SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após meses de acirramento da tensão entre EUA e China, com a intensificação da chamada Guerra Fria 2.0, Pequim agora começa a falar em “estabilizar as relações sino-americanas” e “evitar acidentes”.

As declarações ocorreram após um encontro do chanceler chinês, Qin Gang, com o embaixador americano Nicholas Burns em Pequim nesta segunda-feira (8). Para o chinês, “uma série de palavras e ações errôneas dos EUA minou o impulso positivo das relações bilaterais”.

“A agenda de diálogo e cooperação foi interrompida, e o relacionamento mais uma vez esfriou como gelo”, disse ele.

O histórico ao qual Qin se refere é bem conhecido. O ápice do imbróglio diplomático entre as potências foi registrado em agosto passado, quando a então presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, fez uma visita oficial a Taiwan, a ilha que a China considera parte inalienável de seu território.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Pequim condenou a medida e também promoveu o que Taipé chamou de uma espécie de bloqueio à ilha de Taiwan, que tem nos EUA um de seus maiores aliados diplomáticos e militares, ainda que Washington não reconheça, oficialmente, a sua soberania.

O regime chinês também suspendeu o diálogo militar e as negociações diplomáticas com os EUA em diversas áreas, entre elas a de emergência climática, dias após a visita de Pelosi.

As falas de Qin nesta segunda dão a entender que isso poderia ser revertido em algum momento.

A situação parecia acalmar quando o presidente americano, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping, tiveram um encontro presencial em Bali, na Indonésia, em novembro passado, durante a cúpula do G20.

Mas, poucos meses depois, em fevereiro deste ano, teve início uma nova crise diplomática quando os EUA acusaram a China se espionar seu território por meio de balões de alta altitude, alguns dos quais chegaram a ser abatidos para estudo posterior.

No mesmo mês, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, insinuou que Pequim considerava enviar armas para a aliada Rússia usar na Guerra da Ucrânia. A alegação foi rechaçada pela China, que diz ser um agente neutro no conflito, e, dias depois, o próprio presidente Biden afirmou não acreditar que o país faria isso.

Ainda no comunicado após a reunião com o embaixador Burns, o chanceler chinês disse que os EUA devem corrigir a forma como lidam com a questão de Taiwan, que é hoje a parte mais sensível da relação entre os dois países, junto com a disputa tecnológica, e “impedir o esvaziamento do princípio de uma só China”.

Da parte americana, o aceno foi comedido por ora. No Twitter, o embaixador do país na China disse que foram discutidos os desafios no relacionamento entre os dois países e a necessidade de estabilizar e expandir a comunicação de alto nível entre Pequim e Washington.

Também na frente diplomática, Pequim anunciou nesta segunda-feira que o ministro Qin Gang está dando início a um giro pela Europa que o leva a Alemanha, França e Noruega para reuniões com seus homólogos. Espera-se que a Guerra da Ucrânia seja um dos assuntos principais.

Há menos de duas semanas, Xi e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, conversaram pela primeira vez desde que a guerra teve início, em fevereiro de 2022. O chinês teria prometido enviar à Ucrânia e a outras nações seu representante especial para Assuntos Eurasiáticos, Li Hui, ex-embaixador em Moscou, para “comunicações de caráter aprofundado sobre a solução política da crise”.

A China tem tentando se apresentar como um agente neutro no conflito que, portanto, poderia contribuir para a paz. Em fevereiro, apresentou um plano para a paz com 12 pontos estratégicos, mas o material foi recebido sem ânimo pelo Ocidente.

Em outra frente, há também uma preocupação crescente entre os países-membros da União Europeia (UE) em diminuir a dependência econômica do bloco em relação à China, no que dizem ser uma espécie de aprendizado após a guerra, quando tiveram que buscar alternativas à dependência do gás natural russo.

A visita de Qin pode ocorrer sob um clima pouco ou nada amigável. Reportagem do Financial Times deste domingo (8) revelou que a UE incluiu sete empresas chinesas em um novo pacote de sanções econômicas que será debatido pelos Estados-membros nesta semana.

A inclusão seria uma forma de punir empresas da China continental e de Hong Kong acusadas de vender equipamentos que poderiam apoiar a Rússia na guerra. Pequim reagiu. Durante uma reunião matinal diária com jornalistas, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse que o país insta a UE a “evitar seguir o caminho errado”.

“A China se opõe a ações que usam a cooperação China-Rússia como um pretexto para impor sanções ilegais contra Pequim”, afirmou ele.

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