A nomeação de Dom Ailton Menegussi para ser o terceiro bispo de Crateús (CE), no dia 6 de novembro de 2013, foi comemorada em todo o norte capixaba. Filho de agricultores de Nova Venécia, o bispo Ailton representava, naquele momento, a maturidade da Diocese de São Mateus, que “tem uma das histórias mais bonitas, mais forte, da Igreja do Brasil”, como ele mesmo define em entrevista exclusiva à Rede TC.

Ao comentar os 60 anos da Igreja Particular de São Mateus, dom Ailton enfatiza que, observando de longe, numa outra realidade, fica ainda mais evidente a “Igreja comprometida com a vida do povo, com a promoção humana, com os valores da fé cristã”.

O BISPO

Décimo filho de Pedro Menegussi Sobrinho e Aurora Passini Menegussi, Ailton Menegussi nasceu no dia 5 de novembro de 1962, na Comunidade Córrego das Flores, em Nova Venécia. Foi ordenado padre na cidade natal, no dia 22 de novembro de 1998, há 20 anos. Exerceu a maior parte do ministério como reitor do Seminário Menor João XXIII (2000-2003) e do Seminário Maior São Mateus (2004-2012). Antes da nomeação como terceiro bispo de Crateús, exercia a função de pároco em Barra de São Francisco. A sagração episcopal ocorreu no 21 dezembro de 2013, na Catedral de São Mateus. Em 4 de janeiro de 2014, assumiu o episcopado no sertão cearense.

A ENTREVISTA

Rede TC de Comunicações – Como Dom Ailton avalia os 60 anos da Diocese de São Mateus?

Dom Ailton Menegussi – Sou muito devedor naquilo que faço hoje, na missão que a Santa Igreja me confiou, à experiência que me foi transmitida. A Diocese de São Mateus tem uma das histórias mais bonitas, mais forte, da Igreja do Brasil, no sentido de ser comprometida com a vida do povo, com a promoção humana e com os valores da fé cristã. Vivendo agora numa outra realidade, olhando de longe, a gente percebe a beleza da Igreja de São Mateus, que conseguiu harmonizar a dimensão social –da promoção da vida e da promoção humana– sem perder de vista os valores religiosos, a espiritualidade, os sacramentos, como combustível que alimenta e fortalece as outras dimensões da fé. Dom Aldo foi, e continua sendo, um ícone como alguém que soube fazer esta síntese bonita.

Rede TC – Como foi recebida essa experiência que o senhor levou do norte do Espírito Santo para o sertão do Ceará?

Dom Ailton – Encontrei aqui, sobretudo nas regiões de Crateús e Inhamuns, uma Igreja muito parecida com a de São Mateus. As opções que o primeiro bispo, também da época do Concílio Vaticano II, fez aqui são muito parecidas com as de Dom Aldo. Ele foi um dos que assinaram o Pacto das Catacumbas. Dom Antônio Fragoso permaneceu aqui por 34 anos e deixou essa marca forte. É claro que isso também me ajudou ao chegar e não encontrar um jeito de ser Igreja muito diferente daquele de São Mateus. Há uma Igreja muito viva no sertão do Ceará. A gente tem a alegria de dizer também que a Igreja no Ceará tem consciência da necessidade desse compromisso com a vida, de estar a serviço da vida, a partir dos mais pobres, dos excluídos. Dentro desse cenário nacional, com todas as crises que o Brasil experimenta, o Estado do Ceará tem se destacado também em algumas questões, inclusive na educação. Aqui na região temos vários municípios assessorados e supervisionados pela Cáritas Diocesana de Crateús, com uma educação contextualizada, que é um jeito de formar crianças, jovens e adolescentes a partir da realidade local. Além disso, o Ceará nos últimos anos –estou aqui há praticamente cinco anos, mas desde antes– também criou uma infraestrutura de convivência com a seca. Tanto que estamos passando ainda por um período muito longo de estiagem e, em outros tempos, teríamos expressões muito visíveis de fome, de saques em supermercados, mas isso não se viu.

Rede TC – O que o senhor encara como desafios?

Dom Ailton – Várias coisas me preocupam. Neste momento vem muito forte à memória o processo de secularização pelo qual passa o mundo. A secularização é legítima, mas, às vezes, o que se vê é um secularismo. Parece quase uma investida contra alguns valores que, para mim, continuam sendo importantíssimos. Isso vai sendo relativizado, vai sendo banalizado. Preocupa saber como será a Igreja do futuro a partir dessas novas gerações que vão ficando muito fragilizadas. Temos um grande desafio que passa pela catequese: Como catequizar, como continuar transmitindo às novas gerações, os valores da nossa fé? Com que linguagem? Com que metodologias? Para que a gente consiga colocar no coração das pessoas algumas convicções, mesmo que, diante desta ou daquela lei que o Estado possa promulgar, não deixaríamos de nos portar como homens e mulheres de fé, como cristãos. Então temos um grande desafio que é catequizar as novas gerações. E depois o Brasil está passando por este momento de transição política, temos que nos preparar também porque possivelmente poderá haver alguma dificuldade em relação à Igreja. Às vezes penso nisso, a gente nunca sabe o que vem. A Igreja ainda incomoda nossos poderes políticos e econômicos. A gente tem que estar atentos porque pode vir alguma investida, dificultando a nossa vida enquanto Igreja.

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