KLAUS RICHMOND
SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – O Santos oficializou nesta quarta-feira (5) a demissão de Jesualdo Ferreira, 74. A queda do técnico português foi precipitada pela eliminação para a Ponte Preta, na última quinta-feira (30), na Vila Belmiro, pelas quartas de final do Campeonato Paulista.

O clube já definiu como alvo a busca por um nome também experiente como substituto. A avaliação inicial da cúpula santista é de que o momento de crise interna não permite a aposta em um perfil mais jovem, com menos bagagem.

Antes da vinda de Jesualdo, os argentinos Sebástian Beccaecce, 39, e Gabriel Heinze, 42, estavam entre os favoritos. O primeiro está empregado no Racing e o segundo deixou o comando do Vélez Sarsfield em março.

A decisão pelo rompimento do vínculo com Jesualdo foi tomada após nova reunião entre o presidente José Carlos Peres e os sete membros do Comitê de Gestão do clube.

A diretoria já havia se reunido na última sexta-feira (31), mas resolveu adiar a decisão para avaliar melhor o desligamento. A equipe estreia no Campeonato Brasileiro no domingo (9), contra o Red Bull Bragantino.

“A direção do Santos Futebol Clube comunica que Jesualdo Ferreira não é mais treinador da equipe profissional. O clube agradece o extremo profissionalismo do técnico durante o tempo em que esteve no comando do Peixe e deseja sorte na continuidade de sua carreira”, publicou o Santos em seu Twitter, informando também que os profissionais da comissão técnica de Jesualdo não seguirão no clube.

Jesualdo tinha poucos defensores na Vila Belmiro. A favor da permanência do técnico português pesava a postura que adotou em não expor a diretoria em entrevistas, mesmo diante de grave dificuldade financeira, e, principalmente, a contínua utilização dos jovens jogadores.

Com ele, nomes como Kaio Jorge, Arthur Gomes, Anderson Ceará, Sandry e outros passaram a ter oportunidades recorrentes na equipe principal. A última aposta foi no jovem atacante Marcos Leonardo, de 17 anos, relacionado diante da Ponte Preta.

Antes de anunciar a saída do português e de mais cinco integrantes de sua comissão técnica, a diretoria ainda ouviu o superintendente de futebol William Thomas, homem de confiança de Peres e um dos raros entusiastas pela permanência de Jesualdo. Mesmo com relatório favorável de Thomas, houve o entendimento de que não havia mais clima para continuar o trabalho.

Jesualdo e sua comissão recebiam em CLT um contrato de pouco mais de R$ 8 milhões, com duração até dezembro, somado a outro montante em direitos de imagem.

Para encerrar o contrato, o Santos precisará pagar uma série de valores em atraso e uma multa pelo rompimento, além da parcela não depositada dos salários devido à redução salarial promovida pelo clube em meio à pandemia -realizada sem acordo assinado com os jogadores e a comissão técnica.

O clube estima que, no total, o valor da rescisão seria de aproximadamente R$ 2,5 milhões, mas os valores podem aumentar.

Em 13 de maio, o jornal Folha de S.Paulo publicou que jogadores estudavam a possibilidade de acionar judicialmente o clube em razão da redução de 70% nos salários. A decisão levou o atacante Eduardo Sasha e o goleiro Everson a pedirem rescisão na Justiça.

Jesualdo informou, na ocasião, ter respeitado a decisão dos jogadores, mas diz ter reunido o grupo para que voltassem atenção ao Campeonato Paulista.

“Nunca pensei [em sair]. Estou aqui para ganhar o Paulistão”, amenizou o treinador logo no retorno.

Jesualdo foi anunciado pelo Santos com pompa no fim de dezembro como substituto do técnico argentino Jorge Sampaoli, atualmente no Atlético-MG.

Ao chegar ao clube, logo em sua primeira entrevista, afirmou que tentaria melhorar o legado deixado por seu antecessor, segundo colocado na última edição do Campeonato Brasileiro, avisando que vinha de uma escola diferente.

Desde a chegada, o técnico português conviveu com pressão e comparações tanto com Sampaoli, como com o compatriota Jorge Jesus pelo trabalho realizado no Flamengo. Ele teve a demissão cogitada ainda em fevereiro, mas uma vitória por 2 a 1 diante do Defensa y Justicia, em sua estreia na Libertadores, lhe deu sobrevida.

“Eu e Jesus somos amigos e os treinadores mais campeões de Portugal. Temos uma forma de ver o futebol muito parecida. Vocês já viram Jesus, agora aguardem para me verem”, disse em sua apresentação, em 8 de janeiro.

O técnico chegou ao clube carregando a fama de estudioso do futebol e chamado de “professor dos professores”, devido ao histórico de quatro décadas dedicadas intensamente ao esporte.

Na área acadêmica, foi professor de técnicos ilustres. O primeiro deles foi Carlos Queiroz, auxiliar de Alex Ferguson no Manchester United por longos anos e ex-treinador da seleção portuguesa.

O aperfeiçoamento de desempenho de jogadores era um dos principais cartões de visita do técnico, elogiado por potencializar nomes como o atacante colombiano Radamel Falcao e do meia português Ricardo Quaresma, ambos na passagem pelo Porto.

O treinador deixa o Santos após 15 jogos, com seis vitórias, quatro empates e cinco derrotas, um aproveitamento de 48,8% dos pontos. Desempenho comparável ao de Jair Ventura, primeiro treinador da era Peres no clube, que teve aproveitamento de 44,4% no Santos.

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