SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério das Relações Exteriores da China reagiu nesta quarta (11) a comentários do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, que chamou de insustentável a política de Covid zero adotada por Pequim. A chancelaria descreveu as falas como irresponsáveis e pediu que o etíope revise sua postura.

Durante coletiva de imprensa em Genebra, na terça (10), Adhanom criticou a política chinesa de eliminar por completo a convivência com o coronavírus, argumentando que a estratégia vai na contramão das características atuais de evolução do microrganismo. As declarações foram sustentadas por outros especialistas da organização.

A epidemiologista Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para assuntos relacionados à Covid, disse que o objetivo atual a nível mundial não é detectar todos os casos, nem impedir completamente a transmissão do vírus –como tem tentado fazer o regime chinês. “O que temos que fazer é reduzir a taxa de transmissão, porque o vírus está circulando em um nível muito alto de intensidade”, finalizou.

 Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, foi questionado sobre as declarações durante entrevista coletiva. Após defender o modelo chinês, que disse ter legado ao país um dos resultados de controle do vírus mais bem-sucedidos no mundo, afirmou que a “política dinâmica de Covid zero não visa encerrar as infecções, mas controlar o vírus com o mínimo custo social e no menor tempo possível”.

Pouco depois, quando questionado de maneira mais enfática por outro repórter, declarou: “Esperamos que as autoridades olhem para a política de Covid da China de forma objetiva e racional, aprendam mais sobre os fatos e evitem fazer comentários irresponsáveis”.

As críticas feitas pela OMS também foram censuradas nas redes sociais chinesas, para que as declarações de Adhanom não fossem oxigenadas no ambiente doméstico. Na plataforma Weibo, similar ao Twitter, as hashtags “Tedros” e “OMS” não apresentavam resultados. Já no WeChat, não era possível compartilhar artigo publicado na plataforma oficial das Nações Unidas com as críticas do diretor.

“Isso mostra que Pequim tem tolerância zero a qualquer pessoa que desafie a política de Covid zero”, afirmou o pesquisador de mídia Fang Kecheng, da Universidade Chinesa de Hong Kong, à agência de notícias Reuters. “Esta questão foi totalmente politizada, e qualquer opinião divergente seria considerada um desafio à liderança”.

O modelo adotado pelo regime comunista chinês teve como um dos mais recentes desdobramentos o confinamento de Xangai, polo financeiro de 26 milhões de habitantes, que entra na sexta semana de bloqueio abrangente, durante o qual manifestações contrárias à política de Covid zero, como relatos de desabastecimento de alimentos e violação de privacidade, foram registradas.

A cidade não relatou novos casos sintomáticos fora das áreas com restrições mais rígidas nesta terça pela primeira vez desde o início do mês, de acordo com cifras oficiais. As autoridades, porém, dizem que ainda não chegou o momento para afrouxar as restrições. “O risco de haver um novo pico permanece”, disse Zhao Dandan, vice-diretor da comissão de saúde de Xangai.

Desde o início da pandemia, a China acumula 1,1 milhão de casos confirmados da doença e 5.200 mortes em decorrência da Covid. Mais de 86% da população completou o primeiro esquema vacinal, mas apenas metade dos chineses com mais de 80 anos o fizeram.

Estudo de cientistas chineses e americanos publicado na terça mostrou que, se Pequim abandonar sua dura política de “Covid zero” sem tomar medidas extras –como ampliar vacinação e acesso a tratamentos–, pode colocar a vida de mais de 1,5 milhão de pessoas em risco.

O assunto também foi abordado pelo porta-voz da chancelaria, que o usou como argumento para defender a estratégia. “A política dinâmica de Covid zero ofereceu proteção eficaz a idosos e grupos mais vulneráveis; ela é absolutamente diferente de abordagens de imunidade de rebanho ou imunidade natural adotadas por outros países.”

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