empresas ou capital se sentem no direito de usufruir todos os benefícios, principalmente todos os benefícios financeiros dessa evolução da ciência e tecnologia”, afirma.

Então, diante disso, o professor defende que é preciso um debate com a sociedade, incluindo os empresários, investidores e cientistas. “Já que é socialmente construído, nós temos que também compartilhar os frutos positivos, porque aí, o que vai acontecer? Você e eu vamos trabalhar menos, mas vamos ter direito de receber vantagens financeiras em função dos frutos que essa tecnologia está gerando” – reforça.

Melhora da produtividade não deve

ficar só na mão de quem detém o capital

 

Para o professor aposentado de Economia da Ufes, Arlindo Villaschi Filho, toda mudança tecnológica é saudável. Entretanto, entende que a melhora na produtividade e os frutos financeiros não devem ficar só na mão de quem detém o capital. “Tem que ser compartilhado”, aponta.

O professor frisa que essa questão é sempre um desafio. “Porque todas as vezes que tivemos mudança tecnológica, tivemos também uma disputa do quanto fica para quem. Então, lá atrás, na época da máquina a vapor, quem é que ficava com o dinheiro, quanto ficava com o empresário, quanto ficava para o trabalhador? Isso é conflito, mas um conflito que se resolve negociando” – aponta.

Conforme observa o professor Arlindo Villaschi, a parcela que detém a maior parte do capital do mundo, caso não haja uma distribuição social dos frutos das mudanças tecnológicas, estará cada vez mais rica e a desigualdade aumentará.

“Se observar os últimos 30 anos, a concentração de renda no mundo aumentou uma barbaridade. Por quê? Os donos da Facebook, da Amazon e etc, ficaram com poderes monopolistas e ganharam muito dinheiro e continuam ganhando muito dinheiro. A indústria armamentista ganhou muito dinheiro e continua ganhando. A indústria farmacêutica, o sistema financeiro. E o que aconteceu principalmente com os trabalhadores, as microempresas, pequenas empresas e até mesmo a média empresa? Eles ficaram defasados” – avalia.

Para o professor Arlindo Villaschi, “um problema é que a classe média, quem eventualmente são donos de micro, pequenas e médias empresas, só olha para baixo, nunca olha para cima”.

“Se tivéssemos consciência do quanto estamos perdendo relativamente ao andar de cima, certamente reclamaríamos muito menos dos que estão em baixo e estão eventualmente melhorando um pouquinho”, ressalta.

“Valorizar o trabalho enquanto

uma engenhosidade humana”

Próximo do 1º de maio, o professor Arlindo Villaschi Filho afirma que é preciso valorizar o trabalho enquanto uma engenhosidade humana, independente de qual seja o tipo de função.

“Se nós quisermos colocar o humano no centro de toda a evolução, de todo o progresso econômico, temos que dar o verdadeiro valor a essa engenhosidade humana que é o trabalho, para todas e todos”, reflete.

Quando se fala em engenhosidade humana, o professor destaca que todos os profissionais são engenhosos, independente se têm, por exemplo, um curso superior. “Imagine a engenhosidade dos quilombolas? Imagine a engenhosidade dos nativos? Essa engenhosidade também precisa ser valorizada. Não é só você como jornalista, eu como professor e pesquisador, ou a minha amiga que é médica, ou a minha esposa que é arquiteta, é todo mundo. Se todos nós não tivermos colocando a nossa engenhosidade a serviço do bem comum, aí o progresso é menor. E se o progresso é menor, todos nós beneficiaremos menos. Então, se o progresso é maior, todos temos que nos beneficiar. É socialmente mais justo” – complementa.

PERFIL

Arlindo Villaschi Filho nasceu em São Gabriel da Palha e atualmente reside em Vitória. Se formou em Economia em 1969 pela Ufes. É também especialista em Problemas do Desenvolvimento Econômico pela Cepal/Ilpes (1969), mestre em Economia Regional pela Universidade da Califórnia (1972) e doutor em Economia pela Birkbeck College, Universidade de Londres, (1993).

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