DIRETOR DO SINDICATO DOS PETROLEIROS PREVÊ QUE OUTROS 200 FUNCIONÁRIOS
AINDA DEVEM SER DEMITIDOS ATÉ O FINAL DO ANO, RESULTANDO NUMA CRISE
SEM PRECEDENTES NO SETOR DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO NORTE DO ESTADO
São Mateus – Mais de 400 trabalhadores ligados ao setor de petróleo já foram demitidos ou estão com os dias contados para perderem seus empregos em São Mateus. A afirmação é do diretor regional do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), Reinaldo Alves de Oliveira. Em entrevista à Rede TC de Comunicações, ele disse que, além destes 400 trabalhadores, outros 200 ainda deverão perder os seus empregos até o fim do ano ou início de 2025, caso se cumpra a previsão de redução de 50% da mão de obra no setor no norte do Estado. Atualmente, são 1.200 trabalhadores em São Mateus, segundo Reinaldo.
O diretor do Sindipetro afirma que as demissões estão sendo causadas por uma crise financeira que se instalou na multinacional Seacrest, que adquiriu os ativos da Petrobras no norte do Estado, como a concessão de diversos poços e estruturas importantes que pertenciam à estatal, como o Terminal Norte Capixaba (TNC) e a SM-8. Atualmente, a maior parte da mão de obra da Seacrest é fornecida por empresas terceirizadas. Portanto, as demissões em massa estão ocorrendo nestas empresas, que segundo o diretor do Sindipetro, são cerca de 20.
De acordo com Reinaldo, os trabalhadores demitidos atuavam em atividades essenciais como manutenção de estradas, operações de sondas, manutenção de campos terrestres e transporte. “Essa onda de demissões, além de trazer insegurança e instabilidade para os trabalhadores, ameaça desestabilizar a economia local de forma significativa” – frisa.
SITUAÇÃO CRÍTICA
O Sindipetro-ES emitiu uma nota nesta semana explicando que a situação é crítica, “pois muitas empresas contratadas para essas atividades enfrentam dificuldades financeiras graves, incluindo a falta de pagamento pelos serviços prestados. Esse atraso nos repasses tem inviabilizado as operações e levado a cortes drásticos nas equipes”.
De acordo com o Sindicato, os cortes de pessoal atingiram 70 cargos de manutenção de estradas, 120 trabalhadores das sondas, 150 empregados de manutenção e outros 60 no transporte.
“O Sindipetro-ES já havia alertado para esse risco. Agora, com a materialização das demissões, a entidade busca medidas urgentes para minimizar os danos. Entre as ações planejadas estão o diálogo com órgãos públicos municipais, lideranças estaduais e a tentativa de mediação com as empresas envolvidas para reverter esse quadro desesperador” – frisa o Sindicato.
IMPACTOS
Além do impacto direto no emprego, a insegurança dos trabalhadores que permanecem em atividade também preocupa o Sindipetro, já que essa parcela da força de trabalho teme pelo futuro de suas funções. “Sem estabilidade, a continuidade das operações no norte capixaba se torna incerta, comprometendo a recuperação econômica da região. Essa crise reflete uma conjuntura preocupante que exige atenção imediata das autoridades locais, estaduais e da sociedade em geral. O Sindipetro-ES reforça a necessidade de mobilização conjunta para proteger os trabalhadores e a economia do norte Capixaba” – complementa o Sindicato.
SEACREST
A Reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Seacrest, que ficou de dar um posicionamento da empresa sobre as situações relatadas pelo Sindipetro-ES. No entanto, até o fechamento desta matéria, às 19h, não foi registrado retorno da assessoria. O espaço segue à disposição da Seacrest, caso haja resposta.
Ações da Seacrest caíram mais
de 98%, aponta diretor sindical
São Mateus – O diretor regional do Sindipetro-ES, Reinaldo Alves de Oliveira, diz acreditar que um dos motivos para a crise financeira da Seacrest é devido à desvalorização da empresa na bolsa de valores. Segundo ele, dados que teve acesso mostram que as ações da empresa caíram mais de 98%. Reinaldo afirma ainda que não pode afirmar esses dados com clareza porque as ações da Seacrest são negociadas na bolsa de valores da Noruega (Oslo), e que a empresa não tem compromisso de fornecer as informações financeiras para o mercado brasileiro.
“É uma empresa de um fundo de investimento que fica nas Bahamas e sabe-se lá porque as ações delas desabaram, perderam todo o valor de mercado. Isso, com certeza, está impactando na gestão da empresa” – avalia. Reinaldo frisa ainda que outro fato é que a Seacrest deveria estar surfando na maré da alta dos preços do barril de petróleo, que está acima da casa dos 70 dólares já há algum tempo.
“A empresa pegou uma maré boa desde que comprou os ativos da Petrobras. O petróleo está operando sempre acima de 70 dólares o barril e mesmo assim veio passando por dificuldades financeiras. As informações que a gente tem, inclusive, é de falta de pagamento de alguns fornecedores aqui no município de São Mateus” – explica.
Reinaldo destaca que a grande preocupação do Sindipetro é como se dará a exploração de petróleo no norte do Estado daqui para frente. “A nossa grande preocupação é que hoje, com esses 400 trabalhadores demitidos, e em vista de mais 200 demissões nos próximos dias, vamos ter uma crise tremenda em São Mateus na área da indústria de petróleo, que inclusive é um dos setores que paga melhor comparando a outros”.
Outra preocupação apontada pelo diretor sindical é em relação à segurança das operações, visto os recentes acidentes registrados na área. “A preocupação maior é que aconteceu um acidente quando a empresa estava com um quadro de prestadores de serviço completo. Imagine agora, com essa baixa de trabalhadores? Tudo isso dá insegurança para esses trabalhadores que ficam ainda efetivamente trabalhando”.
Reestatização pela Petrobras
seria a solução, aponta Reinaldo
São Mateus – Para resolver alguns desses problemas apontados pelo Sindipetro-ES, a solução, segundo Reinaldo Alves de Oliveira, passa pela retomada dos ativos pela Petrobras. Segundo ele, a Seacrest ainda deve valores para a estatal referentes à compra destes ativos e que um valor alto vence no dia 31 de dezembro. Ele entende que, devido à crise financeira apresentada, a empresa não teria como quitar a dívida com o Governo Federal, abrindo brecha para a reestatização.
Ele afirma ainda que a Seacrest já informou que estão suspensas as perfurações de novos poços de petróleo na área de concessão, além da redução de 50% da operação das sondas de produção nos poços existentes. “Consequentemente, há mais diminuição dos royalties pagos para o Município, já que a empresa já tinha uma redução no valor que ela paga em relação à Petrobras por conta de uma lei que beneficia as pequenas empresas de petróleo”.
Reinaldo aponta que o Sindipetro-ES tem buscado contato com a Petrobras na tentativa de encontrar soluções. “Do nosso ponto de vista, a Petrobras é responsável pelo problema para o norte capixaba por conta da venda dos campos. Nesse momento, ou a Petrobras ou outra grande operadora deve assumir a operação. Caso ela [Seacrest] não consiga novos investidores, a gente não vê outra saída a não ser a Petrobras buscar resolver esse problema, já que nós temos campos produtivos que se viessem a paralisar de vez seria, sem nenhuma dúvida, um grande prejuízo, tanto para o comércio como para a sociedade”.
Para isso, Reinaldo indica a necessidade de mobilização para que a classe política do Estado encampe essa luta junto à presidência da Petrobras para que a atividade de exploração de petróleo no norte capixaba não tenha um fim tão trágico quanto o que se vislumbra.
Ele aponta ainda que, para a estatal vender os ativos no norte do Estado, o setor foi precarizado, com a interrupção de novos investimentos e a paralisação de estações de produção. Com a vinda da Seacrest, o setor ganhou novo fôlego, com geração de empregos e investimentos, o que chegou a ser comemorado pelo Sindicato. “No entanto, em menos de um ano estamos voltando a patamares piores do que os que a gente estava quando os ativos foram vendidos pela Petrobras” – complementa.