A análise sobre o futuro da pandemia no Brasil liga alertas para a população que relaxou nas medidas de contenção à covid-19. Embora a vacinação avance para grupos prioritários, especialistas ressaltam que o cenário dos próximos meses possui condicionantes perigosas que podem trazer números trágicos e efeitos prolongados.

Dois pontos são apontados por especialistas como preocupantes diante do comportamento atual da sociedade. O primeiro está relacionado à grande quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus, pois ainda há muitos brasileiros que não adquiriram imunidade naturalmente, após a infecção, ou por meio da vacina, o que possibilita uma possível terceira onda de casos e óbitos. O segundo diz respeito às sequelas da doença, pois crescem as estatísticas e estudos que mostram problemas de saúde em curados da covid-19.

Tarcísio Rocha, membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da covid-19 da Universidade de Brasília (COES-UnB), é enfático ao lembrar que o vírus não vai desaparecer. “Ele não tem sazonalidade, não é como o vírus da gripe. Ele vai permanecer aqui, infelizmente e provavelmente, para todo sempre. A humanidade só erradicou um único vírus até hoje em toda a sua história, que é o vírus da varíola. Todos os demais, mesmo com vacinas, continuam presentes e vão requerer cuidado” – pontua.

O professor do instituto de física da UnB também é participante de um grupo de pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e do exterior, que vem produzindo notas técnicas desde o começo da pandemia. Na visão dele, as projeções para os próximos meses indicam a urgência em diminuir a circulação do vírus na sociedade.

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“A única forma de evitar a propagação do vírus é diminuindo o contato social. Por quê? Porque o vírus se transmite quando duas pessoas estão próximas uma da outra. Se elas estão longe, o vírus não passa pela internet, por telefone, por telepatia” – exemplifica. (Por Brasil61)

 

Possibilidade da terceira onda

é real, aponta especialista

 

O professor do instituto de física da UnB Tarcísio Rocha lembra que os cálculos sobre a chamada imunidade de rebanho, ou seja, a imunidade coletiva de boa parte da população que permite frear o avanço das contaminações, mostra que é preciso ter, em média, mais de 70% da população imunizada. “Teremos que vacinar uma ampla quantidade de pessoas, não apenas os idosos ou aquelas com comorbidades”, explica.

Por isso, o pesquisador avalia que a possibilidade de uma terceira onda é real, apesar de não ser possível saber como ela virá. “Pode-se criar as condições para uma terceira onda, sobretudo nos locais em que ainda há uma proporção muito alta de pessoas que nunca tiveram contato com o vírus. Por isso, temos que nos cuidar ainda por algum tempo” – alerta.

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Para se preparar para o futuro, especialistas ressaltam que é preciso contar com a aplicação de medidas de segurança pela população e o fortalecimento do sistema de saúde pelos governos. Essa necessidade de reconhecimento do SUS é citada por Alessandro Chagas, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Alessandro defende que é preciso se preparar para o enfrentamento desta pandemia nos próximos meses e ainda estar pronto para outras possíveis epidemias. “A maior força que nós teremos para evitar essas próximas pandemias, que com certeza virão, é diante da segurança do sistema público e de nunca perder de vista a saúde como direito. Isso é primordial daqui para frente”. (Por Brasil61)

 

Preocupação é como

sistema nacional lidará

com sequelas do vírus

 

Brasília – Outra preocupação do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) é como o sistema nacional lidará com as sequelas causadas pela covid-19. Um estudo realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), por exemplo, mostrou disfunções cognitivas em 80% dos pacientes que já foram contaminados.

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Outras pesquisas também sugerem sequelas em diferentes partes do corpo. Segundo o presidente do Conselho, Alessandro Chagas, ainda é cedo para dizer qual a dimensão deste problema, mas muitas questões vão surgir nos próximos anos dentro desse contexto, e a valorização do SUS, com ampliação de pessoal, por exemplo, é fundamental.

 

Fonte: InCor- FMUSP

 

A infectologista Ana Helena Germoglio explica que, apesar do novo coronavírus ser um vírus respiratório, ele pode gerar comprometimento de praticamente todos os sistemas. “A síndrome pós-covid, sem dúvida, será mais um desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. Vários tipos de sequelas –neurológicas, musculares, cardíacas, pulmonares– levam a necessidade de tratamento, ou reabilitação, prolongado, às vezes permanente” – detalha.

A médica especialista avalia que o caminho para lidar com esse problema tem como base o investimento em acompanhamento multidisciplinar para esses pacientes com sequelas, o que seria fundamental para evitar novas internações por complicações pós-covid.

Nesse sentido, Ana Helena cita que é preciso ampliar a atenção básica, lembrando que outras doenças que necessitam de atendimento foram sendo deixadas de lado na pandemia. (Por Brasil61)

 

Foto do destaque: Breno Esaki – Agência Saúde Brasília/Divulgação

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