CATIA SEABRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Solto desde a última sexta-feira (8), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se dedica pessoalmente à montagem de palanques onde possa atuar na disputa municipal de 2020.
Em conversas travadas desde sábado (9), quando recebeu líderes petistas na sede do Sindicato do Metalúrgicos do ABC, Lula tem estimulado o lançamento de candidaturas próprias nas capitais e cidades onde existe a possibilidade de segundo turno, mas sem afastar a hipótese de coligação com candidatos de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Lula foi solto na última sexta (8), beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos. O petista, porém, segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa, impedido de disputar eleições.
Na visão de Lula, a costura de alianças no primeiro turno está permitida até mesmo com parte dos partidos do chamado centrão, desde que reservado espaço em seus palanques para a defesa do legado petista.
O centrão é um bloco informal, formado por partidos independentes, com mais de 200 congressistas -de legendas como Solidariedade, MDB, PP e PL. Essas diretrizes do petista estarão expressas na proposta de resolução que será submetida ao comando do partido na reunião da semana que vem, em Salvador.
Presidente Nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) afirma que está aberta para a composição de alianças com candidatos “com posicionamento claro contra o governo Bolsonaro, especialmente à política econômica de Paulo Guedes”. Segundo ela, essa orientação foi definida em conversas com o ex-presidente.
“Podemos ter alianças para formação de frentes que se contraponham ao neoliberalismo e ao desmonte das políticas públicas de emprego e renda”, diz Gleisi, lembrando que já existe um fórum de seis partidos de oposição, reunindo PT, PDT, PSB, PSOL, PC do B e PCB, também com vistas às eleições do ano que vem.
As conversas com o PSOL avançam no Rio e em Florianópolis, por exemplo, enquanto em Porto Alegre o PT deverá apoiar a candidatura de Manuela D’ávila (PC do B).
Apesar das articulações, Lula tem repetido que o PT precisa estar em campo nas eleições. Segundo um interlocutor dele, o ex-presidente precisa de palanques para contar sua versão.
No sábado, o ex-presidente disse a representantes da bancada mineira que o partido tem que lançar candidatos em Belo Horizonte. Presente, o deputado Rogério Corrêa informou que na capital mineira há chances de alianças no primeiro turno.
Nesta semana, Lula se reunirá com o comando do PC do B e também deverá receber dirigentes do PSB, como o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho, segundo quem “Lula está bastante animado”. “A presença dele no jogo democrático do mundo, não só do Brasil, é fundamental”, diz Coutinho.
Em uma mensagem enviada aos militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Lula disse que a oposição não tem outra saída senão ganhar as ruas. Ao lado do líder do movimento, Guilherme Boulos, Lula encerrou o vídeo afirmando que “a luta faz a lei”.
Em um churrasco oferecido por Luiz Marinho na tarde de domingo, Lula disse que conversará pessoalmente com potenciais candidatos do PT à Prefeitura de São Paulo. Entre os nomes cogitados por petistas estão os dos ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo, além do deputado Paulo Teixeira e do ex-deputado Jilmar Tatto.
Entre amigos, Lula também falou dos 580 dias em que permaneceu na prisão. Disse que os finais de semana eram os mais duros.
A partir desta semana, o ex-presidente voltará a receber aliados na sede do Instituto Lula, onde, há 19 meses, foi informado que deveria se entregar à Justiça.
De volta ao instituto, Lula encontrará um espaço ainda menor, já que o prédio anexo, onde funcionava a administração, foi devolvido a seus proprietários pelo PT em uma medida de contenção de despesas. O aluguel consumia R$ 10 mil mensais.
Segundo Paulo Okamoto, presidente do instituto, o partido deverá custear seu funcionamento. Petistas afirmam, porém, que não está descartada a mudança de endereço do instituto, que hoje funciona no bairro do Ipiranga, vizinho à cidade de São Bernardo do Campo, onde o ex-presidente mora.
Como Lula informou a aliados a intenção de deixar São Bernardo do Campo, onde viveu com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, para morar na capital paulista, existe a possibilidade de aluguel de um espaço menor, na região central de São Paulo, para instalação do instituto, que hoje enfrenta restrições financeiras após decisão judicial para bloqueio de seus bens.
Sobre a mudança de Lula para São Paulo, aliados do petista dizem que o ex-presidente afirma não ter mais tantos laços familiares com a cidade de São Bernardo do Campo após a morte da ex-primeira-dama, em fevereiro de 2017. Antigo reduto petista, o município do ABC hoje é administrado pelo PSDB.
Okamoto afirma que o apartamento onde Lula vive tem escadas, o que dificulta a locomoção dentro do imóvel. Petistas ventilaram inclusive uma mudança para um hotel até que seja alugada uma casa para ele na capital paulista.
Antes de escolher a futura morada, Lula se reunirá com filhos e netos, além da namorada, a socióloga Rosângela da Silva, para definir seus próximos passos. Lula também se submeterá a um check-up após um ano e meio sem passar por exames.
Em conversas, Lula tem dito que consideraria uma ofensa à memória de Marisa Letícia viver com a futura esposa no apartamento de São Bernardo do Campo. A amigos ele tem até revelado o desejo de, futuramente, voltar a morar no Nordeste, seja Salvador ou Recife. Mas as decisões ainda não estão fechadas.
Ele permaneceu preso de 7 abril de 2018 a 8 de novembro de 2019 em uma cela especial da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. O local tinha 15 metros quadrados, com banheiro, e ficava isolado no último andar do prédio. Ele não teve contato com outros presos, que ficavam na carceragem, no primeiro andar.
Lula foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias sob a acusação de aceitar a propriedade de um tríplex, em Guarujá, como propina paga pela empreiteira OAS em troca de um contrato com a Petrobras, o que ele sempre negou.
A pena do ex-presidente foi definida pelo Superior Tribunal de Justiça em 8 anos, 10 meses e 20 dias, mas o caso ainda tem recursos pendentes nessa instância e, depois, pode ainda ser remetido para o STF.
Nessa condenação, Lula já havia atingido em setembro a marca de um sexto de cumprimento da pena imposta pelo STJ. Por isso, mesmo antes da recente decisão do Supremo, ele já reunia condições para deixar o regime fechado de prisão.
Nas próxima semanas, porém, o Supremo pode anular todo esse processo do tríplex, sob o argumento de que o juiz responsável pela condenação, o hoje ministro Sergio Moro, não tinha a imparcialidade necessária para julgar o petista. Não há data marcada para que esse pedido da defesa do ex-presidente seja analisado.
Além do caso tríplex, Lula foi condenado em primeira instância a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem no caso do sítio de Atibaia (SP). O ex-presidente ainda é réu em outros processos na Justiça Federal em São Paulo, Curitiba e Brasília. Com exceção de um dos casos, relativo à Odebrecht no Paraná, as demais ações não têm perspectiva de serem sentenciadas em breve.

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