ADALBERTO LEISTER FILHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Rubens Barrichello, 49, terá uma companhia diferente na disputa da etapa de Cascavel (PR) da Stock Car neste fim de semana: o filho Dudu Barrichello, 19, que atualmente corre na Fórmula Regional Europeia by Alpine, categoria de monopostos de Fórmula 3 disputada nos mesmos circuitos utilizados na F-1.

E é justamente a falta de experiência na Stock Car que deve pesar para o piloto.
“Não conheço o carro, nem a pista. Todos os pilotos estão lá há dez anos. Completar as duas provas seria uma grande vitória. Nunca pensei ter essa oportunidade com 19 anos. Vou tentar aprender o máximo”, afirmou Dudu. “Já fiz uns dois testes de Stock Lights, mas é um carro muito mais lento, com tecnologia e motor diferentes”, completa.

O autódromo paranaense também não ajuda um novato a conseguir bom desempenho. Segundo Rubinho, é um dos mais complicados do calendário da Stock Car. “A pista de Cascavel é uma das mais difíceis. Apesar de não ter muita curva, é muito desafiadora. Eu adoro. A gente tem que lembrar que eu, na primeira corrida de Stock Car, larguei em 15º. Estou tentando aliviar a barra do Dudu? Não, realmente é muito diferente para quem nunca correu em carro fechado”, analisa o ex-piloto de F-1.

A chance de correr com o pai surgiu porque o companheiro de equipe de Rubinho, Matías Rossi, precisou cumprir quarentena para disputar a corrida do Paraná (capital da província de Entre Ríos, na Argentina), sexta etapa do SuperTC2000, no próximo dia 18. Pelas regras sanitárias locais, ficou inviável de Rossi correr em Cascavel. O piloto argentino, que disputa simultaneamente a Stock Car no Brasil, lidera o SuperTC2000, com 73 pontos. Com a vaga aberta, surgiu o convite a Dudu, que está de férias de verão de seu campeonato na Europa.

“Tenho agradecido muito pela oportunidade porque correr com o filho é algo que sempre sonhei. Estou nas nuvens. Logicamente a única coisa que foi pedida para mim antes de qualquer coisa assinada era se eu conseguiria me comprometer com minha corrida sem pensar no meu filho. Eu disse que 90% sim. Quando a gente fecha a viseira, esquece a realidade”, contou Rubinho.

Dudu também afirma que quer curtir a oportunidade de disputar uma corrida com o pai, mas deixa de lado a pretensão de superá-lo. “Vamos estar perto. Ele mais me ajudando do que eu ajudando ele. Quem está disputando o campeonato é ele. Vou fazer de tudo para ajudá-lo. Vocês não vão ver nenhuma disputa minha com ele na pista. Ainda mais porque espero que ele vai estar andando muito na frente. Vou ter que me adaptar com tudo: calor, freio, acelerador… É um processo de adaptação”, destacou o filho.

O gosto pelo automobilismo foi cultivado aos poucos por Dudu. Rubinho deu um kart ao filho quando ele tinha 6 anos. O garoto andou algumas vezes, mas desistiu porque estava focado em ir bem na escola e em jogar bola com os amigos. O gosto pela velocidade ressurgiu mais tarde.

“Quando tinha uns nove anos, meu primo começou a correr de kart. Quando assisti à corrida, quis voltar, mas meu pai lembrou que na primeira vez eu tinha desistido. Ele me deu um simulador e viu minha dedicação. Com 12 anos, ele deu o kart. Desde então, a paixão foi aumentando. Corri no Brasil até 2015, quando me mudei para os Estados Unidos”, contou Dudu.

No ano passado, foi vice-campeão da USF2000 e novas portas se abriram. “A Toyota nos ajudou a ir para a Europa em 2021. Por questões financeiras seria impossível correr lá”, conta o piloto que hoje mora em Novara, na Itália.

No momento, Dudu cumpre temporada de adaptação ao novo carro e aos circuitos usados no campeonato europeu. “Se um dia chegar na F-1, estarei muito mais bem preparado. Já estarei adaptado. Neste ano a gente fez Ímola, Barcelona, Mônaco, Paul Ricard e Zandvoort. Quase todas as pistas são de F-1”, contou.

Rubinho, que disputou 326 corridas em 19 temporadas na F1 (1993 a 2011), não quer jogar no filho a pressão de atingir a principal categoria do automobilismo. “Ele tem que chegar à F-1 se tiver o talento suficiente e souber se dedicar suficientemente bem para isso. O Dudu sabe o que eu fiz, o quanto foi difícil e o quanto é difícil para ele”, afirmou.

“O que eu quero para ele é que seja uma criança de princípios, que saiba o que precisa ser feito nesta vida, que ele queira bem ao próximo. Tudo o que cobro dele é dedicação. Se ele se dedicar, vou estar trabalhando por ele como eu posso. O resto a gente quer que as crianças sejam felizes e que eles cheguem onde eles puderem chegar. E não onde a gente quer que eles cheguem”, espera o piloto.

 

Foto do destaque: Divulgação/ALE

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