FILIPE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de o mercado de fintechs desafiar os grandes bancos com contas digitais, cartões de crédito e empréstimo para pessoas físicas sem acesso a serviços financeiros ou que arcavam com custos altos, o setor começa a atrair mais recursos para startups interessadas em repetir o movimento mirando pequenas empresas.

Apesar de o atendimento a pessoas jurídicas ser mais complexo, o cenário é parecido com o que existe para pessoas físicas: uma grande concentração do mercado em poucos bancos e a oportunidade de ganhar mercado reduzindo taxas e tornando serviços mais digitais.

Foto: Reprodução / rawpixel.com – br.freepik.com

O movimento tem entre seus motores uma nova regulamentação lançada pelo Banco Central, que entrou em vigor em junho, com novas regras para registro dos valores que companhias têm a receber por vendas pagas pelos clientes no cartão de crédito.

Esses valores passaram a ser informados a câmaras registradoras, que agora conectam interessados em antecipar recebíveis e quem está disposto a fornecer o recurso. Antes, esse crédito era concedido, via de regra, pela adquirente -a dona da maquininha usada pelo lojista.

Segundo o advogado Pedro Eroles, sócio do escritório Mattos Filho, a possibilidade de que empresas compartilhem informações sobre seus recebíveis abre espaço para que mais fintechs entrem na competição oferecendo a antecipação dos valores com taxas menores.

Um dos modelos de negócios viabilizado por este novo cenário foi proposto pela Marvin. A fintech criou uma plataforma em que a empresa que quer antecipar valores que têm a receber acessa propostas de diferentes bancos, fundos e fintechs.

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A startup também permite que a titularidade do recebível seja transferida para um fornecedor da empresa. Com isso, a indústria pode dar mais prazo de pagamento para o varejo que compra estoque sem aumentar o risco de levar calote, diz Henrique Echenique, sócio da fintech. “A indústria vende mais e o varejo compra melhor”, defende.

Fundada em março, a startup captou investimentos das gestoras Mauá (do ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo) e Canary e do executivo Eduardo Gouveia, ex-presidente da Cielo. Os valores não foram revelados, mas a startup afirma ter superado R$ 65 milhões em valor de mercado.

A TruePay, lançada em dezembro de 2020, é outra que conseguiu no mês passado um investimento alto para seu estágio de desenvolvimento: R$ 45 milhões.
A startup também conecta varejistas e fornecedores, permitindo que o valor das parcelas pagas pelo cliente seja direcionado para a conta do segundo.

Luis Eduardo Cascão, cofundador da startup, diz que a fintech oferece a varejistas um meio de pagamento com limite de crédito vinculado ao que ela tem a receber por compras a prazo. “O varejista só precisa dizer que quer pagar com TruePay para seu fornecedor que aceita esse formato de pagamento”, explica.

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“Nunca vivenciamos uma oportunidade tão grande de melhorar as relações comerciais em um mercado desse tamanho”, diz o empresário, que trabalhou em fundos de venture capital antes de iniciar a startup.

Na Blu, a injeção de capital recebida foi de R$ 300 milhões, anunciada em julho. A fintech está no mercado desde 2013, também conectando varejistas e fornecedores. Para viabilizar a operação, a fintech dependia que seus clientes usassem seu serviço de recebimento de pagamentos via cartão.

Com a nova regulação, é possível atuar com recebíveis de qualquer origem, afirma Rafael Sobral, copresidente da empresa. Segundo o executivo, a Blu tem como parceiros 2.500 indústrias que atendem a 15 mil varejistas em sete segmentos e deve expandir suas áreas de atuação.

O mercado também vê o crescimento de fintechs que buscam funcionar como bancos completos apenas para PJs.

David Mourão, sócio do Banco Linker, diz que o objetivo da startup é dar atendimento 100% digital para empresas, como fintechs permitiram a pessoas físicas.

Outra especializada em empresas, a fintech Cora levantou US$ 142,7 milhões neste ano, em duas rodadas de investimento.

Além das novas startups, algumas das principais fintechs que conquistaram espaço no mercado de pessoas físicas devem ampliar a atuação junto a outras empresas.
O Nubank atende atualmente apenas empresas de um único sócio, mas deve retirar a limitação ainda neste ano, diz Livia Chanes, vice-presidente de produto da empresa.
Chanes diz que a fintech ampliou em 200% o número de clientes empresariais em 12 meses. Das novas contas, 37% são de empresas com menos de três meses.

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Ela espera que grande parte do crescimento da fintech no segmento no pós-pandemia venha do aumento no número de profissionais que atuam como free lancers e precisam de uma solução rápida e sem custo.

Já o PicPay, do grupo J&F, promete adicionar a seu serviço no próximo trimestre uma plataforma em que empresas clientes poderão acessar crédito oriundo de diferentes fornecedores, diz Adriano Navarini, diretor sênior de Serviços Financeiros PJ. A relação da fintech com empresas acontece principalmente pela rede de estabelecimentos credenciados para receber pagamentos de quem tem a conta digital da empresa.

A fintech tem como aposta para oferecer melhores condições de financiamento a pessoas jurídicas a incorporação do GuiaBolso, startup adquirida em julho. O serviço, que atendia principalmente pessoas físicas, apresenta relatórios sobre a vida financeira do usuário unindo despesas e receitas de contas variadas.

Segundo Navarini, como o comportamento de pequenos empreendedores é muitas vezes parecido com o de pessoas físicas, com o uso simultâneo de várias contas e cartões,o PicPay poderá conhecer melhor o comportamento financeiro das empresas clientes e oferecer profutos financeiros adequados para cada companhia a partir dos dados compartilhados com o GuiaBolso.

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