DHIEGO MAIA E CLÁUDIA COLLUCCI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As infecções por HIV na cidade de São Paulo registraram, pela primeira vez, queda por dois anos consecutivos desde 1983, quando o levantamento passou a ser realizado.
Apesar de o grupo mais vulnerável continuar sendo o de homens jovens, a população idosa foi a única, entre os adultos, que registrou crescimento dos casos.
Em 2018 foram notificados 3.145 casos de HIV contra 3.826 em 2017, uma redução de 17,8%. Entre 2016 e 2017, a queda foi de 1,4%. Na série histórica, houve quedas isoladas de casos apenas em 2004 e, depois, em 2006.
Entre os idosos, o número de novos casos aumentou 15% –de 92 em 2017 para 106 neste ano, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Os jovens de 15 a 29 anos concentraram 49,3% das notificações de 2018. Entre os homens infectados, 70,3% se declararam homossexuais e 18,6,% heterossexuais.
Para Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal DST/Aids da gestão Covas, o aumento de casos entre os idosos se explica “por uma vida sexual mais prolongada”.
“O advento dos medicamentos que aumentaram a potência sexual de idosos e a chegada dos aplicativos de paquera causaram uma mudança comportamental muito significativa na prática de sexo entre eles. O que precisa acontecer, agora, é a adesão à prevenção”, diz ela.
Abbate crê que as ações de prevenção como PreP (profilaxia pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição); além da dispersão de camisinhas em espaços públicos e o início precoce do tratamento para pessoas diagnosticadas formaram, no conjunto, uma barreira eficaz para a queda de novos casos do vírus HIV entre as demais faixas etárias.
Segundo a coordenadoria DST/Aids, cerca de 4.500 pessoas fazem uso da PreP na cidade de São Paulo, o equivale a 40% das pessoas em tratamento no país.
A PreP é o uso de medicamento antirretroviral por pessoas que não estão infectadas pelo HIV, mas que se encontram em situação de vulnerabilidade de contrai-lo.
Recentemente, a capital também eliminou a transmissão de HIV da mãe para o bebê.
Outro indicador que apresentou queda por dois anos consecutivos foi a taxa de detecção do vírus por 100 mil habitantes. A taxa passou de 32,7 casos para 26,8 entre 2017 e 2018. Entre 2016 e 2017, a taxa já havia caído 1,9%, apontou a secretaria de Saúde.

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HIV ENTRE IDOSOS

Os casos de HIV entre idosos têm aumentado em todo o país, mas praticamente não há campanhas preventivas ou políticas públicas direcionadas a esse público.
Com os aplicativos de relacionamento e o livre comércio de medicamentos para disfunção erétil, essa população está bem ativa sexualmente, mas o tabu em torno do assunto ainda é grande.
Com mais parcerias sexuais desprotegidas, também aumenta a exposição aos riscos em contrair o vírus. No Brasil, entre 2007 e 2017, os diagnósticos de HIV cresceram sete vezes. Em mulheres com 60 anos ou mais, o aumento foi de 21,2% nesse mesmo período.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em geral, os idosos vivendo com HIV têm, em média, 12 anos de diagnóstico, a maioria é de homens solteiros, divorciados ou viúvos, e de classe econômica mais baixa.
Isso mostra o quanto é necessário que os profissionais da saúde entendam que idosos não são assexuados e  incorporem a questão da sexualidade em suas consultas, falando de prevenção.
Se já existe muita resistência para o uso do preservativo na população em geral, entre os idoso isso é muito pior. Ele precisam ser informados, por exemplo, sobre as terapias preventivas, como a  PrEP (Profilaxia Pré-Exposição).
Outro motivo de preocupação é que os idosos contaminada pelo HIV podem apresentar comorbidades que podem complicar o tratamento. Por exemplo, insuficiência renal, perda de massa óssea, doenças do fígado, alterações metabólicas, cardiovasculares e declínio cognitivo. Além disso, a tuberculose é a principal causa de morte relacionada à Aids.
De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), uma em cada cinco mortes por tuberculose ocorre entre soropositivos.
Mesmo sendo o público que mais tende a utilizar os serviços de saúde, os idosos ainda são pouco testados para o HIV justamente porque os profissionais de saúde subestimam a sua sexualidade. Em geral, o diagnóstico só ocorre com o aparecimento de sintomas, como perda de apetite e de peso.
Com o aumento da expectativa de vida, essa é uma questão que precisa urgentemente ser incluída na agenda não só da saúde mas de todos os ambientes por onde os idosos circulam, inclusive dentro da própria família.

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TAXA DE MORTALIDADE

Na cidade de São Paulo, a taxa de mortalidade por Aids em 2018 atingiu 4,1 por 100 mil habitantes em 2018 -queda de 48,7% em relação a 2014. “Isso mostra que as pessoas diagnosticadas precocemente estão seguindo o tratamento”, afirma Abbate.
Quando se olha a proliferação do vírus pela cor, a população preta é a mais afetada. Em 2018, a taxa entre as mulheres pretas foi de 30,2 por 100 mil habitantes ante 6,6 casos entre as brancas.
Entre os casos registrados em homens, 60,9% tem 12 anos ou mais de estudo. Entre as mulheres esse número é de 37,2%.
O centro da capital paulista, apesar de ainda manter a maior taxa de detecção do vírus, apresentou a maior queda entre as regiões da cidade: 87 casos para cada 100 mil habitantes -em 2017, eram 137,3 casos
A região oeste ficou com a segunda maior taxa (26,4 casos por 100 mil habitantes) e a região leste apresentou a menor (21,6 casos).

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