quinta-feira, janeiro 16, 2025
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Tradição da fincada do mastro é transmitida para a nova geração

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Há mais de trinta anos, no Dia de São Benedito –celebrado nesta sexta-feira (27)–, as cores, bandeiras, imagem, mastro, ensaio, música, dança, fé, religiosidade, união ocupam os cômodos da casa de Dilzete Nascimento, conhecida como Nêga do Jongo, e também as ruas, praças e entorno da Igreja São Benedito, em São Mateus.

Iniciada no município, segundo Nêga do Jongo, desde 1945, a tradição da fincada do mastro segue firme na família dela. E o gosto pelo costume já é transmitido para a nova geração. Nesta quinta-feira (26), cerca de 25 pessoas, em sua maioria familiares de Nêga do Jongo, mais uma vez saíram pelas ruas de São Mateus com canções e pedidos, rumo à igreja São Benedito, no Centro, para realizarem a fincada do mastro.

Ela detalha que conheceu a tradição através do avô, que dançava no Jongo de São Benedito. “Ele se arrumava todo nesse dia, comprava roupa nova e fazia a barba para dançar. Eu tinha uns cinco ou seis anos e ficava olhando, prestando atenção. No catecismo, que frequentei na Igreja São Benedito, os catequistas e padres sempre falavam que tínhamos que participar da missa de São Benedito. Então eu via o grupo se apresentar desde criança, mas naquela época eles não participavam da missa após a fincada e a minha curiosidade era saber para onde iam” – recorda.

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“Anos depois conheci o filho do dono do jongo e pensei: agora estou em casa. Me casei com ele e tive três filhas, ficamos casados por 17 anos. Agora tenho 10 netos e 2 bisnetos, minhas filhas, Silvana, Sueli e Deiziane, têm se preparado para continuar com a tradição quando eu partir ou quando parar por algum outro motivo. São três gerações no jongo, os filhos delas já nos acompanham” – reforça.

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Nêga do Jongo ressalta que, quem quiser conhecer o jongo está convidado a participar. De acordo com ela, todo primeiro domingo do mês, exceto em janeiro e fevereiro, são realizados ensaios e reuniões com o grupo. “Está aberto para quem quiser participar” – sustenta.

 

MISSAS E PROCISSÃO

Após a fincada do mastro, aconteceu a missa que encerra a novena de São Benedito, celebrada pelo padre Élder Malovini, de Conceição da Barra. Nesta sexta-feira, acontecem três missas em honra ao santo co-padroeiro de São Mateus. A primeira é celebrada às 7h, pelo padre Jonas Nunes Coutinho, pároco de Vila Valério. Às 10h será a vez do padre Éder Mataveli, pároco de São Cipriano, Jaguaré, presidir a celebração. O bispo Dom Paulo Bosi Dal’Bó preside missa às 17h. Em seguida, acontece a tradicional procissão.

 

Pedidos enterrados

Nêga do Jongo detalha que uma das tradições durante a fincada do mastro é anotar pedidos e enterrar na base do mastro. “Cada um anota a sua intenção para enterrarmos. Neste ano, enterrei a violência contra a mulher, o racismo, a violência contra as crianças, a fome e violência no trânsito. Enterro para que esses pedidos brotem diferentes, contrários” – enfatiza.

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O mastro fincado nesta sexta-feira, geralmente, é retirado do local antes do Carnaval. De acordo com Nêga do Jongo, o mastro é retirado no Dia de São Sebastião, em 20 de janeiro, ou em 13 de fevereiro, Dia de São Cristóvão.

 

POVO NEGRO

Nêga do Jongo pontua que é importante e necessário manter as tradições culturais e religiosas para fortalecer o povo negro. “Os negros foram muito mal tratados e ainda são nos dias atuais. Cada um que apresenta alguma coisa representando a raça é de grande importância para que o povo negro se sinta valorizado. O negro também é gente e precisa se sentir mais importante, com mais vontade ainda de continuar. Sabemos que estamos plantando hoje para que nossos filhos e netos colham amanhã. Isso é resistência. Acho que, de certa forma, o jongo ajuda a valorizar a nossa classe. A nossa luta não pode parar. Tenho certeza que alguns resultados que temos hoje é luta vencida dos nossos antepassados porque eles se mantiveram firmes” – frisa.

 

Foto do destaque: Tatiana Milanez/TC Digital

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