Por

Wellington Prado

Repórter

Por 70 anos, Dona Iracy Pereira da Mota cumpriu à risca a promessa de montar, dentro de casa, o presépio de Natal. No dia em que completou 91 anos, 25 de março, foi uma das quatro vítimas fatais da covid-19 na família Mota. Inclusive, no mesmo dia morreu o filho dela, Pedro. Além dos dois, mais duas filhas de Dona Iracy não resistiram à doença: Mara e Tida.

A dor foi grande e a família continua abalada pelas perdas. Mas, seguindo a fé e os ensinamentos de Dona Iracy, a tradição está mantida com a montagem do presépio do Natal deste ano.

A neta, Thais Mota do Livramento, filha de Tida, destaca que o estímulo veio do padre Jonas Nunes Coutinho, pároco de Pinheiros. Da mesma forma que Dona Iracy fazia, mas desta vez na Igreja Matriz São João Evangelista, o presépio foi montado e está atraindo a atenção dos pinheirenses e de visitantes.

“Até mesmo porque seria um impacto muito grande para os filhos e demais familiares observarem o presépio na mesma sala, sem a presença de Dona Iracy e ausência dos outros falecidos”, enfatiza Thais.

Após o período de preparação, o presépio ficou pronto no início deste mês e está aberto a visitas. É admirado pelos católicos pinheirenses antes e após as celebrações na Matriz.

 

PROMESSA

Thais detalha que a avó fez uma promessa ainda jovem de não falhar nenhum ano na montagem do presépio, caso as mulheres próximas, em especial da família dela, não tivessem complicações em parto.

E assim cumpriu até o ano de 2020, numa tradição que repercutiu ao longo do tempo na população de Pinheiros e transformou-se em centro de visitações não apenas de católicos, mas de pessoas de outras religiões.

Além de observarem o presépio, os visitantes ainda eram recebidos todos os anos com carinho e quitutes como chimangos, biscoitos ou bolos produzidos por Dona Iracy.

Alguns visitantes sempre colocavam ofertas no presépio, que Dona Iracy fazia questão de repassar para a igreja, lembra Thais.

 

Criatividade e sustentabilidade

 

Pinheiros – Thais detalha que a avó fazia os presépios com capricho, “demonstrado um dom para a arte”. Por exemplo, do papel, ela produzia rochas artificiais. “Ela colocava areia, plantas, tinha uma fonte que jorrava água”, recorda a neta, acrescentando que até o som artificial de canto de pássaro era adicionado ao presépio.

Os três reis magos, os animais e outras ornamentação eram colocados durante a confecção do presépio. No entanto, a imagem do Menino Jesus só era colocada no dia de Natal, “porque fazia questão de ser na data de aniversário do nascimento de Cristo”. E assim foi feito até o último Natal da Dona Iracy.

Thais lembra ainda que, mesmo com 90 anos, a avó subia até em mesa para acertar os detalhes da instalação.

O mesmo dom de arte foi passado aos filhos. A responsável pelo presépio deste ano, inclusive, é a filha de Dona Iracy, Hildebranda Pereira da Mota, a Neném. Mas os preparativos foram compartilhados entre todos os familiares.

 

Mortes na família Mota

 

Pinheiros – As mortes por covid-19 na família Mota começaram com a matriarca Dona Iracy, no dia 25 de março. No mesmo dia, à noite, o filho Pedro Pio também não resistiu à doença. No dia 6 de abril a covid-19 vitimou a filha de Dona Iracy, Marilda Mota, a Mara. Dois dias depois, foi a vez da outra filha, Maria Aparecida Mota do Livramento, a Tida, mãe de Thais.

Dona Iracy foi casada com Sebastião Teixeira Mota, que faleceu em 3 de novembro de 2007. Os outros filhos do casal são Hildebranda, David, Celso, Sebastião Filho e Carlos.

 

Foto do destaque: Divulgação

 

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