A busca por novos medicamentos continua sendo um desafio para a humanidade. Desde a descoberta de um novo fármaco até sua autorização para comercialização, várias etapas são realizadas. Isso demanda alto investimento e inúmeras análises, sempre com rigoroso controle ético e científico que comprovem a segurança e a eficácia no seu uso para o tratamento de determinadas patologias.

Vivenciamos uma busca frenética e urgente por um tratamento eficaz para a Covid-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Várias são as tentativas de uso de medicamentos já existentes, com destaque para o uso inadequado da cloroquina e da ivermectina. A cloroquina ficou em evidência pela divulgação, no início de 2020, de resultados positivos de um pequeno ensaio clínico, realizado pelo microbiologista francês Didier Raoult. Em janeiro deste ano, o pesquisador admitiu que o fármaco não reduz a mortalidade da doença. Somado a isto, temos relatos do aumento de problemas cardíacos pelo uso da cloroquina como estratégia terapêutica no tratamento da Covid-19.

Do mesmo modo, informações sem comprovação científica apontam a eficácia da ivermectina (antiparasitário) após a divulgação da sua ação sobre o Sars-Cov-2 em cultura de células. Porém, nenhum dos resultados foram reprodutíveis nos estudos clínicos em humanos e ainda, estima-se que a dose necessária para alcançar os mesmos efeitos antivirais experimentais observados ultrapassa as doses consideradas seguras. O seu mal-uso tem sido associado a efeitos perigosos à saúde, estando relacionado até mesmo à hepatite medicamentosa fulminante.

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Na situação atual, além dos efeitos graves pelo uso inadequado da cloroquina e da ivermectina, a literatura científica já começa a demonstrar o agravamento da doença em função da crença nociva, difundida em grande parte da população, de que existe tratamento precoce para a Covid-19. Isso tem gerado uma falsa sensação de proteção, pela ilusão da existência de um tratamento medicamentoso capaz de reduzir as chances de contaminação ou piora da doença, tornando as pessoas mais displicentes quanto as medidas essenciais, eficientes e conhecidas contra o vírus, que são: o isolamento social, a higienização das mãos, o uso de máscaras e a vacinação em massa da população.

 

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(*Docentes do Departamento de Ciências da Saúde do Ceunes: professora doutora Ana Alice Dias de Castro Luz, professora doutora Fabiana Vieira Lima, professor doutor Luiz Antonio Favero Filho e professora doutora Paola Rocha Gonçalves.)

 

Foto do destaque: TC digital

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