domingo, novembro 16, 2025
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Profissionais observam melhora considerável no aproveitamento de estudantes após restrição ao celular

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Claudio Caterinque

Repórter

Realizada recentemente, uma pesquisa da Frente Parlamentar Mista da Educação, do Congresso Nacional, apontou que a restrição ao uso do telefone celular nas escolas levou 80% dos alunos a prestarem mais atenção nas aulas. A pesquisa ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores em todo o País. Em São Mateus e Conceição da Barra, apesar de não haver um estudo específico quantitativo e qualitativo, profissionais da educação ouvidos pela Rede TC de Comunicações observam que realmente houve uma melhora considerável no aproveitamento dos estudantes.

De acordo com a secretária de Educação de São Mateus, Edna Rossim, nos anos iniciais do ensino fundamental, a utilização de celulares pelos estudantes não é uma prática comum considerando a faixa etária e as características das atividades pedagógicas. “Já no ensino fundamental anos finais, diversas ações vêm sendo implementadas com o objetivo de reduzir o uso indevido dos aparelhos e promover uma relação mais consciente e educativa com a tecnologia”, reforça.

Estudantes da rede municipal em São Mateus aproveitam os momentos de aulas ao ar livre, que foram intensificados com a restrição ao uso do telefone celular na escola.
Foto: Divulgação

Diretor da Escola Estadual Professor Joaquim Fonseca, de Conceição da Barra, Rafael Santana Murta destaca que já consegue observar um avanço significativo com a nova legislação. “A gente observa que os estudantes estão ficando mais focados, conseguem se apropriar mais do que está sendo ensinado. Fiz uma consulta breve com os professores e eles percebem, por exemplo, na hora do recreio, que os estudantes não estão mais ficando no canto, porque era muito visível isso. Terminavam de almoçar, procuravam algum canto. Este ano não percebe mais isso e a gente vê que os estudantes acabam ficando em grupo porque aproveitam mais o momento para conversar” – detalha.

Rafael Santana Murta é diretor da Escola Estadual Professor Joaquim Fonseca, em Conceição da Barra.
Foto: Divulgação

A pesquisa foi feita em parceria com o Equidade.info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education. Segundo o presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, deputado federal Rafael Brito, a medida protege os estudantes do uso indiscriminado do celular em sala de aula e garante “um ambiente mais saudável e focado no aprendizado”.

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Secretária destaca ações que visam relação mais consciente com a tecnologia

 

Para além de restringir o uso do telefone celular em ambiente escolar, a secretária de Educação de São Mateus, Edna Rossim, destaca as ações que foram adotadas na rede municipal de ensino que visam uma relação mais consciente dos estudantes com a tecnologia. Para a Rede TC, ela afirma que o Regimento Comum da Rede Municipal de Ensino de São Mateus já estabelecia, em suas normas internas, a proibição do uso de aparelhos celulares nas dependências escolares, “salvo em situações pedagógicas previamente autorizadas”.

Edna Rossim é secretária de Educação em São Mateus.
Foto: Claudio Caterinque/TC Digital

No entanto, ela concorda que a diretriz municipal foi reforçada e atualizada pela Lei Federal 15.100/2025, que regulamentou sobre o uso de dispositivos eletrônicos nas escolas, o que, para a secretária, acaba propiciando “um ambiente escolar mais saudável, focado no aprendizado e nas relações interpessoais”.

Edna Rossim afirma que as aulas de robótica, implantadas no Município por meio do laboratório móvel, transformou a dinâmica em sala de aula, tornando o processo de aprendizagem mais interessante e participativo. Segundo ela, já é possível observar engajamento ativo e aprendizagem prática, com as aulas se tornando mais envolventes e colaborativas, despertando a curiosidade dos estudantes e reduzindo a busca por estímulos externos no celular.

“Os projetos exigem cooperação e troca de ideias, o que estimula a comunicação entre colegas e diminui o uso individual dos dispositivos. Incentiva o pensamento crítico e uso consciente da tecnologia” – reforça.

A secretária cita ainda outras medidas implantadas, como a ampliação das aulas de campo. “As visitas pedagógicas a locais estratégicos dentro e fora do município fortalecem a aprendizagem contextualizada e prática, oferecendo experiências reais que reduzem a necessidade do uso de celulares como forma de entretenimento ou distração”.

 

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Volta dos jogos de tabuleiro

 

A restrição ao uso do telefone celular na escola, inclusive nos intervalos de aula e recreio, também proporcionou o resgate de diversas atividades interativas, como os jogos de tabuleiro. A percepção é da secretária de Educação de São Mateus, Edna Rossim.

“A implementação de espaços com jogos de tabuleiro e atividades coletivas durante o recreio promove a socialização, estimula o raciocínio lógico e oferece alternativas ao uso dos aparelhos durante os intervalos. Essas estratégias têm contribuído significativamente para a redução do uso de celulares em sala de aula, alinhando-se às orientações legais e pedagógicas e fortalecendo a formação integral dos estudantes mateenses” – observa a secretária.

 

Em escola de tempo integral, desafio é maior, avalia diretor

 

A Escola Estadual Professor Joaquim Fonseca é de tempo integral. Por esse motivo, o diretor Rafael Santana Murta afirma que os desafios são maiores. Segundo o diretor, que é natural da Serra e tem familiares morando em Conceição da Barra, onde reside há pelo menos sete anos, as atividades propostas conseguem manter os estudantes longe do telefone celular por seis, até sete horas.

Ele frisa que aumentou a quantidade de alunos que demonstram interesse em atividades ao ar livre. “Aqui na escola tem totó, daí eles jogam, utilizam a quadra na hora do almoço. Então, percebo que também houve uma interação muito maior. A escola acabou que está se tornando um lugar em que o aluno consegue ficar horas livre do celular porque sei que em casa ainda é um desafio para a família conseguir fazer eles não ficarem no celular até tarde da noite, por exemplo”.

Segundo ele, isso só é possível devido ao respaldo da legislação. “E também é uma questão pedagógica. Como diretor, dialoguei muito com os líderes de turma, com os próprios estudantes em sala de aula porque o foco da lei não é punir, é fazer eles entenderem que, pedagogicamente, é importante o celular não estar presente na sala”.

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O diretor afirma que já é possível perceber também maior concentração dos alunos em sala de aula e que o aparelho só é usado como parte da estratégia pedagógica, previamente agendado com a direção e equipe escolar. “A gente trabalha muito com as estratégias de planejamentos interativos e o estudante, por exemplo, em algumas aulas, a professora faz através de plataformas online. Então, o estudante consegue, em alguns momentos, sob autorização, fazer o uso da tecnologia em sala de aula”.

Tecnologia na palma da mão

 

E essa tecnologia, em algumas unidades de ensino, não dependem do celular do aluno. Rafael lembra que o Governo do Estado tem equipado as escolas com várias ferramentas tecnológicas, inclusive com o uso de tablets. “Desde 2022, o Governo do Estado tem equipado as escolas com os laboratórios móveis, por exemplo, o Chromebook que os estudantes recebem em forma de empréstimo para utilizarem no decorrer do ano”.

Desta forma, o diretor entende que é possível aliar o uso da tecnologia com o ensino, deixando claro para o estudante que ela não tem a ver com somente usar rede social. “Tem a ver com você saber navegar mesmo, encontrar, filtrar o conhecimento. Isso traduz também em melhor rendimento de sala de aula”.

 

Efeitos positivos poderão ser observados também no Enem

 

Além de mostrar uma evolução no aproveitamento do estudante em sala de aula, essa virada de chave, aliando a tecnologia com o aprendizado, para o diretor Rafael Santana, pode refletir positivamente em avaliações de desempenho, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a ser realizado em novembro.

“Não só o estudante, qualquer um de nós, se quiser se concentrar em algo e o celular está do seu lado com a notificação, depois de uma mensagem, ninguém, ninguém [repete o diretor, com ênfase], não é só adolescente, adulto também, não consegue se concentrar. Isso é um fato porque o celular acaba que absorve a nossa concentração toda. Tanto é verdade que as recomendações de alguns pediatras é que na primeira infância não dê acesso a telas para crianças justamente para não criar essa dependência logo no início da vida”, complementa o educador.

 

Foto do destaque: Divulgação

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