MARCOS GUEDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ficou célebre, no início do século, uma série de comerciais de televisão nos quais as pessoas diziam que só conseguiriam comprar determinado carro “no dia de São Nunca”. Nesse momento, caía do céu o próprio São Nunca, anunciando divinas e impossíveis ofertas.
Foi nessa época que o Corinthians enfrentou o River Plate, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. O time perdeu por 2 a 1 em São Paulo, ampliando sua maldição na competição, e seus torcedores passaram a conviver com uma piada decorrente de uma quase tragédia.
Naquele 14 de maio de 2003, o torcedor Rui Nelson de Moura Júnior, 27, um dos 66.666 pagantes, caiu do anel superior do Morumbi, tendo seu corpo perfurado por lanças do anel inferior. O taxista sobreviveu sem sequelas graves, não se sabe bem como, e os alvinegros tiveram de encarar o gracejo: “O Corinthians não ganha a Libertadores nem no dia de São Nunca”.
À parte a zombaria com os corintianos –que finalmente teriam seu dia de São Nunca nove anos mais tarde–, aquela foi a primeira ocasião em que o River continuou de pé depois de encontrar um brasileiro na principal competição sul-americana. No século passado, cruzar o caminho de um time do Brasil sempre significou eliminação para a equipe argentina.
O primeiro embate já foi uma final, a de 1976, contra o Cruzeiro. Após triunfos dos donos da casa em Belo Horizonte (4 a 1) e em Buenos Aires (2 a 1), um jogo-desempate foi disputado em Santiago, e os mineiros levaram a melhor por 3 a 2.
Nos duelos subsequentes, o River não foi eliminado exatamente em um confronto direto com algum brasileiro. Naquele momento, cada semifinal era disputada com três times, em um sistema de turno e returno de seis jogos.
Em 1978, o time portenho ganhou em casa do Atlético-MG e perdeu fora, e quem passou foi o arquirrival Boca Juniors. Em 1982, foi derrotado nas duas partidas contra o Flamengo, que viu o Peñarol avançar à decisão.
Depois disso, o River e seu Monumental de Núñez se tornaram parada no trajeto à taça para Vasco, nas semifinais de 1998, e Palmeiras, nas semifinais de 1999. Em 2002, os chamados “Millonarios” caíram nas oitavas de final diante do Grêmio.
Era esse o retrospecto contra os brasileiros até o encontro com o Corinthians, em 2003. Entre o histórico de fracassos do clube argentino contra adversários do Brasil e o histórico de fracassos do clube paulista na Libertadores, quem ficou de pé, naquele dia de São Nunca, foi o River Plate.
Depois disso, o time ainda sucumbiu diante de um brasileiro mais uma vez, contra o São Paulo, nas semifinais de 2005. Aí, tornou-se imbatível contra aqueles que antes lhe causavam tanta dificuldade.
Em 2006, voltou a castigar o Corinthians em São Paulo. De novo, a tragédia rondou o duelo, com uma massa de alvinegros tentando invadir o gramado do Pacaembu para agredir os próprios jogadores.
Após três campanhas fracas e anos distante da Libertadores, o River retornou à disputa em 2015 e encontrou o Cruzeiro, seu algoz na final de 1976. Perdeu em casa por 1 a 0, nas quartas de final, mas fez 3 a 0 em Belo Horizonte para avançar rumo ao título, já sob comando do técnico atual, Marcelo Gallardo.
A fórmula foi repetida no caminho para a taça em 2018. Derrotado por 1 a 0 em casa, nas semifinais, a equipe portenha conseguiu virar o confronto no Brasil. O eliminado da vez foi o Grêmio, superado por 2 a 1 em Porto Alegre.
Neste ano, o River voltou a castigar o Cruzeiro, que caiu nos pênaltis, em Belo Horizonte, em um confronto de oitavas de final que teve dois empates por 0 a 0. Na decisão deste sábado (23), será hora de rever o Flamengo, adversário que já enfrentou em duas edições da competição.
Em 1982, em uma das chaves semifinais, o Flamengo demonstrou superioridade. Em Buenos Aires, Lico, Zico e Nunes definiram a vitória rubro-negra por 3 a 0. No Rio de Janeiro, os campeões de 1981 fizeram 4 a 2, gols de Tita, Júnior, Zico e Ronaldo Marques, resultado que não lhes foi suficiente -quem avançou foi o Peñarol.
Os times voltaram a se enfrentar no ano passado, na fase de grupos, com dois empates. No Rio, o placar apontou 2 a 2, com Henrique Dourado e Everton Dourado marcando para a equipe rubro-negra e Rodrigo Mora e Mayada impedindo a derrota dos visitantes. As duas equipes avançaram ao mata-mata.
Agora, o duelo será bem mais importante.

TODAS AS PARTIDAS DO RIVER PLATE CONTRA BRASILEIROS NA COPA LIBERTADORES:
9 vitórias do River
8 empates
14 vitórias dos brasileiros
35 gols do River
50 gols dos brasileiros

1976
Final
Cruzeiro 4 x 1 River Plate
River Plate 2 x 1 Cruzeiro
Cruzeiro 3 x 2 River Plate
(Cruzeiro foi campeão)

1978
Semifinal (com três times)
River Plate 1 x 0 Atlético-MG
Atlético-MG 1 x 0 River Plate
(Boca Juniors avançou)

1982
Semifinal (com três times)
River Plate 0 x 3 Flamengo
Flamengo 4 x 2 River Plate
(Peñarol avançou)

1998
Semifinal
Vasco 1 x 0 River Plate
River Plate 1 x 1 Vasco
(Vasco avançou)

1999
Semifinal
River Plate 1 x 0 Palmeiras
Palmeiras 3 x 0 River Plate
(Palmeiras avançou)

2002
Oitavas de final
River Plate 1 x 2 Grêmio
Grêmio 4 x 0 River Plate
(Grêmio avançou)

2003
Oitavas de final
River Plate 2 x 1 Corinthians
Corinthians 1 x 2 River Plate
(River Plate avançou)

2005
Semifinal
São Paulo 2 x 0 River Plate
River Plate 2 x 3 São Paulo
(São Paulo avançou)

2006
Oitavas de final
River Plate 3 x 2 Corinthians
Corinthians 1 x 3 River Plate
(River Plate avançou)

2015
Quartas de final
River Plate 0 x 1 Cruzeiro
Cruzeiro 0 x 3 River Plate
(River Plate avançou)

2016
Fase de grupos
River Plate 1 x 1 São Paulo
São Paulo 2 x 1 River Plate
(River Plate e São Paulo avançaram)

2018
Fase de grupos
Flamengo 2 x 2 River Plate
River Plate 0 x 0 Flamengo
(River Plate e Flamengo avançaram)

Semifinal
River Plate 0 x 1 Grêmio
Grêmio 1 x 2 River Plate
(River Plate avançou)

2019
Fase de grupos
Internacional 2 x 2 River Plate
River Plate 2 x 2 Internacional
(Internacional e River Plate avançaram)

Oitavas de final
River Plate 0 x 0 Cruzeiro
Cruzeiro (2) 0 x 0 (4) River Plate
(River Plate avançou)

Final
Flamengo x River Plate

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