SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Zezé Motta, 76, contou já ter se apaixonado por um companheiro de cena. A história aconteceu quando ela fez par romântico com Marcos Paulo (1951-2012) na novela “Corpo a Corpo” (Globo). “Eu fiquei apaixonada pelo Marquinhos durante a novela”. A atriz revelou que teve expectativas que o romance saísse da telinha para a vida real, mas o ator se interessou por outra pessoa, com quem ele teve um breve romance.
“Malu Mader também fazia a novela e ele se apaixonou por ela. Mas antes da Malu pintar rolava até um clima assim, parecia que ia acontecer alguma coisa… Mas aí sabe como é, né? O coração dele falou mais alto”, contou Motta, relembrando que o relacionamento inter-racial vivido pelos personagens gerou polêmica e comentários racistas de alguns espectadores.
“Nós todos ficamos muito chocados com certas reações. Teve um senhor que falou que não acreditava que Marcos Paulo tivesse precisando tanto de dinheiro pra passar por aquela humilhação de ter que beijar uma mulher negra, feia e horrorosa como eu na boca”, recordou Motta no “Conversa com Bial” (Globo) desta sexta-feira (20).
Em entrevista à coluna Papo Reto, de João Arruda, a artista falou sobre as dificuldades que encontrou no início da carreira, quando haviam poucos atores negros com papéis de destaque na dramaturgia. “Sou do tempo que em novela tinha apenas dois ou três atores negros, que faziam sempre papéis subalternos. A diferença é que assim que eu comecei, se eu estivesse em uma novela, não tinha espaço para outra negra. Hoje se vê três, quatro, cinco atores negros”.
Para Motta era frustrante perceber que para atores negros estavam reservados papéis menores, sem destaque nas histórias. “Me incomodava ter os mesmos papéis em novela. A gente fazia as serviçais. Não tenho o menor problema em fazer a empregada doméstica, desde que ela faça parte da trama, não fique a reboque dos outros personagens. Eu ficava muito frustrada, pensava ‘fiz curso de arte dramática no Tablado para abrir porta, fechar porta, servir cafezinho, dizer ‘sim senhora’, ‘não senhora’, questionou a atriz.
O jogo virou quando a atriz foi convidada para protagonizar o longa “Xica da Silva” (1976). “O filme foi um divisor de águas na minha vida. E as pessoas começaram a me perguntar sobre essas questões do negro. Eu tinha a sensação de que tinha alguma coisa errada, mas eu não tinha um discurso articulado, mas aí comecei a prestar atenção em volta de mim, viajando com Cacá Diegues, dando três entrevistas por dia, enxergando a realidade. Quando as coisas se acalmaram que eu olhei em volta: ‘cadê todo mundo?’. E era uma meia dúzia de negros”.
Motta entendeu que tinha a responsabilidade de falar sobre o tema sempre que fosse questionada e procurou um curso para entender melhor o assunto. “Eu abri o jornal e vi um curso de cultura negra no Parque Lage, que sorte, com a saudosa antropóloga Lélia Gonzalez, que passou a ser minha guru pro resto da vida. Ao inaugurar, ela falou: ‘não tem mais tempo para lamúrias, vamos arregaçar as mangas e virar esse jogo’. Isso foi fundamental pra que eu percebesse que estava na hora de fazer algumas coisa”, disse.
Todo o sucesso com o filme “Xica da Silva”, no qual deu vida a uma mulher que, entre outras características, era sedutora, trouxe problemas para a vida pessoal da atriz. Motta conta que os homens passaram a confundi-la com a personagem. “Foi complicado porque eu fiquei no imaginário masculino com a Xica e demorou… Olha, eu fui vendo que nós estávamos vivendo nos anos 70 onde essa coisa do sexo era muito livre, aquilo que chamavam de sexo, drogas e rock and roll. Fui percebendo que era uma fantasia transar com a Xica da Silva porque tinha essa carga forte do filme, da personagem que dançava nua e que enlouquecia os homens”.
A atriz conta que precisou fazer terapia para entender essa fase de sua carreira. “Meus parceiros sexuais tinham uma expectativa de que eu fosse a Mulher-Maravilha na cama. Quando eu fiz a Xica, estava solteira. Meus parceiros realmente sempre citavam a Xica antes, durante ou depois do sexo. Eu me lembro que eu tive um que falou: ‘quando um filme se torna realidade’. Eu me senti no dever de ser a Mulher-Maravilha na cama. Então, eu ficava muito mise-en-scène e esquecia do meu prazer porque não podia decepcionar. Fui parar na análise, claro. Foi muito louco”.
Motta finalizou o relato contando uma história de assédio que teve como estopim a famosa personagem. “Uma vez, peguei um táxi e o homem falou: ‘essa voz eu conheço’. E aí ficou me olhando pelo retrovisor e de repente disse: ‘você é quem eu estou pensando?’. Aí eu sorri e me entreguei. Quando eu vi… eu usava minissaia… ele estava colocando a mão na minha coxa e furando todos os sinais. Fiquei em pânico. A minha sorte é que chegando em Copacabana teve um sinal que tinha um guarda, e ele respeitou e parou. Eu fiquei tão em pânico que só abri a porta do carro e saí correndo. Nem falei para o guarda porque eu estava correndo, não fiz queixa, eu queria era sair dali. Eu sempre brinco que não paguei a passagem porque já estava mais do que paga”, finalizou a atriz.

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