CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ações da Petrobras tiveram forte queda nesta sexta-feira (17), puxando a Bolsa de Valores brasileira para o fundo e piorando o fechamento de uma semana já negativa para o mercado diante da alta histórica dos juros nos Estados Unidos.

Depois de recuarem cerca de 10% nas cotações mínimas do dia, os papéis ordinários (PETR3) e preferenciais (PETR4) da petrolífera controlada pelo governo federal fecharam o pregão com perdas de 7,25% e 6,09%, respectivamente.
Críticas de políticos ao aumento nos preços dos combustíveis aplicado pela companhia pesaram no desempenho dos papéis da empresa nesta sessão.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que a Petrobras “pode mergulhar o Brasil num caos”. Já o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que “vai para o pau” para “rever tudo de preços” e que vai trabalhar para taxar o lucro da petroleira.

O Ibovespa tombou 2,90%, aos 99.824 pontos. Essa é a pontuação mais baixa para um fechamento do índice de referência da Bolsa desde o início de novembro de 2020, última vez que o indicador havia ficado abaixo dos 100 mil pontos.

No acumulado desta semana, o Ibovespa mergulhou 5,36%, registrando a maior perda semanal desde a queda de 7,28% em outubro do ano passado.
Refletindo o movimento de aversão ao risco no mercado doméstico, o dólar comercial subiu 2,32%, cotado a R$ 5,1460 na venda.

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Projeções da Ativa Research consideram que o reajuste da gasolina reduz a defasagem do preço nas refinarias brasileiras de 41% para 34% em relação aos custos no exterior, considerando os atuais preços internacionais e a taxa de câmbio.

“O reajuste deveria, de alguma maneira, melhorar a perspectiva sobre a companhia. O fato é que, em ano eleitoral, políticos de alto escalão, do Legislativo e Executivo, já fizeram fortes afirmações, gerando receios sobre o futuro da empresa”, comentou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa.

Engrenagem central do motor da inflação global, o preço de referência do petróleo bruto subiu cerca de 50% neste ano.
A alta é atribuída à Guerra da Ucrânia e suas consequências, como os embargos à matéria-prima da Rússia, e à decisão da Opep (cartel de países produtores) de aumentar lentamente a oferta mesmo diante do crescimento da demanda após diversos países reduzirem restrições contra a Covid.

No final da tarde desta sexta, porém, o preço caía 5,54%, com o barril do Brent cotado a US$ 113,17 (R$ 580,64). A queda no dia é atribuída à expectativa de resfriamento da demanda após a alta dos juros nos Estados Unidos ampliar riscos de uma recessão global.
Em Nova York, o mercado de ações ensaiou uma modesta recuperação. O índice de referência S&P 500 subiu 0,22%, enquanto o Dow Jones caiu 0,13%. O indicador focado no setor de tecnologia Nasdaq avançou 1,43%.

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A turbulência do mercado local nesta sexta também contou com uma parcela de ajustes de investidores à forte queda das bolsas internacionais na véspera, quando os ativos brasileiros não tiveram negociações devido ao feriado de Corpus Christi.

Os mercados de ações globais mergulharam em pessimismo nesta quinta-feira (16), um dia após o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) ter confirmado um aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros. É a maior alta aplicada pela autoridade monetária dos Estados Unidos desde 1994.

O aumento aplicado nesta quinta pelo Fed elevou a taxa de referência para o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) para um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano. O ciclo de aumentos, porém, está longe do fim.
Projeções divulgadas pelos jornais The Wall Street Journal e Financial Times apontam para uma taxa perto de 3,4% ao final deste ano, ou um adicional de aproximadamente 1,75 ponto percentual nas próximas quatro reuniões das autoridades que compõem o Fomc, o conselho monetário do Fed.

Após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse esperar que altas dessa magnitude não se tornem comuns, mas também comentou que considera provável um novo aumento entre 0,50 e 0,75 ponto na próxima reunião do órgão.

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Powell reforçou que os próximos passos serão ditados pelas pressões inflacionárias, destacando em seu comentário os problemas na cadeia global de abastecimento decorrentes da Covid na China e da Guerra da Ucrânia.
Também na última quarta-feira (15), o Banco Central do Brasil elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,25% ao ano.

OSCILAÇÕES AGRESSIVAS PODEM LEVAR AÇÕES A LEILÃO

Desvalorizações ou valorizações superiores a 10% das ações de uma empresa podem fazer com que a Bolsa leve esses papéis a leilão, como é chamado o mecanismo para evitar oscilações prejudiciais à operação.

No caso de um pregão em andamento, essa queda precisa ser em relação ao valor do ativo na abertura do mercado. Nesta sexta, a queda de aproximadamente 10% da ações da Petrobras ocorreu em relação ao fechamento do dia anterior e não sobre o valor de abertura.

Uma ação que entra em leilão passa a ser negociada fora do pregão. Ela entra para um sistema fechado de ofertas por cinco minutos. O período pode ser prorrogado diversas vezes até que haja a estabilização do preço.

A suspensão temporária também depende de outros fatores, como a comparação da movimentação no dia com a média recente.

Nenhum dos parâmetros necessários para o leilão foram atingidos pelos papéis da Petrobras nesta sessão, segundo a B3, a Bolsa de Valores brasileira.

 

Foto do destaque: freepik.com

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