Por
Márcio Castro*

Camata não foi apenas o governador de muitas estradas. Ele também participou ativamente da reconstrução democrática do Brasil. Eleito governador em 1982, quando o governo do General Figueiredo já não conseguia segurar a vontade nacional de se restabelecer a democracia no Brasil. Camata participou ativamente da articulação para o fim da ditadura militar. Ele incentivou o movimento pelas Diretas Já, que buscava o restabelecimento da eleição direta para Presidente do Brasil. Sim, naquela época, tempo da ditadura militar, o povo brasileiro não tinha direito a escolher o Presidente da República. Apenas meia dúzia de generais se reunia e escolhia o próximo Presidente.

Ex-governador e ex-senador, Gerson Camata foi assassinado na tarde de quarta-feira (26). -Foto: Tonico/Ales

Foi o movimento político-social liderado pelo PMDB, PT, PDT e pelos sindicatos e associações civis que catalisou a opinião pública brasileira e impôs o fim da ditadura. Foi com Camata em Vitória que Tancredo Neves proclamou a Nova República. Com Tancredo morto precocemente, antes de tomar posse na Presidência, coube então ao vice-presidente José Sarney, em conjunto com o presidente do PMDB, deputado Ulysses Guimarães, liderar o Brasil na convocação e realização da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a nova Constituição Federal, restabelecendo a plena democracia e assegurando um arcabouço jurídico que pretendia criar no Brasil um estado de bem-estar social, inspirado no modelo europeu.

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Camata realizou um governo com todas as forças democráticas. Seu vice-governador era José Moraes, ex-deputado que tinha um perfil político conservador. Ao mesmo tempo, tinha no secretariado o ex-professor da Ufes Ricardo Santos, de perfil progressista, que implantou um programa de reforma agrária ordeira, com aquisições de propriedades rurais e assentamento de centenas de trabalhadores rurais sem terra.

No Governo Gerson Camata, havia espaço político para a atuação do deputado conservador Hermes Laranja, que virou o primeiro prefeito eleito da capital capixaba após o fim do regime militar, ao mesmo tempo em que o jovem deputado estadual Paulo Hartung, egresso do Movimento Estudantil da Ufes e com raízes no Partido Comunista Brasileiro, se afirmava como nova liderança.

O reconhecido desempenho de Camata no governo capixaba fez dele uma liderança inesquecível e assim ganhou três eleições consecutivas para o Senado e influenciou decisivamente na eleição da então jovem esposa Rita Camata, que se elegeu deputada federal por cinco mandatos.

Economista formado, além da boa gestão administrativa, Gerson Camata ficou marcado por sua capacidade de comunicação. Homem sensível, compreendia muito bem as necessidades da população e sabia verbalizar como ninguém essas percepções. Jornalista profissional, fez da Secretaria de Comunicação Social um importante instrumento de governo, mobilizando os capixabas em campanhas de civilidade no ambiente urbano e em defesa dos interesses estaduais, como a manutenção do Funres, o Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo, que enfrentava oposição de outros estados em disputa junto ao Governo Federal.

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Por tudo isso, Camata deixou saudades. Agora, que descanse em Paz e que Deus conforte a todos e em especial a sua família.

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(*Diretor Geral da Rede TC de Comunicações.)

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