PAULA SPERB
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Uma menina de cabelo partido ao meio imitando a Mona Lisa, um garoto com a faixa escondendo a orelha cortada como Van Gogh e uma aluna de sobrancelha pintada para ficar como Frida Kahlo.
Esses são alguns dos figurinos adotados por estudantes de 7 a 10 anos de uma escola pública de Porto Alegre para uma atividade que os transformou em pinturas famosas.
“É uma estratégia de se aproximar da arte de uma maneira vivida. Eles tiveram contato com obras no museu, mas é diferente. Depois que vão se apropriando das obras, é muito interessante observar como conseguem fazer relações com o universo deles “, explica Mariah Pinheiro, 27, arte educadora formada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).
Ela é professora do projeto Iberê nas Escolas, da Fundação Iberê, que desde junho leva ensino integral com atividades no turno inverso da escola, cinco dias por semana, em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre.

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Foto: Reprodução

Seis escolas participam da iniciativa, que beneficia 250 alunos. A proposta é usar diversas linguagens artísticas para aprimorar letramento, cálculo, iniciação científica, educação física e artes.
“A ideia do projeto é contemplar a grade curricular através da ampliação do repertório cultural das crianças. Em uma escola, o trabalho girou em torno da produção de roupas com materiais recicláveis para um desfile de moda. Em outra, o foco foi a oratória com sarau de poemas e danças. Também teve a criação de uma biblioteca. O leque de possibilidades é amplo”, diz Robson Bento Outeiro, superintendente-executivo da Fundação Iberê.
Os pequenos estudantes transformados em ícones das artes visuais frequentam a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Leocádia Prestes, no bairro Cohab, região vulnerável da capital gaúcha.
“A ideia surgiu de quando vi que eles estranhavam algumas representações de pintura. Como mostrava não apenas pinturas realistas, eles achavam algumas figuras humanas esquisitas. Visitamos a exposição ‘Selfie: Iberê em modo retrato’ e usei o aplicativo Google Arts and Culture, que possibilita uma interação com uma selfie, procurando uma imagem parecida. Mas nem sempre a semelhança era precisa”, explica Pinheiro.
A arte educadora, então, decidiu fazer uma curadoria de obras com os alunos para realizar a transformação deles em pinturas. “Foram diversas obras, muitas renomadas, mas não só. Procurei pessoas negras, mulheres não sexualizadas. Busquei fugir dos estereótipos. Tem até obra do Sudão”, diz.
Com as imagens definidas, Pinheiro levou chapéus, roupas e acessórios para a sala de aula. Os alunos não sabiam quem os colegas estariam representando e as fotografias foram feitas individualmente. “A interpretação foi muito legal. Já tinha percebido que eles gostavam de interpretar”, conta.
Depois, a professora editou as fotografias no computador. Com as imagens tratadas, criou um jogo da memória com pares formados pela pintura original e a representação. O primeiro contato dos alunos com o jogo da memória causou surpresa.
“Muitos não se reconheciam depois da foto ser editada, ficaram impressionados. Cada um sabe o título e autor de sua obra”, explica. Ela ainda montou um vídeo, exibido em um evento com as demais escolas do programa em um cinema da cidade, em novembro.
Para o superintendente, a ação colabora com o futuro dos jovens que participaram da atividade. “Quando se amplia o repertório cultural, se amplia o olhar para além da sala de aula. Não é só cidadania, você sensibiliza”, diz Outeiro.

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