sexta-feira, novembro 8, 2024
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Riqueza e Pobreza

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A concepção da riqueza e da pobreza entre o Antigo e o Novo Testamento é divergente, quase oposta: a teologia veterotestamentária considera a prosperidade uma bênção divina e realça a riqueza das personagens bíblicas: Abraão, Isac, Jacó, Jó, Davi, Josafá, Ezequias. Nos Evangelhos, ao invés, a riqueza é um claro obstáculo para a salvação: “Quem não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo”. Representam um perigo: “Quão difícil é para os que têm riquezas entrar no Reino de Deus!diz Jesus.

A riqueza em si não é má; sua posse, porém, leva a desejos insensatos: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Palavras, que surpreendem os discípulos, que os levam a refletir, de modo sério e comprometido. O Divino Mestre pretendia curá-los da doença de acumular e da arrogância, em pensar que tudo pode ser conquistado, na base dos próprios esforços. Diz Paulo aos Efésios: “A cobiça é uma idolatria”. Lucas sugere um remédio: “Fazei-vos amigos, pela riqueza injusta, pois, quando essa acabar, eles vos acolherão nas moradas eternas”.

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O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males –diz Paulo a Timoteo– Os que querem ser ricos caem na tentação e na cilada de muitos desejos nocivos, que os mergulham na ruína e perdição”. Santo Ambrósio, bispo de Milão, comenta: “Quanto mais nos amarramos às riquezas, tanto mais colocamos em perigo a salvação da nossa alma”. Escreveu Georges Bernanos no “O Diário de um Pároco de Aldeia”: “Sobre um montão de moedas de ouro, nosso Senhor escreveu com sua mão: Perigo de Morte!”.

Nos Evangelhos, os ricos são sempre personagens negativas: apenas, Zaqueu se redime, por partilhar suas riquezas. Esta visão nova e exigente de Jesus é quase desumana: “Ai de vós, os ricos!”: tem o tom de condenação sem apelo. Para adquirir a “pérola preciosa”, “o tesouro único”, que é Jesus, é urgente vender “panta” (tudo): “Nós vendemos tudo e te seguimos” – disse Pedro a Jesus. “Não podeis servir a dois senhores”, e o dinheiro é um senhor prepotente: sufoca em nós as sementes do Evangelho; faz esquecer que Deus oferece o cêntuplo a quem se faz pobre e partilha por amor a Ele; bloqueia, no caminho da santidade, os corações mais bem dispostos e generosos.

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Comenta Santo Ambrósio: “Os ricos, por estas palavras, não devem desanimar –como se fossem já condenados–; nem devem abandonar suas riquezas, mas, se esforçarem em usá-las bem, para conquistar a vida eterna”. A história da Igreja está cheia de personagens, como Francisco de Assis, pe Ibiapina, Madre Teresa de Calcutá, Charles de Foucauld, Marcelo Cândia, Irmã Dulce dos Pobres, que, por meio das riquezas, chegaram à maior santidade. A pobreza, que Jesus pede aos seus, não é um vago ou romântico pauperismo –próprio das ideologias de direita ou de esquerda–, mas “por causa dEle e de seu Evangelho”: “Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Grande é vossa recompensa nos céus”.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)

 

Foto do destaque: TC Digital/Arquivo

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