ALFREDO HENRIQUE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagens feitas com celular mostram um rapaz de 19 anos desmaiando, duas vezes, após ser sufocado por policiais militares, por volta das 17h10 deste domingo (21), em Carapicuíba (Grande SP). Os PMs envolvidos no caso foram afastados das ruas.

Em um dos momentos, um PM apoia o joelho sobre o pescoço do rapaz. A cena, segundo o ouvidor da polícia Elizeu Soares Lopes, se assemelha ao caso George Floyd, segurança negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos. Durante a abordagem, o agente americano pressionou o pescoço da vítima, por mais de oito minutos, em 25 de maio deste ano.

Desde o último dia 12, ao menos cinco casos de violência envolvendo policiais militares, na capital e Grande SP, foram registrados e compartilhados nas redes sociais.

Imagens captadas pelo celular de uma testemunha mostram que um policial da Rocam (Ronda com Motocicletas) mantém um dos joelhos sobre o pescoço do jovem, que deitado na rua balança ambas as pernas até aparentemente desmaiar. Em outro momento da abordagem o rapaz, já em pé, é imobilizado por um mata-leão, dado por um PM, até novamente perder a consciência e ser, em seguida, colocado em uma calçada inconsciente.

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Enquanto mantém o joelho sobre o pescoço do rapaz o PM ameaça outro jovem, também abordado pela Rocam, que segura um celular. “Desliga essa porra [celular] aí, cusão. Põe a mão para trás”, ordena o policial aos gritos.

A dupla foi abordada após a moto em que estava, que não tem queixa de roubo ou furto, ter colidido contra a motocicleta de um Rocam, na altura do número 10 da rua Airão. O condutor, segundo a polícia, não tem carteira de habilitação.

Em depoimento à polícia, o garupa da moto, um vendedor de 23 anos, afirmou ter pulado do veículo, em movimento, ao perceber que ele iria bater contra a moto de um policial. O jovem que guiava a moto, uma Honda XRE 300, alega que o freio do veículo falhou, quando um dos PMs parou a moto que conduzia em frente à do rapaz, provocando a colisão.

Antes de se levantar, o jovem afirmou que um PM o agarrou, aplicando-lhe “uma gravata”, fazendo com que o jovem se debatesse, “pois estava lhe sufocando”. Ele acrescentou não ter resistido à abordagem, alegando nervosismo “por estar sendo detido sem motivos”. Já os policiais militares envolvidos no caso garantem que o rapaz resistiu à abordagem.

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O delegado Elizeu Quirino Ribeiro, que registrou o caso, afirma no boletim de ocorrência que “considerando as versões contraditórias”, dos rapazes e dos PMs, a Polícia Civil deu início “à cabal apuração dos fatos.”

O ouvidor da polícia Elizeu Soares Lopes classificou as imagens da abordagem policial como “absolutamente estarrecedoras e desnecessárias”. “Aquele ato de colocar sobre o pescoço do rapaz a perna e ele desmaia, é estarrecedor. Quase que temos um segundo caso George Floyd. Isso atenta completamente contra a conduta que o policial deve ter, que é proteger as pessoas e a vida”, afirmou em entrevista à reportagem.

O ouvidor acrescentou que uma minoria de policiais, como no caso da Grande SP, depreciam a imagem da instituição, perante à sociedade. “Por isso, os casos [de abusos] precisam ser apurados individualmente com firmeza e punição rigorosa, dentro da lei para que cenas como essa [de Carapicuíba] não se repitam.”

Lopes ainda disse que o atual contexto da sociedade “está beligerante”. “Não só a polícia, mas as pessoas de forma geral estão extremadas, até nas relações interpessoais.”

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Sobre a ocorrência de Carapicuíba, ele afirmou ter solicitado o afastamento dos policiais e que ainda vai analisar o inquérito do caso.

OUTRO LADO

A Polícia Militar afirmou que a dupla foi abordada após não respeitar uma ordem de parada e, por isso, colidiu contra a moto do Rocam. “O condutor [da moto], entrou em luta corporal com o policial, tentou se evadir, foi imobilizado com técnicas de defesa pessoal, socorrido ao pronto-socorro e posteriormente encaminhado ao 1º DP do município, onde o caso foi registrado”, diz techo de nota da corporação.

A PM disse ainda que os policiais envolvidos no caso foram ouvidos, na noite deste domingo, e que uma sindicância foi aberta para apurar “todas as circunstâncias do caso”.

“Por precaução os policiais foram afastados para funções administrativas e as imagens [de celular] citadas são analisadas pela instituição”, afirma nota.

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